Em live realizada nesta segunda (13/04) no canal 247, no Youtube, o jornalista Breno Altman, defende o aumento da repressão estatal via uso da violência policial para obrigar as pessoas a cumprirem a quarentena. A opinião foi exposta quando o apresentador, Leonardo Attuch, informava os dados atualizados sobre os infectados e de mortos pela Covid 19 no país, discutiam os números e as medidas de isolamento social.
Altman afirma: “na verdade, São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro, Fortaleza, deveriam estar adotando um sistema de radicalização da quarentena, ou seja, deveriam passar da quarentena ao confinamento, tornar a quarentena compulsória, como é o caso de Milão, como foi o caso de Wuhan na China, ou seja, medidas drásticas de utilização inclusive da força policial pra impedir as pessoas de saírem da quarentena”;
“é fundamental recuperar o rigor da quarentena, ainda que pra isso seja necessário o estabelecimento do que, no inglês, se chama de Lockdown, ou seja, um confinamento obrigatório.”
A proposição do jornalista, parece estar deslocada no espaço e no tempo, estando muito distante da realidade da maioria da população brasileira. Quanto à questão do chamado isolamento social a grande massa que habita as periferias está obrigada pelas questões objetivas de sobrevivência a trabalhar, a manter algum tipo de atividade econômica, para levar o sustento diário pra casa, autônomos, ambulantes, feirantes, prestadores de serviços informais, entregadores, incluindo muitas categorias de trabalhadores formalizados como carteiros, motoristas, atendentes de telemarketing, bancários, metroviários, agentes de saúde. Ou seja, toda essa massa de trabalhadores, está e continuará nas ruas obrigados pela falta de ações concretas por parte dos governos, estes sim culpados e responsáveis pela contaminação diária de milhares de trabalhadores. Sem contar que é também é obrigada pelos governos a fazer isso, como no caso dos saques do auxílio emergencial, onde as pessoas estão tendo que esperar horas em filas pra resolver o problema com o CPF e pra sacar nas agências bancárias.
É mais que óbvio que, para a grande maioria dos trabalhadores, aderir à campanha cínica criada pelos governos e tocada pela pequena burguesia do “fique em casa”, só seria possível se todas as condições fossem oferecidas a estes trabalhadores e suas famílias, como garantia de renda, de manutenção dos empregos, de alimentação, condições para realizar o isolamento dos contaminados, até da família, já que é comum moradias de apenas um cômodo, realização em massa de testes, garantia de atendimento médico etc. Sem isso, a proposta é cínica e inócua.
Porém, quando o jornalista apresenta a opção de uso da força policial, a proposta deixa de ser meramente cínica e passa a ter um caráter criminoso, pois pedir aumento da violência policial num país em que a população pobre sofre cotidianamente com assassinatos brutais pelas mãos das polícias, parece ser uma proposta para um verdadeiro genocídio. A solução apresentada pelo jornalista, não é exclusiva e é típica da esquerda pequeno burguesa que, dado o avanço da pandemia, está histérica e literalmente se escondendo debaixo da cama esperando o vírus ir embora, como por milagre. Mas, enquanto isso, suplica aos governos da extrema direita semi fascista que ataque com ainda mais violência a população que está tentando sobreviver à crise de saúde e à crise econômica.
É preciso, então, lembrar que o pedido de maior repressão envolve a organização estatal que por ano mata, em números oficiais, cerca de 10 mil pessoas, que promove dezenas de chacinas, como a de Paraisópolis que matou 10 jovens de uma só vez, polícia que mata pessoas de helicóptero como no Rio de Janeiro, mata jovens e crianças dentro de suas casas ou nos braços de seus pais, como a menina Ágatha, Kauê, Kauan, Jeniffer no Rio, sequestra e tortura pelas periferias do país.
Pouco antes ainda apurando o tom da repressão, Altman afirma:
“no futuro, na medida em que exista uma vacina contra o coronavírus, esse atestado de imunidade será o atestado da vacina, ou seja, aqueles que tiverem vacinados terão liberdade de circulação absoluta, aqueles que não tiverem vacinados, terão restrição à sua circulação”
É outra proposição que atinge em cheio a população pobre trabalhadora, pois pode não parecer para o nobre jornalista, mas ainda vivemos numa sociedade capitalista, controlada de forma cada vez mais dura, por uma burguesia imperialista detentora de gigantescos monopólios econômicos, o que inclui aí a indústria farmacêutica. Setor que congrega alguns poucos laboratórios com sede nas potências imperialistas (França, EUA, Alemanha principalmente) e que estão atuando diretamente para, não só criar mas, principalmente, controlar a produção e comercialização da vacina. Ainda que esta seja adquirida por governos, será, sem dúvidas a um alto custo, que será pago pelos impostos dos cidadãos, mas que no final das contas, faz com que a maioria da população pobre e que mais precisa, não receba esse artigo. Há inda outros aspectos objetivos, como a falta de unidades básicas de saúde, de profissionais, que impedem que esse público tenha acesso.
Daí, a grande proposta apresentada é restringir a circulação das pessoas que não tomarem a vacina. Ou seja, a população já brutalmente e constantemente explorada no trabalho, nas condições de vida etc, perde também o direito à circulação, por não receber um medicamento que não lhe será oferecido.
É importante destacar, que a proposta dessa esquerda pequeno burguesa é resumida na expressão, aumento da repressão estatal, dá ainda mais “munição” para os governos de verdadeiros fascistas, como Dória, Witzel, Zema, Rainho Jr, Ibaneis, Carlos Moisés, Mauro Mendes, entre outros e, do chefe deles Jair Bolsonaro, massacrem ainda mais os trabalhadores, como se fosse necessário. O cerceamento dos direitos democráticos em nome de um pretenso combate à disseminação do vírus é, ao mesmo tempo a panaceia que adormece a classe média e que serve de pretexto para ataques cada vez maiores aos trabalhadores, com medidas de cortes de salários, demissões em massa, venda de estatais.
Enfim, nas mãos dos governos da direita, a panaceia da quarentena não passa de um mero argumento para avançar a política neoliberal, enquanto movimentos sociais e entidades de organização e luta dos trabalhadores, como sindicatos, se escondem dentro de casa.
A esquerda, devido a sua falta de política para os trabalhadores, replica a política da direita que é propagandeada pela burguesia através de sua imprensa. A esquerda não deve pedir mais repressão e colocar a população em estado de sítio, pois isso irá favorecer a direita.
Nem a população e nem a burguesia irá sustentar por muito tempo a quarentena. Primeiro porque não tem condições de se manter em suas casas minúsculas, sem renda e obrigados pela burguesia a trabalhar, segundo porque não vão conseguir ver seus lucros caindo devido o retrocesso da economia. Diante disso, a população pobre e trabalhadora vai entrar em choque contra a quarentena e a direita, e essa política apresentada por Altman e defendida por toda esquerda pequeno-burguesa de maior repressão vai beneficiar a direita e não irá resolver nada o caos social oriundo da pandemia.