O sociólogo Aldo Fornazieri escreveu coluna para o site do GGN intitulada “A penúria das esquerdas”. Nela, o colunista procura apontar o erro do que ele chama de “estratégia da esquerda”. Segundo ele, “as esquerdas em geral e o PT em particular entraram numa defensiva política e estratégica no início de 2015 e de lá não conseguiram sair até agora.”
Para Fornazieri, essa situação seria a causa de um completo desnorteamento da esquerda, que não consegue – ou se recusa – a enfrentar o regime golpista: “os líderes das esquerdas parecem generais sem exércitos e os militantes parecem exércitos sem generais”, afirma. Nesse ponto, o articulista tem razão. A política defensiva da maior parte da esquerda se mistura com uma completa falta de orientação política para as bases e por que não dizer, para as massas.
Fornazieri ainda assinala, de maneira precisa, que “as esquerdas, em regra e com algumas exceções, só sabem fazer a luta institucional. No Congresso, se tornaram a ala esquerda do centrão, a cereja do bolo de Rodrigo Maia…. Enquanto as esquerdas são afáveis com o centrão e com Rodrigo Maia, estes auxiliam Bolsonaro e Paulo Guedes, principalmente nas pautas econômicas.” Ou seja, temos uma esquerda na defensiva, que não orienta os seus militantes no sentido de uma luta concreta e cuja única política tem sido a inócua e fracassada luta institucional. É a receita para a derrota.
Fornazieri deixa ainda mais clara a ilusão da esquerda pequeno-burguesa diante das instituições: “as esquerdas caíram numa armadilha bolsonarista. Na medida em que os bolsonaristas passaram a atacar instituições como o STF e o Congresso, as esquerdas passaram a defendê-las e santifica-las. Ocorre que essas instituições não são democráticas: agem de forma enviesada e parcial contra os pobres, contra os negros, contra as mulheres, contra os índios e contra outras minorias”. “Agir com normalidade é agir em cumplicidade com a destruição a que o Brasil está sendo submetido.”
Esse é um ponto importante na luta contra a extrema-direita, não só no Brasil como no mundo. Enquanto que a extrema-direita faz um discurso demagógico atacando o regime e suas instituições, que são cada vez mais podres diante da população, a esquerda aparece como uma defensora desse mesmo regime e, portanto, acaba sendo fiadora das instituições burguesas, ficando a reboque dos partidos tradicionais, cada vez mais desgastados, e deixando o papel de “críticos” (demagógicos) do regime para os fascistas.
Temos aí, três elementos que são a mistura para o fracasso: defensiva, falta de uma orientação para a mobilização e ilusões institucionais que poderíamos chamar de cretinismo parlamentar.
Apenas o ponto de partida de Aldo Fornazieri está errado ao explicar a origem disso tudo. Para o sociólogo, tudo isso tem origem em um esvaziamento das ruas: “a partir de 2015 as esquerdas perderam as ruas, algo que já vinha sendo sinalizado desde 2013, e até agora não conseguiram recuperá-las e nem ter uma presença significativa.”
Não! Esse não é um fato. Na realidade, a esquerda – não do ponto de vista das cúpulas confusas das organizações – conseguiu tomar a iniciativa na luta contra o golpe. Olhando em perspectiva, desde os atos a favor e contra o impeachment de Dilma Rousseff, a esquerda conseguiu reverter a balança para o seu lado. A direita tem cada vez mais dificuldade de colocar na rua os coxinhas, mesmo com todo o esforço das manifestações artificiais convocadas e financiadas pela burguesia.
As massas saíram nas ruas contra o golpe, viraram o jogo e agora estão nas ruas contra Bolsonaro. O que falta, e aí estamos de acordo com Fornazieri, não é o povo na rua, mas é uma orientação política correta para essas massas, que claramente estão dispostas não a fazer um jogo institucionais, mas a derrubar o governo e todo o regime golpista. Libertar Lula e derrubar Bolsonaro!