Nesta última semana, todos os fãs de Pink Floyd do mundo se surpreenderam com um tweet muito agressivo da escritora e esposa do guitarrista David Gilmour, Polly Samson, direcionado para o baixista Roger Waters, ambos ex-colegas de trabalho na banda Pink Floyd. O tweet de Samson é o que segue abaixo:
A tradução é algo como “Infelizmente, Roger Waters, você é anti-semita até o seu núcleo podre. É, também, um defensor de Putin e um mentiroso, ladrão, hipócrita, sonegador de impostos, utilizador de playback, misógino, doente de inveja e megalomaníaco. Chega de suas besteiras”. É fácil ver aí nas palavras de Samson uma defensora de ideologia bastante ligada ao imperialismo – o ataque a Putin, a acusação de uma suposta “misoginia” etc.
A resposta de Waters veio de forma mais contida nas suas redes: “Roger Waters está ciente dos comentários incendiários e altamente imprecisos feitos sobre ele no Twitter por Polly Samson, os quais ele refuta completamente. Ele está, no momento, se aconselhando sobre como proceder”. David Gilmour se posicionou, naturalmente, do lado da esposa
A briga entre os dois não é de agora, é de muito tempo atrás, veio à tona quando Waters deixou o Pink Floyd no começo dos anos 80, e tem vários motivos e explicações. No entanto, neste momento, a razão pela virulenta crítica de Gilmour e de sua esposa é, evidentemente, os posicionamentos políticos de Roger Waters.
Recentemente, o ex-baixista do Pink Floyd deu uma entrevista para a revista alemã Berliner Zeitung, a qual foi uma chance para ele esclarecer alguns de seus posicionamentos, que o fizeram, inclusive, perder shows já marcado na Polônia e na Alemanha. Um deles foi que sua posição destoou daquela que expressa a maior parte dos artistas de grande projeção no rock internacional (particularmente neste que é classificado como o rock clássico – de bandas dos anos 70 e 80). Waters afirmou em diversas ocasiões que não concorda com a invasão da Ucrânia por Putin, mas que essa guerra foi provocada anteriormente pelo que ele chama de “Ocidente”.
Na entrevista, Waters mostra ter um conhecimento razoável do caso. O entrevistador lembra que ele já chamou Putin de gângster, mas ele afirma que volta atrás nessa colocação e que hoje percebe que ele é um governante que atende às necessidades do povo e até governa a Rússia com cautela. Sobre a guerra, ele afirma que viu, em discursos oficiais do próprio Putin de 2014, que ele já avisava que a tentativa do Ocidente de colocar a Ucrânia entre os países da OTAN e o genocídio contra as populações russas do Donbas iria levar a região a um conflito. Ele também lembra que há ucranianos que, durante a 2ª Guerra Mundial apoiaram os nazistas e que há nazistas no país até os dias de hoje.
O entrevistador também o questiona a respeito de suas posições sobre Israel, essas já controversas e problemáticas há mais tempo. Waters afirma que o Estado de Israel leva adiante um genocídio contra a população palestina e que vive sob uma espécie de regime de apartheid entre judeus e palestinos.
Em outro episódio controverso, Waters discursou numa reunião da ONU a pedido da Rússia, pedindo para que os países imperialistas parassem de enviar armas para a Ucrânia, apesar de sempre ressaltar que não está a favor da invasão feita pelos russos. Waters procura se colocar como um “humanista” ou “pacifista”.
Apesar de Roger Waters não assumir uma posição mais consciente na denúncia do imperialismo, o fato de ele não estar disposto a assumir, como um verdadeiro vendido, a posição de se colocar totalmente contra a Rússia, está levando a uma campanha de calúnias contra ele. Ela começa pelo seu próprio ex-colega de banda, que o próprio Waters dá a entender na entrevista que sempre teve uma posição mais direitista do que ele. O imperialismo não perdoa nenhum desvio ideológico e precisa domesticar seus artistas mais famosos. Apesar de Waters ser um artista famoso e popular demais para ser simplesmente esquecido, já começa a movimentação no sentido de cancelar suas apresentações e a briga no Twitter motivado pelo casal Gilmour tem ganhado bastante repercussão, procurando sempre colocar Roger Waters como o errado.