O senador Humberto Costa, em sua famosa entrevista para as páginas amarelas da revista direitista Veja, sintetizou a política de todo um setor da esquerda na época. Para Costa, seria preciso “virar a página do golpe” dado em Dilma Rousseff, quer dizer, se adaptar ao golpe de Estado. Agora, foi o novo presidente da CUT, Sérgio Nobre, que elevou esta política a um novo patamar. Em entrevista publicada no sítio da CUT, Nobre afirmou que “Temos que virar esta página“, referindo-se à Bolsonaro.
É curioso que Nobre tenha feito esta afirmação logo após o último Congresso da CUT. Afinal, por mais que seja um congresso profundamente burocratizado, foi aprovado neste CONCUT a luta pela derrubada de Bolsonaro, a denúncia da farsa das eleições do ano passado e a palavra de ordem de “Lula Livre”. Na entrevista de Nobre, fica claro que o atual presidente da CUT está defendendo a politica da ala direita do PT, que, ao contrário de mobilizar o povo para derrubar este governo direitista, busca se adaptar a Bolsonaro.
Além de defender uma política totalmente oposta ao que foi aprovado no CONCUT, o aspecto mais nefasto do “fica Bolsonaro” defendido por Nobre é que trata-se de um crime contra os trabalhadores. Afinal, a esquerda já fez recentemente a experiência de “virar a página”, quando Dilma foi rifada, e adotou-se a palavra de ordem de “Diretas Já”. Tomada esta decisão, toda a luta política travada pela esquerda nacional girou em torno de pautas parciais, tais como a “luta” contra a Reforma Trabalhista, da Previdência, etc.. Mesmo correndo o risco de ser repetitivo, é preciso reafirmar insistentemente que esta política se provou completamente falida, afinal, conduziu a inúmeras derrotas.
O mesmo Sérgio Nobre já havia entregado qual a sua política para a esquerda, quando disse a Lula que o ex-presidente deveria aguardar com firmeza, já que em 2022 ambos subiriam a rampa do planalto juntos. Além de ser um otimismo cretino, sem nenhuma razão de ser, contribui para manter a esquerda na paralisia, esperando que as instituições golpistas revertam a situação política. Na entrevista, Nobre aponta para os sindicatos qual seria, para ele, a principal mobilização para os dias de hoje. Ele propôs um ato em frente ao Ministério da Fazenda, para “pedir a imediata suspensão dessa política econômica”.
Quer dizer, já que Nobre não defende a mobilização pelo “Fora Bolsonaro” e nem mesmo o seu impeachment, o “Fora Bolsonaro” institucional, resta a ele a tarefa vergonhosa de ser uma espécie de conselheiro do governo, numa tentativa ingrata de escalar os seus ministros. É uma política que não apresenta nenhuma perspectiva, uma vez que até mesmo os grandes capitalistas, os generais e o PIG – Partido da Imprensa Golpista – têm dificuldades de colocar Bolsonaro na linha. A única possibilidade para a esquerda não é colocar Bolsonaro “na linha”, mas colocar ele e todo o seu governo para fora, através de uma ampla mobilização popular nas ruas.