O dirigente da corrente Resistência do Psol, Valério Arcary, publicou texto no sítio Esquerda Online no qual procura explicar os motivos do que ele chama de fragmentação no movimento trotskista internacional. Esse fenômeno teria acontecido com o que ele denomina como sendo as seis principais organizações trotskistas do mundo, que segundo ele são: o PO argentino, o SWP inglês, o POI da França, a ISO norte-americana, o CWI inglês e o PSTU no Brasil. Em todas estas houve rachas, divisões e dispersão.
Em primeiro lugar, é preciso dizer que, para nós, cada uma dessas organizações que Arcary considera “trotskista” passam léguas de distância de serem partidos que levam minimamente adiante a política do revolucionário russo, Leon Trótski. Algumas delas, como é o caso do PSTU, não passam de um grupo seguidor de Nahuel Moreno, argentino que em nome do trotskismo levou adiante uma política oportunista bem ao estilo que se conhece do próprio PSTU. Mas esse não é o tema do artigo.
A questão é saber por que essas organizações estão em crise. Arcary procura uma explicação no desenvolvimento da situação política, diz ele: “evidentemente, estamos em uma situação internacional muito adversa para quem defende a revolução socialista mundial. Quando as perspectivas são desfavoráveis o desalento pode aumentar a amargura, a angústia favorece o desespero, e a desmoralização facilita o rancor. Todas estas organizações tinham sofrido, ideologicamente, porque desde a vitória no Vietnam em 1975, não ocorreu um triunfo revolucionário anticapitalista.” Não discordamos que o refluxo do movimento operário seja um fator de crise para organizações de esquerda, isso de um ponto de vista geral. No entanto, esse não parece ser a explicação atual.
Segundo o próprio Arcary essas organizações sobreviveram aos momentos mais difíceis desde que o refluxo se aprofundou. Por que então estão se desagregando agora? Arcary ignora justamente a política errada dessas organizações diante da situação política.
Antes, é preciso dizer que, embora a etapa de refluxo tenha durado de fato todo esse tempo, o desenvolvimento da luta de classes nos últimos anos, acelerada pela crise de 2008, permite dizer que não nos encontramos mais em tão profundo refluxo. Na realidade, os acontecimentos atuais mostram que o mundo todo volta a se movimentar, embora não seja possível dizer que ingressamos numa situação revolucionária.
Mas as organizações modelo de Valério Arcary estão em decomposição justamente no momento em que estamos saindo de décadas de refluxo. Para explicar isso, Arcary ignora o mais óbvio: a política desastrosa diante da situação política.
Na França, os ditos trotskistas não tiveram capacidade de acompanhar as enormes mobilizações dos Coletes Amarelos. Para dizer mais claramente, acabaram ficando contra a manifestação ou na melhor das hipóteses completamente à margem dela. Para um partido que tem pretensões revolucionárias, seria preciso se colocar como parte do movimento quando uma mobilização popular explode.
Outro caso exemplar é o do próprio Arcary no Brasil. Arcary era dirigente tradicional do PSTU. Quando o golpe de Estado organizado pela direita pró-imperialista foi colocado em marcha, o PSTU simplesmente se colocou a reboque da direita, a favor do golpe. Arcary, que durante a etapa inicial do processo estava no partido, acabou saindo junto com outros. Mas sem entrar em pormenors, fica fácil de notar que a crise no PSTU deve-se ao fato de que diante de uma situação política gravíssima, diante da necessidade de chamar o povo a lutar contra o golpe, o PSTU estabeleceu uma aliança formar com os golpistas.
Esse tem sido o padrão da atividade política dos ditos trotskistas. Alguns mais outros menos capituladores diante da direita, fato é que esses partidos, contrariando os ensinamentos de Leon Trótski, de Lênin e dos fundadores do marxismo, estão na contramão dos acontecimentos. A situação na América Latina é bem elucidativo. A esquerda, nesse caso não apenas a dita trotskista, não tem uma política para a situação, ora se integrando completamente ao regime, ora com uma política de colaboração com a direita, como foi o exemplo dado do caso do PSTU. Na Bolívia, o POR, este sim o mais importante grupo trotskista da América do Sul, acabou entrando em uma política como a do PSTU, “nem Evo nem Camacho”, demonstrando ser incapaz de ser uma organização para orientar o movimento de luta contra o golpe.
Assim, a fragmentação, diferente da preocupação de Arcary, é um ponto positivo para a organização da classe operária internacional. Para a criação de organizações revolucionárias, é preciso se livrar dessa política capituladora.