A esquerda alimenta a ilusão que o judiciário, mais especificamente o Supremo Tribunal Federal (STF), seria uma “instância” democrática e pretensamente neutra. Depois de acreditar que o STF pudesse ter evitado o impeachment e a prisão do ex-presidente Lula, agora a esquerda propagada a noção que o STF que sancionou o golpe e autorizou a prisão de Lula, daria os direitos políticos do ex-presidente, permitindo assim a sua candidatura em 2022.
Como já foi salientado em diversas oportunidades pelo DCO, a esquerda brasileira adota como princípio fundamental não idealismo como uma fonte ideológica em contraposição ao pragmatismo, mas o ilusionismo como perspectiva geral. Mesmo com todas provas e contraprovas revelando que as instituições judiciarias não somente apoiaram o golpe de 2016 e todas as ações antidemocráticas posteriores, mas referendou e foram peça chave para implementar o golpismo.
Antes mesmo da aprovação do impeachment da ex-presidenta Dilma pelo Congresso Nacional, as engrenagens fundamentais que possibilitaram o golpe de Estado e a derrubada do PT foram sendo implementadas. As articulações no parlamento para comprar deputados do Centrão, desidratando a base do governo petista, a ostensiva campanha da imprensa golpista contra Dilma, o PT e Lula, e processos judiciais contra dirigentes petistas ou apoiadores do governo preparam o cerco para o golpe.
A Operação Lava Jato foi sem dúvida um elemento decisivo no processo de golpe de Estado, inclusive conforme foi comprovado pelo Intercept com a participação do FBI norte americano, mas não podemos esquecer que o processo do Mensalão, com julgamento espetacular, foi feito anteriormente no STF.
A crise com a chamada segunda turma do STF em relação o envio dos arquivos da Lava Jato para a Procuradoria Geral da República, e os processos pedindo a suspensão do ex- juiz Sergio Moro no julgamento do caso Triplex, que condenou na primeira e segunda instância Lula são apresentados pela esquerda como indicações que ainda este ano, o STF anularia os processos condenatórios envolvendo Lula.
A questão é que a esquerda apresenta a condenação de Lula como se fosse apenas um problema jurídico, e que o STF poderia restabelecer os direitos de Lula, tão somente por uma medida de justiça. Caso fosse tão somente um problema de justiça, Lula nem sequer teria sido condenado nem preso, nem seus direitos cassados.
Não existe uma mudança na posição fundamental da burguesia, nem no golpismo. Restabelecer os direitos de Lula significaria um retrocesso no golpe, o que não parece indicadores disso, uma vez que mesmo com as escaramuças entre os poderes, e dos embates pontuais entre o STF e Bolsonaro, a retirada de Bolsonaro ou através do impeachment ou da cassação da chapa pelo TSE foi descartado, pelo menos neste momento.
A luta pelo restabelecimento dos direitos de Lula, bem como a anulação das suas condenações é uma pauta fundamental, mas para conseguir é preciso mobilizar nas ruas, e não depositar esperanças nem ilusões no judiciário golpista.