O jornalista Breno Altman, em vídeo na TV 247 intitulado “Altman se diz contra o impeachment de Bolsonaro”, de 30 de julho levanta alguns argumentos contra a palavra de ordem de Fora Bolsonaro! Vejamos alguns de seus argumentos:
A primeira e principal alegação de Altman é a de que não existe correlação de forças para derrubar o governo, que o movimento está numa defensiva. Segundo ele, prova disso é que não se conseguiu um movimento que fosse capaz de barrar nem a reforma da Previdência, quanto menos derrubar o governo, portanto, “não é viável a bandeira da derrubada de Bolsonaro”.
Em primeiro lugar, sobre a correlação de forças é preciso dizer que a tarefa das lideranças da esquerda é levar ao povo a solução política para determinados problemas. É preciso ter um trabalho para que a população venha a aderir à política que está sendo proposta. Ou seja, mesmo diante de um situação que não seja totalmente favorável é preciso lançar uma campanha que funcione como uma espécie de pesquisa de opinião que vá mobilizando, agrupando forças e servindo como um termômetro para a situação e a ação política. Nenhuma campanha começa com o apoio total da população, mas a campanha contra o Bolsonaro já tem o apoio amplo da população.
O movimento pelo Fora Bolsonaro é muito volumoso. Esse movimento, na realidade vem desde o final das eleições fraudadas de 2018. Ainda durante a eleição, a campanha contra Bolsonaro era enorme. Ele só ganhou a eleição através de um esforço grande de unificação da burguesia para retirar Lula, que efetivamente é o político popular e quem ganharia a eleição. Só por esse fato já seria possível e necessário colocar em marcha uma campanha política pela derrubada do governo.
Mas a impopularidade de Bolsonaro não para por ai. O apoio minoritário na eleição fraudada piorou a partir da posse do governo. Esse pequeno apoio vem se deteriorando, as próprias pesquisas da burguesia não conseguem esconder essa impopularidade. Mas até aí alguém poderia dizer que tal perda de apoio não se traduziu em uma política ativa do povo, mas isto está muito longe de ser verdade. As manifestações explícitas contra o governo tomam corpo desde o início do ano e vêm se intensificando. São manifestações espontâneas nos mais diversos locais: shows, festivais, jogos de futebol etc. Mas também nos atos massivos organizados desde maio, a palavra de ordem de Fora Bolsonaro se alastra como rastilho de pólvora entre os manifestantes.
Nesse sentido, a correlação de forças, se não está completamente favorável, pende, nesse momento, para os movimentos de luta.
Breno Altman argumenta ainda que não existe mobilização e que portanto “estamos numa situação de resistência”. “As batalhas que hoje permitem algum grau de mobilização são defensivas”, continua ele. Ou seja, esse não seria o momento de lutar contra o governo, mas por reivindicações parciais, defensivas. Essa ideia, que tem sido manifestada por vários setores da esquerda pequeno-burguesa, é um entrave para o desenvolvimento de um movimento de luta, pois acaba sendo na realidade uma coleção de derrotas, pois descentraliza a luta em reivindicações parciais, até que o movimento caia definitivamente num refluxo político. É preciso, em contraposição a isso, ter uma política que guie o povo para uma determinada política que está relacionada à questão da luta pelo poder.
E assim, Breno Altman expressa mais uma ideia que consideramos equivocada: a de que seria preciso acumular forças de reivindicação parcial em reivindicação parcial até que se chega à reivindicação política. Esse raciocínio desconsidera que a população é consciente da importância do poder político. Os principais movimentos na história só foram efetivos quando levaram adiante determinadas reivindicações que diziam respeito à luta política. Um determinado problema econômico pode servir como um estopim, mas não será ele capaz de elevar a mobilização das massas até uma vitória política. Na época do for Collor, por exemplo, apenas para pegar um fato mais próximo de nós, as mobilizações contra o governo não foram precedidas por grandes manifestações de caráter parcial, o que colocou o povo na rua de maneira unificada foi a palavra de ordem de fora Collor.
É preciso levar em conta outro aspecto contraditório importante da atual situação política no Brasil. Diferente do que se pode imaginar, a defensiva política do movimento de massas se encontra nesse momento justamente nas questões econômicas e parciais. A crise econômica, o desemprego, demissões, baixos salários, a destruição das leis trabalhistas etc tornam a situação não propícia para a luta parcial. Nesse ponto, de fato, a população, os trabalhadores se encontram na defensiva, que pode, logicamente, ser quebrada através de uma mobilização. Essa situação torna muito mais propícia uma luta política, em torno de uma reivindicação geral, que coloque como central a derrubada do governo. Dito de outra forma, a mobilização através de uma palavra de ordem política será capaz de colocar em movimento os setores que ainda não saíram na rua de maneira organizada: as categorias operárias. As grandes manifestações de massas que aconteceram nos últimos meses contaram com a presença de importantes parcelas de trabalhadores, mas não como setores organizados, mas esse é um meio para a mobilização.
Por fim, Altman defende que o impeachment de Bolsonaro poderia ser favorável para a burguesia, que ganharia estabilidade no governo ao se ver livre do capitão indesejável, embora ele, corretamente, não considere que haja no momento uma política da direita para derruba-lo. Mas esse argumento não é fato: primeiro que justamente por estar unificada em torno de Bolsonaro a direita não quer sua derrubada pois sabe que isso geraria uma instabilidade; segundo que a queda do presidente, causada pela ação das massas, necessariamente resultaria numa desestabilização do regime. É preciso primeiro derrubar o governo mas é preciso também colocar para o movimento que se criou a perspectiva imediata da necessidade de lutar pela liberdade de Lula e por novas eleições.
A posição dos setores contrários ao fora Bolsonaro acaba os colocando numa política de fica Bolsonaro. É preciso questionar qual seria o interesse dessa política para os trabalhadores e as massas que a cada dia estão mais próximas de se ver diante de um governo cada vez mais ditatorial e cada vez mais anti-popular em suas medidas.