Enquanto grande parte da esquerda brasileira acredita que o combate ao racismo será feito pela Justiça, que colocará na cadeia todos os racistas do país, mais um trabalhador negro é baleado no Rio de Janeiro por um policial militar da reserva, após ter sido confundido com um assaltante.
Igor Melo é jornalista esportivo e comanda o canal Informe Botafogo, onde cobre as notícias de seu clube de coração, e também pelo Vitrine Esportiva.
Porém, somente o trabalho de comunicador não é suficiente para o sustento de sua família. Igor trabalha também como garçom no Bar Batuq, localizado na Vila da Penha, capital carioca. Ao sair do local e se encaminhar para sua casa em uma moto de aplicativo, foi perseguido e baleado nas costas por um policial militar, pois sua esposa, embriagada no momento, disse ser Igor a pessoa que a assaltou.
Como se não bastasse ser baleado, Igor foi encaminhado ao Hospital Getúlio Vargas sob custódia policial, pois deu entrada na emergência como suspeito.
Somente na tarde de terça-feira, dia 26, a custódia foi retirada. O jornalista deu entrada no hospital na madrugada de segunda-feira, dia 25.
Além disso, o motorista da moto de aplicativo, Thiago Marques Gonçalves, foi preso como suspeito, conduzido ao Presídio de Benfica, na Zona Norte do Rio, e solto também na terça-feira.
A prisão de Thiago e a custódia de Igor no hospital permaneceram mesmo com imagens do local provando que ambos não praticaram nenhum assalto, como foi alegado por Josilene da Silva Souza, de 42 anos, esposa de Carlos Alberto de Jesus, de 61 anos, autor dos disparos.
A Polícia Militar, em nota, alegou que Carlos Alberto se apresentou como o autor da ação, porém não cita nenhuma implicação pelo crime que o policial cometeu.
O Botafogo se manifestou sobre o caso. O clube alegou, em nota, que “deseja força e uma pronta recuperação ao torcedor, estudante e trabalhador Igor Melo, que encontra-se hospitalizado após ser baleado enquanto deixava o trabalho e retornava para casa. O clube cobra justiça e elucidação dos fatos! Igor participou de inúmeros atendimentos à imprensa realizados pelo clube e atuou sempre com profissionalismo e respeito com atletas, funcionários e colegas de profissão. Estamos juntos em pensamentos positivos!”.
Além do Botafogo, torcedores do clube e de clubes rivais se solidarizaram frente ao ocorrido, assim como o lateral-direito Igor Julião e o atacante Richarlison.
Marina Moura, noiva do jornalista, também expressou sua indignação:
“Quem conhece Igor sabe que ele jamais faria isso. Igor é trabalhador, honesto e pai de família. Todo fim de semana ele trabalha nesse bar e traz nosso alimento. Nunca nos falta nada porque eu trabalho e ele trabalha o dobro. Ele está sendo vítima de uma injustiça que não tem tamanho. Eu estou vivendo um pesadelo”, declarou.
Quanto aos identitários, não houve grandes comoções com o caso de Igor. Afinal, na concepção desses setores, o racismo se manifesta em termos considerados inadequados, e a solução é a cadeia para esses perigosos elementos que não estão alinhados com o vasto catálogo de palavras e expressões proibidas por eles consideradas.
O fato de dois trabalhadores serem perseguidos por um policial fora de serviço — o que custou a perda de um rim para Igor e a prisão de um motorista de aplicativo que estava em serviço — não parece configurar um problema real para a esquerda que defende o Judiciário brasileiro.