Longe de qualquer reivindicação viva da população negra brasileira, o 20 de novembro, dia de luta do povo negro, teve, em São Paulo, uma manifestação do Brasil que pode resumir a política da frente fora Bolsonaro até o momento.
Outros estados também realizaram o ato, mas em São Paulo, até mesmo pelo tamanho do estado, tende a concentrar a última forma da política defendida pelas lideranças políticas, seja de esquerda ou de direita.
Quem controlou a atividade toda foi a Coalizão Negra por Direitos (ou por dinheiro, como dizem alguns); controlando as falas no carro de som, as inscrições, a rota da manifestação, os acordos com a Polícia Militar, etc.
Foi uma das manifestações mais despolitizadas de todos os tempos, especialmente do último período da luta contra o regime da direita, de Jair Bolsonaro e os fascistas que governam os estados.
Um determinado senhor chegou a afirmar que ficou horas em pé no ato (antes de sair em marcha, foram seis horas de atividades culturais) sem que ouvisse alguém falar da questão do desemprego e outros problemas que o povo negro sofre.
Nenhuma crítica ao PSDB, afora a intervenção do companheiro Juliano Lopes, foi feita. Ou seja, o partido que mais maltratou o povo negro brasileiro, o PSDB, quando no governo, não foi denunciado no dia 20 de novembro. O partido que joga água nos moradores de rua, à noite; que controla a PM, assassina do povo trabalhador; que promove remoções; que quer destruir a vida dos servidores públicos, enfim. Nada disso foi falado, e isso tem uma explicação muito nítida.
O negro está sendo utilizado para promover as maiores arbitrariedades políticas da direita. O fato de ser negro faz com que qualquer pessoa possa fazer e falar qualquer coisa, que é o que esquerda pequeno-burguesa defende. Por isso, na penúltima manifestação, o PSDB enviou um negro para falar em nome dos tucanos. Por isso as grandes empresas, grandes capitalistas, a imprensa golpista, estão, todos, defendendo a maior “inclusão” do negro.
Não se trata de uma luta conjunta do negro, mas de uma luta da classe média de um setor do movimento negro para conseguir um lugar ao sol, seja nas empresas capitalistas, seja no parlamento, por meio da verdadeira ditadura que é o processo eleitoral, seja na imprensa golpista.
O identitarismo dissolveu as reivindicações políticas tradicionais do movimento negro, como o fim da polícia, o fim da carestia, o fim da fome, o fim do sistema penal; moradia, emprego e salário para o povo. Tudo foi esquecido em nome da defesa genérica da cultura negra, também por isso as seis horas de atividades culturais no ato de 20 de novembro, que possuem o seu valor, em seus respectivos locais, mas em um ato político a política deveria ser o principal fator de mobilização.
O fora Bolsonaro foi uma tônica nos atos, o que não quer dizer muita coisa, já que até a direita golpista está no fora Bolsonaro (a secretária racial do PSDB também foi ao ato). Outros chegaram a falar que não basta o fora Bolsonaro, mas que é preciso eleger um presidente negro (não o Lula) o que, para o bom entendedor, poderia ser um Barack Obama, independente do programa de luta. Basta ser negro.
A PM, que escoltou o ato durante toda a duração do mesmo (coisa de oito horas) teve um dos dias mais tranquilos, por incrível que pareça. No carro de som, não houve intervenção contra essa máquina de matar o povo, tão somente o PCO, pelo Coletivo de Negros João Cândido, é quem denunciou a verdadeira responsável pelo genocídio do povo, antes mesmo da pandemia. Não foi dito quase nada sobre a repressão do Estado contra o negro.
Nada foi dito sobre a questão do Lula, e a necessidade de fazer amplas manifestações em defesa de sua candidatura, o que revela, na verdade, o caráter frente-amplista da atividade, e a mão da direita tradicional e da terceira via no controle das operações.
Zumbi e sua vida, escravo que organizou um exército para defesa e libertação do negro, no Quilombo dos Palmares, não tem absolutamente nada a ver com o que foi feito no dia 20 de novembro.
Suas lições foram as de organizar o povo para lutar, com todos os meios necessários, contra o racismo, contra a opressão do negro, o que, atualmente, significa a luta em conjunto com os operários, contra a burguesia e sua estado fascista, em defesa dos direitos democráticos e, por fim, pela revolução comunista.