Política Nacional

A esquerda e o Pangloss de Voltaire

O otimismo incorrigível de parte da esquerda a impede de ver a realidade e lutar de maneira adequada contra a extrema direita. Além de colocá-la a reboque da direita

O otimismo

O artigo “Bolsonaro tem pressa de ser preso”, assinado por Eduardo Guimarães e publicado no Brasil 247 neste 4 de maio, revela que existe uma esquerda panglossiana, que tentar moldar a realidade a seus desejos, de tudo tenta tirar uma conclusão positiva, ainda que a realidade demonstre o oposto. Em outras palavras, quando tudo leva a crer que está em marcha um acordo entre o bolsonarismo e a burguesia, se insiste na tese da prisão de Bolsonaro.

O otimismo

Voltaire, em sua genial obra “Cândido, ou o otimismo”, apresenta a figura do filósofo Pangloss, uma paródia de G.W. Leibniz – que para justificar a infinita bondade e sabedoria de Deus –, afirmava vivemos no melhor dos mundos possíveis.

Para Pangloss, um otimista incorrigível, o terremoto de 1755 em Portugal, que devastou Lisboa e pode ter vitimado entre 10 mil e 90 mil pessoas, teria sido o evento dentre os mais agradáveis e maravilhosos. E, ainda, que tudo iria melhorar. Durante a obra, apesar de todo tipo de percalços e sofrimentos, o filósofo não abandona sua visão distorcida dos fatos. O mesmo ocorre com alguns setores da esquerda.

‘Nada acontece’

Guimarães inicia seu texto criticando um padrão de comentários que encontra nas redes sociais sobre o destino penal de Bolsonaro: “Ah, isso já está ficando chato, não prendem nunca. Só fica na promessa, isso não vai dar em nada”.

O articulista lista os crimes que, segundo ele, garantiriam a prisão de Jair Bolsonaro:

1 – organização criminosa (art. 1º, § 1º, da Lei 12.850/13); lavagem de dinheiro (art. 1º, da Lei 9.613/98);
2 – abolição violenta do Estado Democrático de Direito (art. 359-L do Código Penal);
3 – golpe de Estado (artigo 359-M do Código Penal);
4 – associação criminosa (art. 288 do Código Penal);
5 – falsidade ideológica (art.299 do Código Penal) e inserção de dados falsos em sistema de informações (art. 313-A do Código Penal).

Para Guimarães, o desânimo das pessoas com a possível prisão do ex-mandatário seria efeito psicológico, por isso afirma que “A internet exacerbou ao impensável e vulgarizou ao lamentável a ocorrência de um fenômeno que só ocorria muito raramente: o nefasto ‘efeito manada’”. Ou seja, as pessoas estão vendo que a burguesia e Bolsonaro estão tentando um acordo; mas, segundo o autor do artigo, não estão enxergando a realidade, mas sendo influenciadas.

Eduardo Guimarães tenta ainda explicar dizendo que “o efeito manada é um fenômeno da psicologia social que descreve a tendência das pessoas a seguirem o comportamento e as opiniões da maioria. Os afetados por esse efeito recitam frases feitas com variações mínimas e com entonação e contextualização idênticos”. Guimarães, no entanto, não percebe o quão fraco é seu argumento, pois este serviria tanto para descrever aqueles que negam quanto para aqueles que afirmam a inevitável prisão de Bolsonaro.

O articulista argumenta ainda que “Sobre a punição de Bolsonaro pela enormidade de crimes que cometeu, a grande maioria dos comentários do público ignora o devido processo legal. Falam da demora, mas esquecem que o país tinha um cargo-chave, vital em processos de responsabilização penal, ocupado por um bolsonarista”. O que teria mudado? Por acaso o judiciário é de esquerda? O brasileiro já está mais do que escaldado quando o assunto é justiça no País. Já assistimos ao julgamento do Mensalão, a prisão completamente ilegal de Lula, já vimos a impunidade rolando solta quando há certos interesses em jogo. Por que seria diferente agora?

Bolsonaro está morto?

Em seu artigo, Eduardo Guimarães, que tem fé nas instituições burguesas, como a PGR (Procuradoria Geral da República) afirma que Bolsonaro tem pressa de ser preso porque seu apoio estaria esvaziando, a prova disso, segundo ele, seria o ato bolsonarista no Rio de Janeiro que não teria juntado 30 mil pessoas.

Guimarães afirma ainda que “Outra evidência do esvaziamento do bolsonarismo no seu nascedouro é a candidatura natimorta de Alexandre Ramagem, o grampeador-geral da República de Bolsonaro, a prefeito do Rio. Está 30 pontos atrás de Eduardo Paes…”. Sobre isso é preciso dizer que se Bolsonaro está morto, o que dizer da esquerda que, mesmo com a presença de Lula, não levou ninguém para o 1º de Maio em São Paulo? O apoio à candidatura de Eduardo Paes é outro sinal da falência da esquerda, que não consegue lançar uma candidatura própria e se une à direita apelidada de ‘progressista’. Em São Paulo, principal cidade do País, o PT está apoiando Guilherme Boulos, do PSOL, que tem tudo para perder a eleição, pois, além de ser impopular, o candidato bolsonarista avança nas pesquisas.

Super Xandão

Alexandre de Moraes, execrado no início por ser indicação de Michel Temer para o STF, só tem hoje a seu favor determinados setores da esquerda, inclusive do PT. A burguesia já vinha alertando Moraes sobre seu reinado absolutista no Supremo. O ministro recebeu um golpe fatal da plataforma X (antigo Twitter), e a imprensa burguesa não tardou em afirmar que o juiz passou dos limites.

Apesar da desmoralização, Guimarães diz que “O diligente (sic) Alexandre de Moraes não tem pressa. Quer um processo penal inatacável e irrecorrível. E, na última sexta-feira, a soltura de Mauro Cid, cheia de simbolismo, inaugurou o início do fim da impunidade do Jair”.

O fato é que, para além do otimismo panglossiano, aqui no mundo real, a Folha já informou que a burguesia precisa de um ‘bolsonarismo moderado’. A PGR não entendeu que a tentativa de fuga de Bolsonaro na embaixada da Hungria seria uma tentativa de fuga. Bolsonaro já é visto ao lado de Tarcísio de Freitas, e pode muito bem servir de cabo eleitoral para esse fantoche do neoliberalismo para então se candidatar futuramente, não o sabemos.

O que podemos afirmar, com certeza, é que a esquerda, em sua maioria, vive um otimismo que não encontra respaldo na realidade, e que só tem servido para desmobilizar e confundir a classe trabalhadora.

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