Nesta terça-feira (14), o exército de Madagascar anunciou que assumiu o poder, dissolvendo as principais instituições governamentais após o parlamento votar pelo impeachment do presidente Andry Rajoelina. A ação militar ocorre após semanas de protestos antigoverno liderados por jovens apelidados pela imprensa imperialista de “Geração Z”, que ganharam força com o apoio de unidades do exército.
O anúncio foi feito pelo Coronel Michael Randrianirina, que declarou que os militares estavam assumindo o controle do país. “Tomamos o poder”, disse Randrianirina, confirmando a dissolução de todas as instituições, exceto a câmara baixa do parlamento. Essa declaração, segundo a Al Jazeera, veio quase imediatamente após a votação do parlamento para destituir Rajoelina, que fugiu do país. Segundo Fahmida Miller, repórter da Al Jazeera, “multidões do lado de fora aplaudiram, gritaram. Eles acolheram este anúncio”.
A crise que levou ao golpe militar teve início em 25 de setembro, com protestos inicialmente focados na falta de água e energia, problemas crônicos em uma das nações mais pobres do mundo, onde apenas um terço da população tem acesso à eletricidade. No entanto, os protestos rapidamente se expandiram para incluir queixas mais amplas sobre o custo de vida, a pobreza e acusações de corrupção governamental.
A situação atingiu um ponto de virada crucial quando uma unidade militar de elite, a CAPSAT, juntou-se aos manifestantes, recusando ordens para atirar. A Al Jazeera reportou que a adesão dos soldados desencadeou a fuga de Rajoelina, que alegou estar em um “local seguro” por medo de sua vida, denunciando o movimento militar como uma “clara tentativa de golpe de estado”. Fontes militares disseram à Reuters, e a informação foi veiculada pela Al Jazeera, que Rajoelina teria deixado o país em um avião do exército francês, embora o presidente francês, Emmanuel Macron, não tenha confirmado.
Em sua declaração, o Coronel Randrianirina delineou os planos dos militares para o futuro do país. Ele anunciou que um comitê liderado pelos militares governaria por um período de até dois anos, em conjunto com um governo de transição. Durante esse tempo, um referendo seria realizado para estabelecer uma nova constituição, seguido de eleições para reestabelecer as instituições.
Uma declaração dos líderes militares, citada pela Al Jazeera, listou as instituições que foram suspensas: “o Senado, o Tribunal Constitucional Superior, a Comissão Nacional Eleitoral Independente, o Tribunal Superior de Justiça e o Conselho Superior para a Defesa dos Direitos Humanos e do Estado de Direito”.
A Al Jazeera destacou a intensa agitação que marcou o dia, com Rajoelina tentando dissolver a câmara baixa do parlamento por decreto. No entanto, os legisladores seguiram em frente com a votação de impeachment, criando um impasse constitucional que os militares aproveitaram para declarar que estavam assumindo o controle.
Andry Rajoelina, que se posicionou como um reformista, já havia liderado um governo de transição em 2009, após um golpe que o levou ao poder. Ele retornou ao cargo em 2019 e garantiu um segundo mandato em 2023. No entanto, sua liderança foi marcada por uma crescente frustração popular.
Segundo a ONU, pelo menos 22 pessoas morreram nas últimas semanas e mais de 100 ficaram feridas desde o início das manifestações, embora o governo de Rajoelina tenha contestado esses números. A Al Jazeera mencionou que um soldado da CAPSAT morreu em confrontos com a gendarmaria antes da decisão generalizada das forças de segurança de apoiar os manifestantes.





