70 anos da Revolução Chinesa

A “ressignificação” do socialismo é o capitalismo

Em artigo, dirigente do PCdoB exalta as "conquistas do socialismo chinês"

“A China é um caldo de experimentação de uma nova engenharia econômico e social e, tendo em vista a prevalência do “Meta Modo de Produção”, também a mais avançada experiência humana em curso no mundo” (Portal Vermelho, 03/10). Se o professor Jabbour não se incomodar, gostaríamos de abrir esta pequena polêmica contrariando o autor do artigo, deixando aqui registrado que não pode ser considerada “a mais avançada experiência humana em curso no mundo” um modelo de desenvolvimento adotado por um país que submete sua própria classe operária e a força de trabalho de conjunto da nação à mais brutal e impiedosa exploração, muito próxima e semelhantes às formas de escravidão e semi-escravidão,, extinta oficialmente na legislação e na formalidade jurídica internacional, mas muito presente no mundo real em diversos países do globo, incluindo aí, obviamente, as fábricas e unidades de produção do “gigante asiático”, que comemora neste ano o septuagésimo aniversário de sua revolução, ocorrida em outubro de 1949, sob a liderança de Mao Tsé-Tung.

O escrito publicado no portal digital do PCdoB, partido do qual o autor é dirigente, integrando seu comitê central, tenta dar um “ressignificado” ao socialismo, a partir da experiência chinesa em curso. O esforço do acadêmico da UERJ é todo no sentido de alçar e projetar a China como uma espécie de novo “farol da humanidade”. O esforço, no entanto, não parece ter logrado muito êxito, pois ao fim e ao cabo, a exemplo das aventuras empreendidas por outros docentes doutores universitários na tentativa de refutar a essência do marxismo (luta de classes, necessidade de supressão da propriedade privada, ditadura do proletariado, comunismo), as linhas traçadas pelo professor Elias Jabbour não respondem às questões mais candentes e palpitantes da época atual: a luta para colocar fim ao regime que há mais de dois séculos representa uma ameaça a toda a humanidade; a luta pela destruição do sistema que se organiza ao redor do lucro e da exploração dos povos de todo o mundo em benefício de uma ínfima minoria de usurpadores do resultado do trabalho alheio.

Sem que seja necessário avançar além do primeiro parágrafo, o dirigente do PCdoB nos brinda com essa pérola: “particularmente creio que o desenvolvimento recente chinês ocorre e lança o desafio teórico mais importante dos nossos tempos: a ressignificação do socialismo e do marxismo à luz de um mundo ainda marcado pela: 1) emergência de novos paradigmas tecnológicos; 2) a financeirização como dinâmica dominante de acumulação; 3) as modernas formas de dominação imperialista, sob a forma de “guerras híbridas”, “lawfare” (Idem, 03/10). Portanto, na concepção do professor Jabbour, o “desafio teórico mais importante dos nossos tempos” seria dar um novo significado (ressignificação) ao socialismo e ao marxismo. Seria mesmo o grande desafio dos dias atuais encontrar um “novo significado” para o marxismo e o socialismo? Cremos que o mais recomendável, para os dias atuais e o presente momento (sem perda de tempo) a assimilação (sem trapaças e outras manobras conceituais) da essência do marxismo, sem amputação, sem remendos, sem a desonestidade “intelectual” que tomou conta dos frequentadores dos bancos e das bancas examinadoras das teses universitárias que, no fundo, a bem da verdade, não servem para nada, a não ser lançar uma nuvem de prostração e desânimo sob as cabeças daqueles que mantém acesa a chama da revolução e da luta contra o capitalismo.

Ainda de acordo com  as linhas escritas pelo senhor Jabbour, onde assinala que a época atual também está marcada pela “financeirização como dinâmica dominante de acumulação”, temos a dizer ao dirigente do PCdoB que um certo revolucionário e teórico do fenômeno do imperialismo, que produziu o estudo mais completo, brilhante e até hoje insuperável sobre a fase superior do capitalismo (capital financeiro ou financeirização do capital, tanto faz), que atendia pelo nome de Lênin, já antecipara, há mais de cem anos, isso que hoje aparece como um fenômeno de ‘tipo novo”, da época atual, para os teóricos da “ressignificação” do século XXI. Indo um pouco mais adiante no artigo, o professor da UERJ identifica nas “guerras híbridas e no lawfare” “formas modernas de dominação imperialista”. O que impressiona é que os neologismos criados pelos opressores capitalistas para manter subjugados e sob o signo da dominação toda a humanidade, passam a fazer parte do vocabulário dos “teóricos modernos” do socialismo do século XXI. As formas modernas de dominação imperialista, travestidas de uma nova roupagem (guerras híbridas, lawfare, revoluções coloridas) nada mais são do que as velhas formas de dominação do capital, que atravessa neste momento a sua maior e mais espetacular crise, incomparavelmente superior a todas as anteriores vivenciadas pelo capitalismo.

“Quebrar o monopólio exercido pelos países capitalistas desenvolvidos do aparato científico e tecnológico é a principal condição ao sucesso de qualquer alternativa ao capitalismo no mundo. O contrário é a proscrição das próprias experiências”. Não, senhor Jabbour. A principal condição ao sucesso de qualquer alternativa ao capitalismo no mundo não é e não poder ser a ‘quebra do monopólio exercido pelos países capitalistas”. Advogar esta alternativa como forma de enfrentamento à dominação dos países capitalistas desenvolvidos (países imperialistas) é não só inútil como se coloca como uma competição com estes mesmos países pela posse dos mercados, quando a questão que está colocada para a etapa atual, de absoluta decadência do capitalismo, é a sua eliminação, a sua destruição pura e simples, como medida de preservação da humanidade e do planeta.

O modelo chinês, portanto, não pode ser o referencial nem para qualquer ideia de socialismo e menos ainda para funcionar como guia para a luta contra o capitalismo monopolista-imperialista, fase em que o capital assumiu sua fisionomia mais parasitária e improdutiva, marcada pela absoluta incapacidade de colocar o progresso material alcançado pelo desenvolvimento das forças produtivas a serviço da humanidade.

 

 

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