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Antônio Vicente Pietroforte

Professor Titular da USP (Universidade de São Paulo). Possui graduação em Letras pela Universidade de São Paulo (1989), mestrado em Linguística pela Universidade de São Paulo (1997) e doutorado em Linguística pela Universidade de São Paulo (2001).

Coluna

Os quadrinhos premiados na feira Des.gráfica 2018

Relembrando feiras de quadrinhos e as histórias premiadas – 1ª parte

Nos dias 3 e 4 de novembro de 2018, aconteceu, na cidade de São Paulo, o terceiro ano consecutivo da feira de HQs Des.gráfica, no Museu da Imagem e do Som, com curadoria do artista plástico Rafael Coutinho. Em artigos anteriores, já houve a oportunidade de comentar como a falta de grandes editoras comerciais de HQs no Brasil, se por um lado encarece a vida dos artistas, que se tornam produtores dos próprios trabalhos, por outro, permite que a HQ nacional, felizmente, seja feita às margens da indústria cultural, deixando espaço para a criatividade de cada autor. Nesse contexto, quando a pluralidade dos estilos, sobretudo gráficos, torna-se regra, os premiados de 2018 se revelam artistas completamente diferentes. Para prosseguir, eis os finalistas, dos quais se comentam, no artigo de hoje, apenas dois:

(1) “Indivisível”, de Marília Marz, apresenta excelentes discussões sobre a cultura brasileira, tomando por base o bairro da Liberdade, na cidade de São Paulo. A HQ se lê em duas direções, depende de como o leitor se orienta da capa ao centro da encadernação. Em uma delas, conta-se a experiência do asiático, que confere ao bairro as características pelas quais se tornou conhecido; na outra, a história da população negra. Em teorias culturais bastante racistas, o brasileiro surge enquanto fruto de uma mistura infeliz entre “portugueses grosseiros”, “negros malandros” e “índios preguiçosos”; em meio a essas falsas antropologias, além da explicitação da falta de inteligência e do racismo explícito de quem as autoriza, encontra-se a negação da participação de outras culturas na formação do Brasil, entre elas, árabes, judeus, japoneses, chineses etc. A HQ da Marília discute justamente isso, inserindo o asiático nessa questão e, quando reflete sobre a presença do negro, remete ao heroísmo de Francisco José das Chagas; vale lembra, quem foi um militar negro condenado à morte, em 1821, por se amotinar, em Santos, por pagamentos salarias, sendo enforcado no Largo da Forca, atualmente, onde se localiza a Praça da Liberdade, na cidade de São Paulo. A autora não muda apenas de tema ao compor a HQ, desenvolvendo narrativas e estilos gráficos completamente distintos nas duas direções de leitura.

(2) “Sua voz”, de Flavushh. Se em “Indivisível” é tematizada a identidade nacional, em “Sua voz” se discorre sobre sexualidade. Ainda recapitulando antropologias grosseiras, geralmente, quando se discute sexo, surgem confusões entre erotismo e biologia, levando a crer que ambos pareçam a mesma coisa. No entanto, algumas teorias sobre a sexualidade, contrariamente, complexificam essa discussão, insistindo o quanto a natureza biológica pouco tem a ver com a diversidade erótica. A HQ de Flavushh, porém, não se resume a um panfleto contra a repressão sexual; trata-se, isto sim, de uma trama bastante dramática, em que a vítima sofre psiquicamente e se torna, a seu modo, muito violenta. Não se pretende, contudo, afirmar que a vítima age agressivamente porque se revela adoidada, mas, em vez disso, problematiza-se a peste emocional, baseada na repressão do prazer, que assola parte da humanidade.

Na próxima semana, prosseguimos com mais três artistas.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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