Após duas semanas desde que se iniciaram as enchentes no Rio Grande do Sul, o número de mortos no estado continua subindo. Até o fechamento desta edição, segundo a Defesa Civil, 126 pessoas já haviam morrido, situação que irá se agravar, pois, além do número de desaparecidos ser de 143, há alerta de temporais previstos para o estado, podendo a chuva chegar a 150 mm. As regiões mais afetadas tendem a ser o norte e o leste do estado. Assim, embora o nível do Guaíba tenha abaixado para 4,74 metros, há perigo de subir novamente, segundo especialistas.
Desde o início desta situação catastrófica, um verdadeiro crime contra o povo, o que se viu foi a total ausência do poder público do estado do Rio Grande do Sul. Por mais que a imprensa burguesa tente esconder o fato, a destruição só foi possível, pois Eduardo Leite (PSDB), um político a serviço dos banqueiros, tirou milhões de reais de órgãos públicos necessários à prevenção de enchentes e desastres para dar aos bancos.
Assim, quem está salvando o povo do Rio Grande do Sul é o próprio povo, e não o governo do Rio Grande do Sul.
Em entrevista para a emissora Globo, um cidadão gaúcho fez questão de declarar que “de todas as pessoas que estão trabalhando aqui, 90% são civis, são pessoas da comunidade”. Mas, antes que pudesse terminar, foi interrompido por repórter da emissora. Veja o vídeo:
O Diário Causa Operária (DCO) recebeu o depoimento de Roni Silva de Azevedo, metalúrgico, caldeireiro. O morador de Sapucaia do Sul afirmou que a situação da cidade é de “calamidade pública”, destacando que a cidade não tem água há semanas e que a população está completamente abandonada, tanto pelo governo do estado, quanto pela prefeitura do município, mencionando, ainda, que há corpos de pessoas boiando, que morreram e ainda não foram resgatados:
“É uma cidade que não tem água. Já faz mais de semana que a situação aqui é precária. O pessoal aqui se vira com a ajuda da população para ter água porque o poder público municipal não tem feito absolutamente nada pelas pessoas, não tem abastecimento.
O governo do estado também não tem feito absolutamente nada pelas pessoas, a não ser desfilar com jalecos da Defesa Civil para cima e para baixo. Mas, em termos de apoio material, não tem feito absolutamente nada.
As pessoas da própria comunidade é que se ajudam, pois a Defesa Civil praticamente não existe. É a própria população que faz comida para levar para as pessoas desabrigadas. É um caos: transporte público não existe, temos muitas pessoas desabrigadas, há corpos de pessoas boiando, pessoas que morreram e ainda não foram resgatadas. E é a própria população que está fazendo o resgate das pessoas.
A situação é intensa. Já há coisas faltando nas prateleiras. Há também doenças. O frio tem voltado de forma acentuada… então a situação aqui tende a ficar mais grave… e nós não temos apoio nenhum, nem do governo do estado, nem do governo do município.”
Essa situação ocorre por todo o estado. Diante da tragédia e do abandono, muitas doações foram e continuam sendo feitas por milhões de brasileiros em todo o País. Contudo, apesar do ato nobre e solidário de milhões de brasileiro em fazer doações para combater as vítimas da destruição neoliberal de Eduardo Leite, e apesar do volume arrecadado, é preciso deixar claro que a destruição no Rio Grande do Sul só poderá ser superada com a intervenção do Estado, isto é, com o governo do estado investindo para reconstruir o que foi destruído e, igualmente, destinar recursos para reconstruir toda a infraestrutura de prevenção de enchentes e desastres que foi destruída durante anos de governos neoliberais.
Mas não apenas reconstruir. O governo do Rio Grande do Sul tem que indenizar todos os que perderam suas casas, seus imóveis, comércios, produção. Tem que comprar comida para todos os que estão desalojados. Tem que fornecer abrigo. Realizar uma operação ampla e diária de saneamento e saúde pública para evitar a disseminação de doenças e o surgimento de epidemias.
Quanto ao argumento de que não haveria dinheiro público, basta lembrar que mais da metade do orçamento federal vai parar nas mãos de banqueiros, principalmente estrangeiros, o que afeta os repasses de receitas da União para os estados. Por isso, deve ser decretada a moratória da dívida pública, e os trilhões de reais devem ser utilizados em benefício do povo brasileiro. No presente caso, para a reconstrução de tudo o que foi destruído no Rio Grande do Sul, inclusive de mecanismo de contenção de enchentes e desastres naturais.
Para isto, é necessário acabar com a política de superávit fiscal (teto de gastos) e acabar com o repasse de dinheiro público para os banqueiros, verdadeiros parasitas da riqueza produzida pelo povo brasileiro.
O dinheiro para salvar o povo do Rio Grande do Sul, reconstruir o estado e indenizar todos que perderam seus bens deve sair dos cofres públicos. Afinal, o brasileiro, que já tem cerca de 40% de seu salário consumido por impostos, não deve arcar com os custos da destruição do PSDB no sul do País.
Dentro disso, a sociedade tem que participar pressionando o governo a gastar em benefício do povo. Gastar sem nenhum limite, tirando o dinheiro dos bancos para a reconstrução de tudo o que foi destruído.
E, para a reconstrução, deve ser criada uma entidade ligada ao governo federal. Não algo burocrático, mas sim uma entidade composta, principalmente, pela população, por trabalhadores, sindicatos e movimentos sociais afins, os quais teriam poder de deliberação e decisão.
Em hipótese alguma pode ser colocado mais dinheiro nas mãos de Eduardo Leite (e dos prefeitos locais). Afinal, o mais provável é que o governador e os prefeitos desviem os recursos para interesses políticos próprios. Nesse sentido, é suspeita a declaração do prefeito de Farroupilha, Fabiano Feltrin (PP), em diálogo com Paulo Pimenta, secretário de Comunicação do governo federal: “a minha sugestão para vocês é mandarem os recursos da defesa civil para os municípios e depois nós fazemos as prestações de contas”.
Não se deve colocar dinheiro na mão desses prefeitos bolsonaristas e tucanos, pois eles não farão nada e desviarão os recursos para os bolsos de seus aliados. Igualmente, não se deve dar dinheiro ao governo Eduardo Leite. Afinal, a destruição no Rio Grande do Sul é resultado de sua política (a política dos bancos). Se ele foi a causa desse crime, ele não resolverá o problema, só massacrará ainda mais o povo do Rio Grande do Sul.
Fora Leite!