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Resultados do “apartidarismo”

Junho de 2013: uma revolta sequestrada e sufocada pela direita

Ex militantes do MPL revelam como perderam o controle dos atos e, invés de levar a luta do passe livre adiante, fecharam um acordo com Alckmin entregando as manifestações

Os 10 anos das manifestações de junho de 2013 estão dando origem a diversas análises da imprensa burguesa e também na imprensa da esquerda. Os setores mais próximos do PT em geral tendem a errar consideram que os atos foram golpistas desde o princípio, que já eram uma espécie de Revolução Colorida voltada contra Dilma, algo que só aconteceu em anos posteriores. Mas há também outros setores da esquerda que analisam 2013 de forma muito positiva, é o caso do artigo do Outras Palavras: “Jornadas de Junho: como tudo começou” em que 3 ex militantes do Movimento Passe Livre, MPL, são entrevistados.

O artigo tem uma longa explicação sobre o surgimento do MPL e os movimentos prévios a 2013. Ele cita a luta “antiglobalização“ que aconteceu na Europa e nos EUA e inspirou a esquerda brasileira. Cita casos da luta contra o aumento das passagens desde o ano de 2003. As manifestações que o MPL organizou antes de 2013 dentre outras questões. Mas o mais importante é a análise que os ex militantes apresentam sobre os grandes protestos de 2013. Analisadas de uma forma ao mesmo tempo com orgulho e vergonha. 

A entrevista narra os acontecimentos: “No dia 6 de junho ocorreu a primeira manifestação do grupo, em uma tarde fria de quinta-feira, no Teatro Municipal, no centro da cidade. O PSOL, o MTST e os metroviários tinham declarado apoio à jornada e, já no primeiro ato, 11 pessoas foram detidas pela repressão policial em reação à tomada da Avenida 23 de Maio, uma das principais vias da cidade.” Ele cita a crescente repressão aos atos até o fatídico dia 13 de junho: “O resultado é que nessa noite, no quarto ato contra o aumento das tarifas, na região da Avenida Paulista e Rua da Consolação, houve uma repressão policial muito mais bruta que a anterior. Essa é a noite em que o fotógrafo Sérgio Silva perdeu um olho ao ser atingido por bala de borracha. Também é a noite em que imagens divulgadas nas redes sociais mostraram policiais militares direcionando balas e bombas a grupos de jornalistas identificados.”

O PCO analisou ainda em 2013 os acontecimentos, tendo participado de todas as mobilizações na cidade de São Paulo: “A violenta repressão do dia 13 de junho foi o momento decisivo de toda a crise. Justamente por isso, toda a imprensa capitalista silenciou sobre esta questão nos dias posteriores. A repressão não pôde ser escamoteada pela imprensa com os argumentos conservadores tradicionais de que o governo estava cumprindo a lei, que havia agido contra baderneiros e outras fantasias da propaganda reacionária.” e também “O resultado da repressão foi a liquidação de toda a aparência de autoridade do governo do Estado e da sua máquina repressiva como fator político local e nacional.”

O ex militante do MPL então solta uma declaração importante para entender os acontecimentos: “Na segunda-feira (17), o governador Alckmin determina o fim da repressão e, junto com Haddad, passa a se reunir com o MPL para combinar regras e trajetos.” Aqui o que era uma mobilização contra o PSDB na prática tem a sua direção fazem acordos com o governo do PSDB, essa é uma das origens da tomada de controle dos atos pela direita posteriormente. O texto cita: “Paralelamente a isso, a pauta original ia se perdendo no meio do turbilhão de reivindicações que surgiam com os novos contingentes de manifestantes.” Isso é importante pois o MPL não lutava apenas pela redução das passagens em 20 centavos mas pela tarifa gratuita, mas ele não toma a direção do movimento nesse sentido.

O artigo deixa isso muito claro, o MPL ao ter uma pequena vitória por meio do acordo com Alckmin abandona a luta e o movimento que já tinha uma direção fraca agora fica sem direção: “Em meio à festa que o MPL chamou para celebrar a vitória, começaram a aparecer grupos anticorrupção, repaginados em tentativas patéticas de imitar a estética do MPL. Nessa mesma noite, o movimento anuncia que iria parar de organizar grandes manifestações no centro da cidade e retornar ao trabalho de base mirando uma futura luta, não mais contra tarifaços, mas pela tarifa zero.” Aqui está o absurdo, em meio a uma mobilização crescente a direção simplesmente abandona as bases afirmando que realizará trabalho de base, chega a ser ridículo. A verdade é que o PSDB já havia tomado controle do MPL. Isso fica ainda mais claro pela relação expressa anteriormente do grupo com o PSOL e o MTST.

O ex militante do MPL inclusive reconhece o impacto negativo da organização ter se retirado da direção das manifestações: “O MPL se retira das ruas do centro após a vitória em 19 de junho porque a gente entendia que não tinha mais o controle delas. Foi um grande alívio essa saída do centro. Só que no pós-2013 aparece um monte de grupo, um monte de coletivo, um monte de gente querendo se organizar, grupos de amigos querendo se organizar, grupos de afinidade que se juntam por afinidades pessoais etc. E aí, nessa situação, se você não tem um referencial de formação política para essa galera, a coisa fica complicada, entende? Por isso que uma parte desses grupos são capturados pela direita. Aquele papo de ‘o gigante acordou’ era real, mas me parece que o gigante acordou de ressaca, sem entender direito quem ele era, onde estava e o que fazia” 

Esse mesmo militante afirma que considera que no fim houve uma derrota: “Mas, apesar de vitórias pontuais, acredito que saímos derrotados, e não apenas pela repressão, que foi bruta, ou pela manipulação da narrativa que se seguiu, mas por nós mesmos, que entramos em uma espécie de recuo.” É uma análise bem realista. Em meio a tamanha mobilização um movimento que luta pelo passe livre conquistou apenas um não aumento da tarifa. No Rio de Janeiro por exemplo junto ao não aumento as empresas de ônibus ganharam isenção fiscal e portanto nem arcaram com os custos. Na prática não houve vitória. 

Aqui vale citar novamente a análise do PCO sobre 2013: “Esta posição que corresponde a um anarquismo de classe média, e que é a “ideologia” dos integrantes do MPL, permitiu que a direita, mais organizada e mais dissimulada do que qualquer esquerdista, se impusesse de maneira agressiva à manifestação, ainda que relativamente. No meio da confusão e da dispersão enorme, da ausência de uma organização central, foi extremamente fácil para um grupo reduzido de direitas atacar individualmente militantes ou grupos de militantes da esquerda dentro da manifestação, acobertados pela palavra de ordem absurda de ‘abaixo os partidos’.”

Os ex militantes do MPL apresentam suas críticas de forma tímida, mas de alguma forma reconhecem os erros políticos. Mas seu movimento desapareceu, agora a esquerda golpista é quem quer levantar uma versão falsa dos atos de 2013 como inspiração para uma mobilização contra o governo Lula. Tanto a interpretação do 2013 golpista quanto do 2013 revolucionáiro são teses que por não serem políticamente corretas enfraquecem o movimento dos trabalhadores. É preciso compreender o passado da luta política no Brasil, da forma mais acaba possível, para travá-la no presente.

Leia o artigo do PCO escrito ainda em 2013 sobre as manifestações.

Cinco anos depois: o balanço de 2013 escrito por Rui Costa Pimenta no calor dos acontecimentos

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