As consequência das ditaduras na América perduram até hoje e refletem de maneira clara em alguns governos, como o do golpista Bolsonaro no Brasil, onde o saudosismo ao período militar é constante. Outro país que colhe os frutos da ditadura até hoje o Chile, onde, assim como aqui, não se aplicou as devidas punições aos militares envolvidos em torturas, assassinatos de ativistas e apoiadores da ditadura. Nesta última quarta-feira completou-se 46 anos do brutal golpe de Estado dado pelos militares no Chile e até hoje a maioria dos militares ainda estão impunes.
Pablo Sepúlveda Allende, neto de Salvador Allende, presidente legítimo derrubado pela ditadura sangrenta de Pinochet, deu uma entrevista ao sítio Página/12, na Argentina, onde explicita sua indignação com a naturalidade em que militares envolvidos em crimes na ditadura possuem cargos no Senado e como ministros de Piñeda, e mesmo os que foram presos recebem tratamento privilegiado em prisões igualmente privilegiadas. Allende conta que no Chile existe uma figura parecida com Bolsonaro, e que chegou a concorrer nas últimas eleições presidenciais, que é José Antonio Kast, advogado e político bastante influente.
Kast é líder do Partido Republicano e vem de uma família alemã, seu pai foi um oficial nazista de Hitler e esteve envolvido no assassinato e desaparecimento de dezenas de camponeses durante a ditadura de Pinochet. Pablo explica que durante o governo de seu avô, da União Popular, muitos dos camponeses puderam crescer e melhorar suas vidas devido a reforma agrária, contudo, no dia seguinte ao golpe, a família Kast entregou os líderes dos camponeses, que desapareceram para sempre.
Allende vive há 10 anos na Venezuela, país em que ele trabalha como médico em comunidades indígenas. Pablo sabe que a situação da crise na Venezuela é causada pelo imperialismo norte-americano, que teve envolvimento nas ditaduras da América. Ele continua explicando que os poucos militares que estão presos, ficam em Punta Peuco, um cárcere que é mais como uma hospedagem num hotel. Segundo ele, uma das promessas de Bachelet para a presidência era acabar com esse local, contudo, por falta de coragem política, acabou não o fazendo.
O quadro de impunidades é de estarrecer qualquer um que tenha consciência política e, mais ainda, quem teve sua família destruída pelos assassinos e torturadores da ditadura, como foi o caso de Allende e seu avô. As práticas de espionagem da ditadura chilena perduram até hoje por lá, segundo Pablo, há uma constante vigilância de dirigentes sociais e defensores dos direitos humanos. Não haverá justiça enquanto esses torturadores não receberem castigo do povo, respondendo aos seus crimes.