No Brasil, o número de mortes por COVID-19 para cada 100 mil habitantes é completamente distinto entre as regiões Norte e Sul do País. Enquanto na região Sul o número de mortos para cada 100 mil habitantes é de 3,4, na região Norte o número é de 45,5, ou seja, 13,4 vezes a mais.
O Brasil, por ser um país grande e atrasado economicamente, tendo lugares em que há a mais alta tecnologia e outros em que nem mesmo a energia elétrica chegou, é um país que comporta esse tipo de diferença entre as regiões. A região Norte, por exemplo, é uma das menos desenvolvidas do país, fazendo com que o número de hospitais, equipamentos e de pessoal da área da saúde sejam muito baixos em relação a outros estados.
Se pegarmos, por exemplo, o caso do estado do Amazonas, um dos mais atingidos pelo coronavírus, cidades como a pequena Labreá não possuem nenhum respirador, o que faz com que aqueles que necessitem do equipamento tenham que viajar por cerca de 800 km, até chegar à cidade mais próxima com o equipamento. A própria capital do estado, Manaus, foi uma das primeiras cidades do país a entrar em colapso por conta da doença.
Enquanto isso, a região Sul do país é uma das mais desenvolvidas, o que faz com que a população, apesar de ainda pobre, ter mais acesso a esses equipamentos, à infraestrutura adequada e a trabalhadores de saúde. Porém, até mesmo em estados mais desenvolvidos, há uma imensa desigualdade entre as diferentes cidades.
Mesmo dentro de uma mesma cidade é flagrante a diferença entre as classes sociais e seu acesso à saúde. Em um projeto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), em que um mapa da cidade de São Paulo e das cidades que a rodeiam foi montado e alimentado com dados da COVID-19 por CEP, é fácil de ver que em bairros mais ricos poucas pessoas morreram ou foram infectadas, enquanto o número de mortes e de infectados pelo vírus é gigante nas favelas e nos demais bairros populares, só não sendo maior pela falta de testes, o que fez com que o mapa ficasse repleto de casos de outras Síndromes Respiratórias Agudas Graves (SRAGS), sem nenhuma explicação para essas síndromes.
Tudo isso contribui para aquilo que este diário vêm alertando desde o começo da pandemia: que o principal problema para se enfrentar a pandemia no Brasil é um problema social, que somente será combatido com eficácia caso a própria população se organize e exija o que é necessário para se enfrentar a crise da saúde e a crise econômica que assolam o país, o que também passa pela mobilização pelo Fora Bolsonaro.