Dando continuidade à política adotada nas eleições, em que a esquerda pequeno-burguesa criou uma falsa dicotomia entre “civilização” e a “barbárie”, um movimento em torno de uma “Frente Democrática” está aparecendo.
Segundo este grupo, liderado pelo PCdoB e a ala direita do PT, a esquerda deveria criar uma frente ampla com partidos que apoiaram o impeachment, mas que seria democráticos (civilização), como o PDT, o PSB e até o PSDB, contra a “barbárie”, representada por Jair Bolsonaro. Desta forma, parte da esquerda procura esquecer a luta contra os golpe e se aliar com grupos golpistas, que são os principais responsáveis pela ascensão de Bolsonaro ao poder.
No caso, o PCdoB de Manuel D’Ávila, Flávio Dino e Orlando Silva, estão encabeçando uma aliança com o PDT e PSB, dois partidos que apoiaram um impeachment, para levar adiante uma política “democrática” e parlamentar contra Bolsonaro. A aliança, como eles propõe, seria liderada pelo próprio Ciro Gomes, com a tentativa de expulsar até mesmo a ala direita do PT (Tarso Genro, Aloizio Mercadante, Fernando Haddad, Jacques Wagner, etc.) que está se curvando de maneira vergonhosa aos interesses destes partidos.
Segundo eles, o PT tem que parar de buscar hegemonia. O que revela claramente o caráter capitulador da frente. O PT, o único dentre estes partidos que tem uma influência na classe operária, deveria ficar de fora do bloco, ou pelo menos adotar um papel secundário.
A idéia da ala direita do PT seria de transformar Fernando Haddad no Ciro Gomes, um político do golpe, capaz de unificar golpistas e não-golpistas em torno de uma política para “virar a página do golpe”.
O bloco dos três abutres
Porém o bloco dos três abutres (PDT, PSB e PCdoB) já iniciaram reuniões onde o PT não foi convidado. O líder do PDT, André Figueiredo, anunciou que a idéia seria de construir uma “oposição propositiva” sem obstruir o Governo Bolsonaro. Isto é, em outros termos, a idéia seria não a de impedir Bolsonaro, que é ilegítimo, de governar, mas propor pautas para “melhorar” seu governo, que indica que será um dos mais agressivos contra a população.
Nada disso é novo para o bando dos três. Durante todo esse tempo, com Ciro Gomes e Manuela D’Ávila, procuraram estabelecer uma política de acabar com o PT, ganhando parte de seus restos. Uma sabotagem típica do “amigo da onça”.
O deputado petista, Paulo Pimenta (RS), denunciou que isso seria uma forma de oposição consentida, tradicionais das ditaduras, que colocam “oposições” de faixada para dar um ar democrático a um regime fraudulento. Percebe-se então oposições contraditórias dentro do PT, já que um setor faz de tudo para entrar na aliança abutre, enquanto outros têm uma posição mais crítica, como é o caso de Pimenta que apoiou e apoia a luta contra o golpe.
Ao mesmo tempo, o PSOL, que também ficou fora do “bloco dos três” apoia à tática de “Frente ampla” contra Bolsonaro. O presidente do partido, Juliano Medeiros, disse que estaria disposto a compor um bloco com elementos que divergem ideologicamente (a direita) para “defender direitos”. Uma política absurda de se juntar com os carrascos do povo contra um determinado carrasco específico.
Inclusive, o PSOL mencionou partidos como o Partido Verde, a Rede e o PSDB com setores de possível aliança. Todos golpistas.
Percebe-se então toda uma movimentação da esquerda para uma capitulação com os golpistas. Uma política desmoralizante, apoiada pelos setores mais pequeno-burgueses e direitistas da esquerda, e que prejudica a luta contra o golpe de uma forma inigualável até agora, pois parte dos golpistas passam a ser vistos como “aliados”.
Uma política fadada ao fracasso
Porém, ao contrário do que acredita a esquerda pequeno-burguesa, uma “frente ampla” com os setores democráticos da burguesia golpista não combaterá Bolsonaro. Primeiro pelo fato de que a frente é um pacto estabelecido entre seus componentes. E setores que quiserem realmente lutar contra o golpe não poderão por conta da aliança estabelecida com setores extremamente reacionários.
Como já foi a dito, o objetivo desta “frente ampla” é de formar uma “oposição” parlamentar, totalmente oportunista, e visando as eleições de 2022. Uma política contrário à mobilização do povo para derrubar o governo ilegítimo, colocado por uma fraude eleitoral, de Jair Bolsonaro.
Criando empecilhos para a luta contra o golpe, também a esquerda ficará totalmente desorganizada e desorientada para combater o governo de Bolsonaro. Mas não só isso. A aliança com setores totalmente repudiados pela população irá desmoralizar totalmente estes partidos de esquerda, abrindo caminho para o fortalecimento da extrema-direita.
Por isso, a única frente única aceitável é uma frente única com as organizações de combate dos trabalhadores e das massas exploradas em torno de derrotar o golpe, denunciando a fraude nas eleições, exigindo a Liberdade do Lula e não deixando Bolsonaro assumir à presidência. Organizando os trabalhadores e a classe operária para repudiar totalmente este regime golpista, por meio de uma grande Greve Geral e diversos atos nacionais contra todos os golpistas.