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Carla Dórea Bartz

Jornalista, com 30 anos de experiência (boa parte deles em comunicação corporativa). Graduada em Letras e doutora pela USP. Filiou-se ao PCO em 2022.

Coluna

A Indústria do Holocausto, de Norman Finkelstein

Livro mostra para o leitor brasileiro o uso da chantagem como arma imperialista

A Indústria do Holocausto: reflexões sobre a exploração do sofrimento judeu é um livro escrito pelo cientista político judeu norte-americano Norman Finkelstein, um dos mais sérios oponentes do sionismo na atualidade.

Publicado no Brasil em 2001, a obra, ao contrário do que se poderia imaginar, não é conceitual ou teórica. Na verdade, lembra uma grande reportagem, quase um documentário.

O autor conta como foi formada, com a desculpa de defender sobreviventes dos campos de concentração nazista na II Guerra mundial, uma verdadeira indústria de indenizações que, após alguns anos, pouco fez pelos sobreviventes e seus herdeiros de fato.

O livro aponta como, durante a década de 1990, já na questão identitária nos Estados Unidos, estabeleceu-se uma verdadeira caça aos espólios de judeus sobreviventes e dos falecidos.

Finkelstein tem um interesse pessoal no assunto. Seus pais sobreviveram aos campos na Polônia e na Alemanha, se conheceram após a II Guerra e migraram para os Estados Unidos. O autor nasceu em 1953 e cresceu em um ambiente no qual os pais pouco falavam sobre o assunto.

Seu pai foi obrigado a enfrentar uma rotina de trabalhos forçados por mais de três anos e a mãe só não foi para uma câmara de gás em Auschwitz graças aos soviéticos. No final, ela recebeu pouco mais de três mil dólares de reparação.

O problema apontado por Finkelstein é que, no final da década de 1990, as organizações ditas humanitárias que se colocavam como representantes desses sobreviventes levantaram bilhões de dólares em indenizações.

Basicamente, tudo foi organizado, como não poderia deixar de ser, nos Estados Unidos. Os atores foram ONGs, escritórios de advocacia, políticos e muita mídia. Em nome da causa humanitária, eles foram atrás das economias de países europeus.

O primeiro caso é o da Suíça, cujos bancos foram acusados de esconderem bilhões de dólares em depósitos. Não que os bancos suíços mereçam muita consideração, mas o truque foi gerar o escândalo, acusar de antissemitismo e obrigar o pagamento de bilhões, sem que uma auditoria adequada fosse realizada, conta Finkelstein. Com a reputação em risco, os bancos cederam.

Na sequência, os grupos foram para outros países, como a Polônia, Alemanha e até em Belarus para reaver propriedades e dinheiro. Segundo Finkelstein, os bancos americanos receberam a mesma quantidade de depósitos de judeus europeus quanto os bancos suíços, mas os primeiros nunca passaram pela mesma situação.

Na verdade, o autor deixa claro que houve uma instrumentalização do genocídio perpetrado pelos alemães na II Guerra Mundial que, juntamente com acusações de antissemitismo, foram usados para destruir reputações e fazer com que grupos duvidosos se tornassem muito ricos. A perseguição foi contra a economia de vários países europeus, excetuando-se o Reino Unido e, do lado de cá, os Estados Unidos.

Para nós brasileiros, que vivemos a Lava-Jato, é possível perceber uma certa semelhança na forma de atuação, como se fosse uma fórmula.

Contudo, como aqui não houve passado nazista, nem campo de concentração, os perpetradores valeram-se da instrumentalização da “corrupção”. O resultado foi a destruição da Petrobrás e das indústrias naval e de construção civil no país.

Os atores, como sabemos, são os mesmos: ONGs, advogados, lobistas, políticos, juízes, procuradores e, claro, a mídia.

Fundos bilionários também estavam sendo organizados como forma de compensação, mas foram impedidos pela justiça, nos poucos momentos de lucidez ao longo de todo o espetáculo. Porém, saibamos, essa máquina inescrupulosa continua viva e prepara novos ataques.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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