Alguns episódios do período recente têm sido muito didáticos para que se compreenda qual a verdadeira natureza da política da frente ampla no Brasil. Para quem não entende o conceito, a frente ampla seria, em tese, uma união de diversos setores da política nacional, para “lutar contra Bolsonaro”. Seria colocar na mesma frente desde Guilherme Boulos até Fernando Henrique Cardoso, passando por todos os partidos do centrão e da direita tradicional.
O PT é um dos poucos partidos que ainda não entrou por inteiro nessa frente, muito por conta da política de Lula, que tem evitado que isso aconteça. No entanto, há uma forte pressão da ala direita do partido para que eles também se juntem com esses vigaristas políticos.
A aprovação do Fundeb, amplamente celebrada pelos setores da esquerda que apoiam a frente ampla, e também pela direita, foi uma demonstração do seu funcionamento. O Fundeb é um fundo para os municípios e estados e que seria usado para investir na educação. O que é curioso, porém, é observar que toda a direita nacional, que sempre lutou contra o aumento dos investimentos em educação, cultura, saúde e tudo que possa ser de interesse do povo, celebrou a aprovação desse fundo em particular, mostrando o seu verdadeiro propósito, que é uma espécie de propina para os prefeitos e governadores e que não vai ser revertido em nada para a população.
Um outro Projeto de Lei, no entanto, que é de muito maior interesse para o povo. O PL 1462 do deputado petista Alexandre Padilha, que tem como finalidade estatizar a vacina e tecnologias em geral para tratamento de doenças epidêmicas que deixem o país em estado de calamidade pública, parece não possuir a mesma popularidade de que gozava o Fundeb entre os parlamentares. A PL é acertada e sua aprovação seria de benefício para o povo, particularmente no momento atual, em que a pandemia de coronavírus atinge o país de forma devastadora. No entanto, não se vê a frente ampla lutando por essa pauta. Não vemos Rodrigo Maia chorando no Congresso pela estatização da vacina contra a Covid-19.
Os dois fatos servem para mostrar que os partidos que formam a frente ampla não farão nada de interesse do povo, além de mostrar que quem realmente tem voz nessa frente não é a esquerda, e sim a direita. Sob o pretexto da luta contra Bolsonaro, os partidos da direita tradicional sequestraram a esquerda e a colocaram completamente a reboque deles. O que deve ser feito é se colocar contra a política da frente ampla e a favor do “Fora Bolsonaro” nas ruas, por meio das mobilizações populares.