Editorial

40 anos de tutela militar e imperialista sobre o Brasil

O povo brasileiro, em 1985, viu uma farsa e, em 1988, a abertura de um pequeno espaço para sua atuação. Com uma nova ditadura em cena, urge sua organização independente

No dia 15 de março de 1985, assumia a presidência da República o primeiro governo “civil” desde 1964, simbolizado num homem da ditadura, José Sarney. O suposto primeiro governo civil, eleito indiretamente, colocou aquele que foi um homem forte do partido da ditadura, ARENA, como uma ruptura com o antigo regime, e é o que dita a história oficial.
Mais do que essa continuidade, o regime das Forças Armadas não viu qualquer alteração real, e estas permaneceram profundamente reacionárias internamente, funcionando como ditaduras dos oficiais, que estabelecem a perseguição política contra a esquerda como regra.
Não obstante, também o Judiciário, utilizado pela ditadura para a perseguição política, foi mantido inalterado. Indo além, a imprensa da ditadura, que mais se beneficiou com o regime, formando um verdadeiro monopólio, foi também mantida intacta, e permanece até hoje como um dos grandes atores na situação política nacional.
Os 40 anos de suposto retorno à democracia, de 1985, podem ser, portanto, considerados uma farsa completa. Mesmo o próprio regime dito civil se submeteu a uma constituinte apenas três anos mais tarde, em 1988, o que se configura como verdadeira aberração.
A única coisa a comemorar do período pertence apenas à própria burguesia, que foi capaz de manobrar o movimento operário, com a colaboração das direções da esquerda à época, sufocando-o e estabelecendo uma transição que, como se vê, muito pouco alterou no regime político brasileiro.
O receio quanto ao poder centralizado nas Forças Armadas ainda é um fator presente entre a população. A proibição de os praças e soldados participarem da vida política se contrasta com declarações públicas de altos oficiais. O poder das armas fora das mãos dos trabalhadores, do povo, aliado à ditadura nos quartéis, deixa este como refém da vontade de uns poucos generais.
E hoje, em reviravolta da história, novamente o imperialismo retorna a impor um regime declarado de censura geral, agora através de seus capachos em todas as esferas do poder Judiciário, destacadamente na cúpula, no Supremo Tribunal Federal. Infelizmente, a luta do povo brasileiro contra o arbítrio viu, em 1988, apenas uma breve janela ser aberta para sua participação política, fruto de gigantescas mobilizações que forçaram a mão do imperialismo a abrir o regime.
Para ir adiante, contudo, será preciso uma nova onda de mobilizações, tão gigantescas quanto, mas, dessa vez, com a certeza política de superar as manobras imperialistas e a capitulação de quaisquer direções na esquerda. Assim sendo, urge construir um movimento independente da burguesia e da esquerda pequeno-burguesa, contra a tutela militar sobre o regime brasileiro e contra a ditadura do Judiciário que vem agrilhoando o quadro político nacional.
No próximo dia 30 de março, às ruas para rememorar o golpe de 1964, e mobilizar contra a censura e a ditadura que ora se abate sobre o Brasil.

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