Estados Unidos

Imprensa do imperialismo celebra o golpe contra Bolsonaro

Imperialismo quer não apenas um presidente seu, mas uma mudança no regime político brasileiro como um todo

Nesta quinta-feira (28), o jornal britânico The Economist, um dos órgãos de imprensa porta-vozes da burguesia imperialista, publicou em sua capa artigo de opinião em que defende abertamente que o golpe que está sendo dado contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, através de julgamento farsa no Supremo Tribunal Federal.

Já de início, The Economist acaba mostrando a farsa da defesa da “democracia”: no chapéu da matéria indica o assunto “o julgamento de Jair Bolsonaro”, e logo após, no título da publicação afirma que “Brasil oferece aos Estados Unidos uma lição em maturidade democrática”. No subtítulo, The Economist diz que [o julgamento] “é uma experiência teste para como países podem se recuperar de uma febre [doença] populista”. 

A palavra populista é frequentemente utilizada pelo imperialismo em seus órgãos de imprensa para se referir pejorativamente a políticos com apoio real da população, e que, por isso, têm força (em maior ou menor medida) para desobedecer ao imperialismo. Bolsonaro e Lula são políticos assim, e por isso frequentemente são chamados de populistas, em um sentido pejorativo.

No corpo da publicação de The Economist, o jornal do imperialismo começa descrevendo a manifestação dos bolsonaristas em 8 de janeiro de 2023 como um golpe de Estado que falou. O jornal falsifica a realidade falando que Bolsonaro não teria aceitado a derrota nas eleições presidenciais e que teria expressamente convocado seus apoiadores a se insurgirem contra a vitória de Lula. Além disso, condena Bolsonaro por ter questionado as unhas eletrônicas.

The Economist afirma que “a insurreição fracassou, o ex-presidente enfrentou uma investigação criminal e os promotores o levaram a julgamento por planejar um golpe”, e prossegue dizendo que a situação “soa como uma fantasia da esquerda americana”. Por “esquerda americana”, o jornal faz referência ao Partido Democrata, um dos dois partidos de direita representantes do imperialismo norte-americano, e de cuja política a maior parte da esquerda norte-americana fica a reboque. No caso, a política é a perseguição que foi desencadeada contra o atual presidente dos EUA, Donald Trump, na tentativa de tirá-lo das eleições de 2024.

O jornal da burguesia britânica diz que essa fantasia é realidade “na outra grande democracia do hemisfério”, afirmando que “em 2 de setembro, o julgamento de Jair Bolsonaro, ex-presidente do Brasil e o “Trump dos trópicos”, começará no Supremo Tribunal Federal, e prossegue fazendo exatamente as mesmas acusações que o STF, a Procuradoria-Geral da República e a Polícia Federal fazem contra Jair Bolsonaro: 

As evidências [do suposto golpe] parecem um flashback do passado turbulento do Brasil. Um ex-general de quatro estrelas conspirou para anular o resultado da eleição; assassinos planejaram assassinar o verdadeiro vencedor. Como nossa investigação sobre a trama explica , o golpe fracassou por incompetência e não por intenção”, afirma The Economist.

O jornal do imperialismo já canta a bola: “Bolsonaro e seus associados provavelmente serão considerados culpados” e prossegue dizendo que “isso torna o Brasil um caso de teste para a recuperação de países de uma febre populista”.

Comparando a situação brasileira com a norte-americana, The Economist elogia a perseguição a Bolsonaro, ao mesmo tempo em que reclama do governo Trump, falando que “os EUA estão se tornando mais corruptos, protecionistas e autoritários — com Donald Trump esta semana mexendo com o Federal Reserve e ameaçando cidades controladas pelos democratas” e que o Brasil, “em contraste […] está determinado a salvaguardar e fortalecer sua democracia” ao perseguir Bolsonaro.

Um pouco mais adiante na publicação, The Economist mostra que o imperialismo quer acabar com a polarização radical e realizar uma “mudança institucional”

Como nosso briefing descreve, a maioria dos políticos brasileiros, tanto de esquerda quanto de direita, quer deixar para trás a loucura de Bolsonaro e sua polarização radical. Dos figurões empresariais em São Paulo aos políticos de Brasília, há um consenso surpreendente sobre uma agenda difícil, mas urgente, de mudança institucional”, afirma o jornal britânico.

Apesar de apoiar a perseguição ao ex-presidente, The Economist também aponta que “paradoxalmente, uma tarefa fundamental é controlar o Supremo Tribunal Federal”, afirmando que “o tribunal supervisiona uma gama estonteante de regras, direitos e obrigações […] Às vezes, os próprios juízes iniciam processos, incluindo um inquérito sobre ameaças online, alguns deles contra o próprio tribunal — tornando-o vítima, promotor e juiz”. Ou seja, as arbitrariedades e caráter ditatorial do STF precisam ser podados um pouco para que continue sendo um instrumento eficaz da dominação do imperialismo sobre o Brasil.

Utilizando como gancho essa proposta de “controlar o Supremo Tribunal Federal”, The Economist começa a reclamar de gastos excessivos do Estado brasileiro e defender que a política neoliberal, de destruição econômica do Brasil, seja aprofundada: 

Seu poder [do STF] é apenas parte da bagagem constitucional que o Brasil carrega. O país também sofre de incontinência fiscal crônica, em particular isenções fiscais descontroladas e aumentos automáticos de gastos. Alguns desses fatores foram consagrados na Constituição de 1988 para coibir líderes autoritários em potencial. Outros são culpa do Congresso brasileiro, que assumiu o controle do orçamento federal e usa sua influência para financiar projetos pessoais. O efeito é a exclusão de investimentos e o enfraquecimento do crescimento”.

E então passa a expor de forma não tão discreta seu plano golpista para as eleições presidenciais de 2026 no Brasil: “Bolsonaro deve ser julgado por seus crimes e punido se for considerado culpado. No ano que vem, a eleição deve ser disputada em torno das reformas mais amplas”. Ou seja, colocar na presidência da República um homem de confiança do imperialismo, que aprofunde a rapina contra o Brasil e seu povo.

The Economist diz que Trump é um obstáculo a esse plano, em razão de seu apoio a Bolsonaro, contra o STF: “Um obstáculo é o Sr. Trump. Ele acusou o Supremo Tribunal Federal (STF) de uma “caça às bruxas” contra seu amigo e, no início de agosto, impôs tarifas de 50% sobre produtos brasileiros. O governo também impôs sanções Magnitsky […]”.

Segundo jornal porta-voz do imperialismo, “isso nos remete a uma era sombria e passada, em que os Estados Unidos habitualmente desestabilizavam os países latino-americanos”, como se antes de Trump o imperialismo nunca tivesse promovido golpes de Estado em centenas de países, derrubando governos, com o de Dilma Rousseff, em 2016, e invadindo países matando milhões (vide Iraque, Afeganistão e outros).

The Economist diz que “Felizmente, a interferência do Sr. Trump provavelmente sairá pela culatra. Apenas 13% das exportações brasileiras vão para os Estados Unidos, e consistem principalmente de commodities, para as quais novos mercados podem ser encontrados” e acrescenta que “até agora, os ataques do Sr. Trump apenas fortaleceram a posição de Lula nas pesquisas de opinião e lhe deram uma desculpa para qualquer notícia econômica ruim antes da próxima eleição, em outubro de 2026”.

O jornal britânico também critica a polarização política no país. Afirmando que “mesmo que as elites queiram mudanças, o Brasil ainda é um país profundamente dividido. Bolsonaro tem apoiadores fanáticos que causarão problemas, especialmente se o tribunal impor uma sentença severa”.

Apontando novamente que o imperialismo quer não apenas um presidente seu, mas uma mudança no regime político brasileiro como um todo, The Economist diz que “reformar o Supremo Tribunal Federal e a Constituição exige que grupos abram mão do poder em prol do bem comum. É natural que se apeguem ao que têm”, acrescentando que “todos querem crescimento, mas, para obter mais crescimento, algumas pessoas terão que abrir mão de alguns privilégios”. Que será o povo e seus direitos democráticos e sociais, se prosperar o plano golpista do imperialismo.

A publicação termina falando que “muitos dos políticos tradicionais do Brasil, de todos os partidos, querem seguir as regras e progredir por meio de reformas”, acrescentando que esse servilismo à ditadura imperialista “são as marcas da maturidade política”, e que “pelo menos temporariamente, o papel do adulto democrático do hemisfério ocidental se deslocou para o sul”. 

Falando sobre a publicação durante programa semanal de análise na TV 247, Rui Costa Pimenta, presidente do Partido da Causa Operária (PCO), afirmou que “The Economist  é um dos dois ou três principais porta-vozes dos bancos internacionais, dos monopólios. É uma revista muito tradicional, muito ligada ao sistema financeiro mundial. Muito ligado aos países imperialistas em geral. Se você quer saber o que que o imperialismo tem como política, você lê essa. Eu acho que é a revista que mais expressa claramente é a política do imperialismo. É o principal órgão de expressão das posições imperialistas”.

Rui Pimenta comenta, então, a matéria em si, afirmando que a publicação “mostra que Bolsonaro e Trump não são as figuras do imperialismo. Se o Trump fosse uma ala do imperialismo, como muita gente fala, o imperialismo não ia atacar ele dessa maneira, porque senão a ruptura no bloco imperialista seria total. Eles estão pedindo, na verdade, que nos Estados Unidos haja repressão contra o trumpismo. Eles estão elogiando a atuação da justiça brasileira. Eles sabem que o que tá sendo feito no Brasil é ilegal. Todo mundo sabe

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