A direita cínica sempre acusa a esquerda de “aparelhar” o Estado, que é a maneira como a burguesia esbraveja quando vê organizações populares conseguindo alguma representação no poder público. Mas é a própria direita que aparelha os órgãos públicos para que estes representem tão somente os interesses do grande capital.
Em mais um golpe contra a população, Bolsonaro demite quatro dos sete representantes da Comissão da Verdade. O órgão foi criado no governo Dilma Rousseff para investigar os crimes e violações cometidas por agentes públicos entre 1946 e 1988, incluíndo, portanto, a famigerada ditadura militar (1964-1985).
As exonerações vieram logo após a Comissão da Verdade declarar seu repúdio à manifestação de Bolsonaro a respeito do assassinato, pela ditadura, de Fernando Santa Cruz, pai do presidente da OAB. No lugar dos representantes exonerados, o presidente fascista procura colocar seus aliados da extrema-direita, a exemplo do procurador Ailton Benedito, filiado ao PSL, que sempre se manifestou contrário à comissão. Para Benetido, a comissão foi uma tentativa de esquerdistas tentarem “propagandear sua inocência passada”.
O Ministério Público não aceitou a indicação de Benedito, mas isso não invalida o golpe de esvaziamento e aparelhamento deste órgão que, muito embora não tenha servido para punir os torturadores e mandatários da ditadura militar, trouxe novos fatos e ajudou a manter viva a memória sobre as atrocidades daquela época. Bolsonaro, que não apenas sempre elogiou a ditadura como gostaria que ela tivesse matado mais, quer, agora, abafar a busca da verdade e transformar a entidade numa comissão da mentira!