Valéria Guerra

Jornalista (UMESP), historiadora, atriz com DRT-RJ, escritora, colunista do 247, PCO, e do meu site (https://guerraluz.prosaeverso.net/); mestre em Intervenção Psicológica no Desenvolvimento e na Educação; professora do Estado do RJ na cadeira de biologia, poetisa e ativista contra a desigualdade no Brasil e no mundo.

Coluna

Mobilidade social x projeto pessoal de poder

Boa nutrição, viagens, excelente educação: não fazem parte da vida de muitos milhões de brasileiros

A historiografia nos lega um nome basilar da filosofia: Diógenes. Este personagem grego fez parte da história em que ele saía em plena luz do dia com uma lamparina acesa, procurando por homens verdadeiros (ou seja, homens autossuficientes e virtuosos).

Igualmente conhecida é sua história com Alexandre, o Grande, que, ao encontrá-lo, ter-lhe-ia perguntado o que poderia fazer por ele. Acontece que, devido à sua posição, Alexandre fazia-lhe sombra. Diógenes, então, olhando para Alexandre, disse: “Não me tires o que não me podes dar!: deixa-me ao meu sol”. Essa resposta impressionou vivamente Alexandre, que, na volta, ouvindo seus oficiais zombarem de Diógenes, disse: “Se eu não fosse Alexandre, queria ser Diógenes”.

“É concedida anistia a todos quantos, no período compreendido entre 02 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, cometeram crimes políticos ou conexos com estes, crimes eleitorais, aos que tiveram seus direitos políticos suspensos e aos servidores da Administração Direta e Indireta.”

Neste fragmento acima está grafado parte da Lei da Anistia de 1979.

Depois de um período de sombras e polarização, que se estendeu da Monarquia à República, entre golpes e ditaduras, o Brasil embarcou na era da democracia. Isso deu margem à criação de uma Carta Magna mais humanística, recheada de cuidados e voltada para o bem-comum. Será que houve uma mudança consubstanciada e favorável para o povo?

As regalias que muitos agentes públicos do chamado alto escalão nacional desfrutam são amplas. As oportunidades de ascensão econômica de vários fogem ao entendimento popular e se encontram diametralmente opostas às possibilidades de mobilidade social do cidadão comum.

Para ascender socialmente, através do próprio esforço, as pessoas precisam de oportunidades iguais de acesso à educação de qualidade. No entanto, o Brasil tem um grave problema de desigualdade educacional, que afeta as possibilidades de mobilidade social dos seus cidadãos. Para avaliar essa questão, o IMDS desenvolveu o Índice de Oportunidades Educacionais (IOE).

O IOE foi baseado em um indicador do Banco Mundial e leva em conta as características individuais que podem influenciar a trajetória educacional das pessoas, como sexo, cor da pele, renda e localização. Ele usa indicadores de oportunidade que representam os principais estágios da educação. O Índice é uma ferramenta útil para elaborar políticas públicas que reduzam a desigualdade educacional e promovam a mobilidade social no Brasil, identificando os fatores que mais precisam de atenção.

A apresentação “Oportunidades Educacionais e Mobilidade Social no Brasil” mostra como o índice foi calculado e quais foram os principais achados sobre as desigualdades educacionais no país. A apresentação detalha cada indicador, com dados históricos desde 2012 e comparações entre as regiões do Brasil.

Não resta dúvida que há uma camada da população que detém a competência para fazer nascer possibilidades técnicas que medem e avaliam os níveis disso ou daquilo na esfera sociológica de um espaço geográfico, dentro de um sistema populacional, e em termos econômicos e sociais. O que precisamos lamentar é que, com todo este avanço, observamos que a pobreza grassava, assim como a criminalidade.

Quando lemos notícias sobre bens avaliados em milhões, ou até bilhões, que são comprados por autoridades públicas oriundas de variados nichos do poder, concluímos que uma boa distribuição de renda está longe de coexistir no quadro da mobilidade social. São poucos ascendentes e muitos desafortunados. Estranho.

Boa nutrição, viagens, excelente educação: não fazem parte da vida de muitos milhões de brasileiros. Infelizmente, o que sobra, com muita sorte, é futebol, a novela e as séries da Netflix. Ler, no Brasil, é artigo de luxo. Quem acorda às 5h da madrugada para lutar na savana da desigualdade não possui lucidez para absorver as letras… dorme no ônibus, no trem, voltando para casa, quando a tem.

O autodidatismo não morreu, mas está moribundo; com certeza, o uso e abuso dele para sobreviver.

Graças a Deus, ainda existem alguns “Diógenes” incorruptos diante da luz solar. No entanto, fiquemos atentos, pois se algum tirano resolver criar o imposto do sol, metade da população irá morrer de raquitismo, doenças autoimunes, diabetes, problemas neurológicos e outras patologias decorrentes da falta da vitamina D.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a deste Diário

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