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João Pimenta

Estudante da USP. Colunista do Diário Causa Operária, membro da Coordenação da AJR e do Comitê Estadual do PCO de São Paulo. Autor do Livro “A era da Censura das Massas”.

Medida Contraproducente

Prender Bolsonaro é pior para a esquerda que deixá-lo solto

É chato falar, mas dizer a verdade não lhe torna de extrema-direita, te torna uma pessoa honesta e de princípios

sociólogo pequeno-burguês Emir Sader foi ao X (antigo Twitter) para atacar o PCO após a entrevista do presidente do Partido, Rui Costa Pimenta, à revista Veja. Ele perguntou se o partido seria de extrema-esquerda ou de extrema-direita por dizer que Jair Bolsonaro está sendo perseguido politicamente pelo Poder Judiciário.

É chato falar, mas dizer a verdade não lhe torna de extrema-direita, te torna uma pessoa honesta e de princípios. É patente que Jair Bolsonaro está sendo perseguido. Isso quer dizer que ele não falsificou seu cartão de vacinação? Não. Isso quer dizer que ele não vendeu joias doadas à união? Não. Quer dizer que o único motivo que estão processando-o é político.

Como assim político? Vamos desenhar ao sociólogo, que apesar de seus muitos anos de vida não entende nada sobre a política real. O deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) foi pego em gravação pedindo dinheiro a um empresário e falando em assassinato, ele foi inocentado. Estamos no Brasil, políticos cometem crimes a torto e a direito, na esmagadora maioria das vezes, ninguém vai preso.

Nenhum ministro tucano foi preso por corrupção, o escândalo do “Trensalão” do PSDB-SP nunca levou nenhum governado ao banco dos réus. As pessoas só são processadas e condenadas por motivos políticos neste País.

Mais ainda, o interesse da esquerda deveria ser derrotar Bolsonaro e a extrema-direita politicamente, mais do que prender suas lideranças. Imaginemos que Bolsonaro seja de fato preso, ele será o padrinho de uma candidatura competitiva para as eleições de 2026, se tornará mártir, o movimento de extrema-direita apenas se radicalizará e se solidificará.

O movimento de extrema-direita que se convenho a chamar de bolsonarismo não é fruto de Bolsonaro, tem uma raiz social importante. É preciso entender o que permitiu que ele se tornasse um movimento de massas, o que o fez tomar conta de metade do País, resolver os problemas que estão na raiz do bolsonarismo e derrotá-lo na arena política.

Se o movimento da extrema-direita estiver desacreditado e derrotado nos corações e mentes da população, pouco importa o que faremos com as lideranças deste movimento falido.

A verdade é que os 49% que votaram em Bolsonaro não levam a sério as acusações feitas contra ele, veem nisso apenas uma perseguição política, veem apenas a realidade.

O bolsonarismo surge de uma revolta profunda da população, principalmente das classes médias, com o regime político brasileiro e de uma revolta profunda de setores médios do capital nacional contra o proletariado e o grande capital que governa o País.

Nesta combinação, é que se vê o grande calcanhar de Aquiles deste movimento. É preciso rachar os capitalistas cujo grande anseio é esmagar o pobre da classe média que pode bem ser ganha para o lado do pobre. É preciso até dividir os setores capitalistas que veem no inimigo imperialista estrangeiro o maior inimigo daquele que vê no sindicalismo o grande vilão. Ao dividir a frente social que é o bolsonarismo e isolando os elementos fascistas e anti-populares teremos levado a sua derrota. A prisão de Bolsonaro e seus seguidores, apenas faz com que esta frente tenha de ficar unida para se defender, fortalece seus pontos em comum ao invés de fortalecer seus pontos de diferença, é contraproducente. Isto quer dizer deixar crimes sem punição? Não, mas quer dizer que devem-se coibir todos os exageros, julgamentos diretamente pela suprema corte e Tribunal Superior Eleitoral, deve-se evitar acusações idiotas como a de “falsificação de cartão de vacinação”, bem como os julgamentos farsa do 8 de Janeiro, ao julgar trabalhadores desarmados por “golpe de Estado”.

*Artigo publicado originalmente em 21 de setembro de 2023.

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