Em geral espera-se de uma pessoa de esquerda, ou melhor, minimamente progressista, a crença de que os assuntos que dizem respeito à chamada “segurança pública” são resultado em primeiro lugar da situação social do País. Não é o que acredita Marcelo Freixo, deputado federal pelo Psol.
Diante da execução a sangue frio do rapaz que sequestrou um ônibus na ponte Rio-Niterói nessa terça-feira, dia 20, Freixo teve como primeira preocupação elogiar e defender a atuação da polícia. Pelo Twitter, ele afirmou que “a polícia agiu de acordo com o que prevê a lei e de forma técnica. A legislação autoriza esse tipo de ação em situações críticas”.
Nada de considerações sociais, nada de “passar a mão em cabeça de bandido”, como diz a direita raivosa. A essência da declaração de Marcelo Freixo é o apoio do assassinato de mais um pobre e negro, nitidamente mais um cidadão esmagado pela situação de completo caos social em que se encontra o Rio de Janeiro e todo o País.
A declaração já seria absurda por si só para alguém que se diz minimamente defensor dos direitos democráticos do povo, nem vamos dizer socialista, que para o Psol, cada vez mais parece ser apenas uma palavra. Mas mesmo levando em consideração a declaração, Freixo está errado. No afã de elogiar a polícia, Freixo ignora que: 1) o sequestrador estava com uma arma de brinquedo; 2) Ele estava aberto às negociações com a polícia, inclusive liberando os reféns; 3) Ele foi alvejado no momento em que tudo indicava estar prestes a se entregar; 4) Ele foi alvejado com seis tiros pelas costas. Ou seja, por tudo isso, não vale sequer a declaração de que a atuação foi técnica.
Ainda mais grave, Freixo faz tal elogio da ação “técnica” da polícia do governador fascista do Rio, Wilson Witzel, que logo nos dias que antecederam o caso, era acusado de exterminar jovens inocentes nas favelas cariocas. Sobre a política fascista, anti-povo, genocida do governador, nenhuma única palavra do deputado do Psol. Além de chamar de “ação técnica” o extermínio a sangue frio e pelas costas de mais esse jovem pobre e negro, Marcelo Freixo “criticou” Witzel por sua comemoração logo após o episódio, ao descer do helicóptero na ponte. “Wilson Witzel acertou ao entrar em contato com a família de Willian. Porém sua comemoração, ao chegar no local do sequestro, não contribui em nada para melhorar a Segurança Pública.” Freixo tem interesse em “contribuir para a segurança pública” e Witzel também poderia ter contribuído, mas faz errado, segundo Freixo.
Tal colocação serve para entender o fundo do elogio à atuação da PM. Freixo está de olho numa coisa chamada prefeitura do Rio de Janeiro. Além do absurdo de querer “colocar Witzel na linha” criticando seu comportamento típico de um fascista, a posição de Freixo é nitidamente uma crítica de alguém que está buscando uma disputa eleitoral com a extrema-direita.
Por isso o deputado do Psol não denuncia a ação da polícia e não denuncia a política genocida de Witzel.
Está obvio que o episódio foi montado pela extrema-direita para criar um ambiente favorável à política de extermínio que Witzel vem implantando no Rio de Janeiro. É bom lembrar que o governador fascista anunciou logo no início de seu mandato que colocaria atiradores de elite contra a população. Aí está a sua política sendo colocada em prática. Por isso a comemoração, que faz parte da cena montada para justificar essa política. E Freixo participa como uma espécie de avalista desse espetáculo grotesco contra todo o povo.