Em uma publicação no X no último dia 9, o membro da direção nacional do PT Alberto Cantalice tentou defender a fala desastrada do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que em defesa da “democracia” um dia antes, disse que as revoluções Russa e Cubana não foram feitas por trabalhadores, mas por “intelectuais, ativistas e estudantes”. Na sua rede social, Cantalice chamou os críticos de Lula de “guerrilheiros de teclado e microfone” e acrescentou:
“Foi Lula que cumpriu 580 dias de uma prisão infame para que as forças reacionárias pudessem desmontar o Estado, eleger um fascista e quase acabar com a democracia brasileira.”
Uma pergunta importante, à luz do que diz Cantalice, é quem exatamente deu a ordem de prisão para Lula? Teria sido Bolsonaro? Teria sido algum “guerrilheiro de teclado”? Ou a frente ampla, tantas vezes defendida pelo dirigente petista?
A prisão de Lula foi um desenvolvimento do golpe de Estado de 2016, que conseguiu derrubar a então presidenta Dilma Rousseff, mas não poderia correr o risco de sofrer uma derrota diante de um retorno do líder petista. Após dois anos de um neoliberalismo radical, seria inevitável que a resistência popular à política desejada pelo imperialismo se organizasse ao redor do então ex-presidente.
Altamente impopular, o imperialismo se viu obrigado a impulsionar uma radicalização da direita para conseguir uma impressão de apoio popular, necessário a ambos os objetivos: o golpe contra Rousseff em 2016 e a manutenção da Lava Jato para completar a reorganização do sistema político brasileiro, o que incluia a prisão de Lula. Dessa radicalização é que surge a atual extrema direita brasileira e sua liderança, o até então obscuro e inexpressivo parlamentar do baixo-clero Jair Bolsonaro.
Até o começo da mobilização golpista, Bolsonaro não era nada além de um folclórico parlamentar fluminense. Na esteira da campanha promovida pelo imperialismo, o sindicalista da baixa oficialidade militar acabou atropelando a direita tradicional e se consolidando como a principal liderança do campo no País. A ordem dos fatores deve ser levada em conta pela esquerda, ao lembrar que se Lula passou 580 dias preso, não foi Bolsonaro que o prendeu, mas o grupo político a que pertence Simone Tebet, Geraldo Alckmin.
O “mercado”, tão defendido pelo ministro da Fazenda Fernando Haddad, é representado por esse mesmo setor da direita falido politicamente, que acabou não conseguindo controlar a extrema direita por eles mesmos criada e malandramente, buscou refúgio junto aos esquerdistas mais oportunistas, o que culminou na criação da frente ampla. Sob a guarida da popularidade de Lula e da autoridade da esquerda junto ao povo, os responsáveis pela prisão do presidente escaparam da falência total, ao mesmo tempo em que encontraram um meio de influenciar o governo para a manutenção dos interesses do imperialismo, que podem ser vistos no Plano Haddad, por sinal, também defendido por Cantalice.
Por tudo isso, a prisão de Lula, que Cantalice defende como uma credencial esquerdista do mandatário brasileiro e um símbolo de seu compromisso com os trabalhadores, está na conta dos “aliados” direitistas do governo, mais do que o bolsonarismo. A extrema direita, por sinal, também está na conta desses mesmos criminosos que hoje reivindicam-se “democráticos”, quando são tudo menos isso.
Finalmente, o apoio consciente de Cantalice à frente ampla faz do próprio um aliado (aqui, sem aspas) do setor social identificado pelo dirigente petista como “as forças reacionárias” responsáveis por “desmontar o Estado” e por “eleger um fascista e quase acabar com a democracia brasileira”. Suas palavras em defesa da bobagem dita por Lula, por sinal, é outra propaganda contra-revolucionária que reforça a profundidade do alinhamento de Cantalice com “as forças reacionárias”.
Mais do que isso, lembrar os 580 dias em que Lula passou no cárcere sendo aliado dos responsáveis pela prisão do presidente, não é outra coisa além de um cinismo. Considerando que esse setor da direita se reivindica “democrático” mesmo sendo oriundos da ala centrista da Ditadura Militar mostra que Cantalice está assimilando muito bem os golpes que caracterizam seus aliados.
