Em recente matéria publicada no jornal imperialista Financial Times, noticiou-se que a Autoridade Nacional Palestina (ANP) já estaria trabalhando em um acordo com o governo norte-americano para governar Gaza após o fim da guerra entre “Israel” e os palestinos.
A fonte da notícia foi o próprio primeiro-ministro da ANP, Mohammad Shtayyeh, em declaração feita durante o mais recente Fórum de Doha, no Catar, que ocorreu nos dias 10 e 11 de dezembro.
Sua fala é sintomática da espiral de crise em que se encontra o Estado de “Israel” e o imperialismo norte-americano no Oriente Médio, espiral esta da qual nenhum dos dois conseguem se desvencilhar.
O primeiro-ministro diz expressamente não acreditar que “Israel” irá conseguir destruir o Hamas, principal organização armada da resistência palestina, e que liderou a ação do 7 de Outubro, aprofundando a crise do sionismo. Inclusive frisa que a eliminação do Hamas não é aceitável para os palestinos, pois o partido já é parte integrante da política nacional:
“É muito importante que todos percebamos que o Hamas é parte integrante do mosaico político palestino. E, portanto, para Israel afirmar que vai erradicar, eliminar o Hamas, penso que isto é algo que é totalmente inviável – primeiro, acima de tudo, isso não vai acontecer e não é totalmente aceitável para nós”
Declarou depois, à rede de televisão catariana Al Jazeera, entender que, após o fim da guerra, o Hamas terá de ser incluído na OLP e no esforço para a construção de um Estado Palestino independente, o qual, segundo ele, abarcaria a Cisjordânia, a Faixa de Gaza, e Jerusalém Oriental. Diz querer uma unidade nacional entre as organizações políticas dos palestinos, e clama ao Hamas para que estabeleça um canal de comunicação com Mahmoud Abbas, presidente da ANP, reconhecendo-o como a autoridade política dos palestinos:
“Queremos uma situação em que os palestinos estejam unidos. O Hamas é parte integrante do mosaico político palestino. Acho que é hora de o Hamas ligar para o presidente palestino e dizer-lhe que estamos todos unidos em seu apoio, e que você é a autoridade legítima do povo palestino e que estamos prontos para nos envolvermos”.
É verdade que as supostas negociações de bastidores com os EUA ainda não foram confirmadas pelo governo Biden. Apesar disso, são novos sintomas da crise de “Israel” e do imperialismo.
Deve ser lembrado que, logo após o 7 de Outubro, todas as declarações do Estado sionista e seu governo eram de que o Hamas seria eliminado da face da terra, “varrido do mapa”, para se utilizar de uma expressão coloquial.
Nada disto aconteceu. Inclusive, a dura e eficiente resistência dos guerrilheiros do Hamas e dos demais grupos da resistência forçaram “Israel” a uma trégua temporária, no dia 26 de novembro, que configurou grande vitória para o povo palestino e sua resistência armada.
Vitória esta que aumentou a popularidade do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) perante todos os palestinos, e diminuiu ainda mais a credibilidade da Autoridade Palestina. Afinal, esta, em nenhum momento, se colocou contra as declarações do sionismo contra o Hamas e os grupos armados da resistência palestina. Inclusive, agindo como lacaio de “Israel” e do imperialismo, aprofundou a ditadura sobre a Cisjordânia nos últimos dois meses, ajudando o Estado sionista prender arbitrariamente milhares de palestinos.
Assim, a declaração do primeiro-ministro da ANP, para além de mostrar a crise de “Israel”, expõe também a crise da Autoridade Palestina e da organização que a lidera (a OLP). Crise esta que se acentuou com a recente greve geral que foi desatada pelas massas palestina em toda a Cisjordânia, gerando uma situação pré-revolucionária, colocando em risco a própria autoridade.
E mais, o que o chefe de governo declarou serve igualmente para expor o quanto é pró-imperialista é a dita Autoridade Nacional Palestina, que sempre fora um administrador desse campo de concentração que são os territórios ocupados.
Ao fim, nem a ANP, nem “Israel”, nem o imperialismo estão conseguindo derrotar o Hamas e a resistência palestina armada, de forma que precisam buscar uma saída que inclua o partido islâmico, mas lhe retire toda natureza combativa, o que será uma tarefa de difícil realização.