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Coluna

Na política não há coincidências

Os problemas locais dos militantes do PSTU para contribuir com a causa palestina coincidem com a orientação política nacional do seu partido

Nos anos de militância no Partido da Causa Operária, escutei por diversas vezes de seus dirigentes que, na política, não há coincidências. Nesta semana, vejo mais uma demonstração dessa máxima.

Reunião indigesta

No dia 9 de novembro, fizemos uma reunião indigesta no Comitê de Solidariedade ao Povo Palestino, em Parnaíba. Um dos pontos de pauta seria acerca de sua participação no ato nacional em defesa da Palestina no dia 18 de novembro, no Rio de Janeiro, durante a abertura da Cúpula do G20.

Nesse ponto, discutiu-se a assinatura da entidade na convocação do ato, a participação de seus membros na caravana e a possibilidade de contribuição com a organização. Esse era o ponto inicial, mas, após três horas de reunião, chegamos ao encerramento sem o superar. A entidade não assinou a convocação, não houve outros representantes na caravana além de mim, e não contribuiu em nada com sua organização. Os representantes do PSTU, PCB, OPP e simpatizantes da UP não apresentaram ações concretas.

Ato falha

Isso por si só já seria bastante ruim e passível de críticas. Entretanto, a ata, que deveria ter sido divulgada no dia seguinte, não foi publicada. Questionei sobre ela no dia 25 de novembro, mas só recebi uma resposta e a divulgação da mesma, feita pelo militante do PSTU responsável na ocasião, no dia 29 de novembro, ou seja, 20 dias após a reunião e 11 dias após a manifestação.

O redator da ata não registrou as posições pró-imperialistas, que se negaram ao elemento básico de convocar o ato, afirmando demagogicamente que ficou definido o apoio a quaisquer atos.

“Por fim, caracterizou-se que haveria dois atos separados em prol da Palestina durante o G20: um organizado no dia 16/11, encabeçado por aqueles que construíram a Cúpula dos Povos Frente ao G20, em Copacabana, no Posto 6, com o chamado ‘Marcha dos Povos: Palestina Livre, do Rio ao Mar: Fora Imperialismo!’; e outro ato em prol da Palestina no dia 18/11, encabeçado pelas forças que construíram o chamado ‘G20 Social’, com o chamado ‘Ato em Defesa da Palestina no G20’, na Cinelândia – RJ.

Houve discussão acerca do apoio aos atos e seu caráter político, e a resolução que se chegou foi que todos os atos em prol da Palestina seriam apoiados durante o G20.”

No entanto, nem essa demagogia foi publicada. Não se assinou a convocatória, não se colaborou com o ato do dia 18, e não houve divulgação de apoio em nenhum lugar. Até a ata foi divulgada posteriormente.

Nosso redator foi além. A ata, que deveria ser um registro do que foi discutido e deliberado na reunião do dia 9, transformou-se numa crítica à postura do governo no G20 e propaganda de uma atividade de sua orientação, a Cúpula dos Povos. Esses eventos ocorreram posteriormente à reunião que deveria ter sido registrada.

Isso mesmo: o redator, em ato falho, redige os eventos como se fossem discutidos no tempo real da elaboração, alterando o passado. A ata, descaracterizada de sua natureza, limita a possibilidade de discussão dos problemas políticos, permitindo a imposição do interesse pró-imperialista.

“Foi apontado que durante o evento o Governo Lula criou um engodo chamado ‘G20 Social’, no qual estão importantes organizações sociais do país. Dizendo ser um espaço para debater temas sociais para o G20, o evento se reuniu entre 14 e 16 de novembro e busca controlar os movimentos sociais, a fim de evitar protestos na cidade. Não existe um ‘G20 Social’ e nunca existiu em nenhuma das edições do G20. O imperialismo está pouco se lixando para os movimentos sociais. Não existe ‘imperialismo social’. Imperialismo é sinônimo de exploração, pilhagem e guerras. Em contrapartida, em todos os encontros do G20 anteriores e neste, ocorreu a organização Cúpula dos Povos Frente ao G20.”

Esse instrumento do coletivo, além de ser utilizado para esconder os erros políticos, tornou-se apenas um panfleto do PSTU contra o governo do PT, não contribuindo em nada com a mobilização. É importante ressaltar que isso não é problema de um militante; pelo contrário, trata-se da orientação política desse partido, que se norteia pelo imperialismo.

Na política, não há coincidências

Ao redigir esta coluna, que, na minha opinião, precisava colocar essa discussão por uma questão educativa, perguntei-me qual seria a orientação maluca que o PSTU está realizando para desorientar seus membros a esse ponto.

Lembrei-me de situações similares durante o golpe de 2016. Para tanto, consultei o órgão de imprensa da agremiação. Encontrei um artigo intitulado “A Revolução Síria derruba ditadura após 13 anos de luta”, publicado nesta segunda-feira (9/12), e, de imediato, tive a resposta que procurava.

Um golpe imperialista na Síria: seu governo cai, atacado por mercenários, “Israel” e bombardeado diretamente pelos EUA. Um país aliado da Rússia, China e Irã, estratégico na resistência ao imperialismo e à causa palestina, é atacado, e o PSTU comemora?

É confuso que alguém que supostamente apoia o povo palestino comemore a queda de um dos pilares de manutenção e apoio à sua resistência. Seria estranho, mas a política do PSTU tem essas “coincidências” com quase toda a política do setor principal do imperialismo, não apenas na política internacional, mas também nas questões internas. Não há exemplo melhor que o golpe de 2016.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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