Prevista inicialmente para o dia 3 de maio, as eleições presidenciais na Bolívia acabaram suspensas após determinação ditatorial da presidente interina, Jeanine Áñez, que chegou ao poder com a ajuda de um golpe de Estado. A suspensão veio a pretexto de uma declaração que determinou a quarentena no país devido à situação de emergência do coronavírus, e foi tomada também pelos golpistas do TSE (Tribunal Superior Boliviano), em março, para cumprir o decreto de quarentena e adiar ainda mais a data das eleições, que foram fixadas para final de setembro.
Em contrapartida, o Senado boliviano aprovou na quinta-feira (30), um projeto de lei apresentado pelo partido de oposição MAS (Movimiento al Socialismo), ligado a Evo Morales, que determina que as eleições sejam realizadas em 90 dias, o que coincide com o início de agosto, contrariando o TSE e Jeanine Áñez.
Antes mesmo do Senado conseguir antecipar a data para as eleições, um expressivo protesto com fogos de artifício e panelaços, demonstrou na ruas o apoio que o povo dá a Morales, e contra as medidas do governo golpista que adiaram a data das eleições. As manifestações ocorreram em pelo menos quatro cidades importantes da Bolívia: La Paz, Santa Cruz, Cochabamba e El Alto.
Jeanine Áñez não se conformou com a manobra do MAS no congresso e publicou um vídeo nas redes sociais em que acusa o partido de cometer um “atentado gravíssimo à saúde e à vida dos bolivianos”. Também culpou o ex-presidente Evo Morales e seu candidato à presidência, Luís Arce Catacora, alegando que “controlam e manipulam conforme sua vontade”, se referindo ao Congresso.
Mas a fascista Àñez tem motivos para guerrear dessa maneira, pois, ela é a “lanterna” na corrida presidencial, estando em terceiro lugar, com 16,9% segundo a última pesquisa publicada antes do confinamento. Arce é o candidato favorito à presidência, com 33% das intenções de voto. O direitista (apresentado como “candidato de centro”) e ex-presidente Carlos Mesa aparece em segundo lugar, com 18,3%.
A extrema-direita golpista, representada por Jeanine Áñez, chegou ao poder por meio de um golpe de Estado articulado pelo imperialismo: primeiro com apresentação de denúncia fraudulenta por parte da Organização dos Estados Americanos (OEA), seguida de mobilização de milícias fascistas, das Forças Armadas e de elementos do interior das polícias, com intimidações e assassinatos, busca ganhar tempo e se encontra diante de um profundo descrédito por parte da população.
Policiais e militares, que orquestraram o golpe, marcharam sobre as ruas bolivianas junto aos fascistas, enquanto o principal nome golpista entra no palácio do governo com homens armados e promove uma cena de puro cinismo, colocando a bandeira do país no chão e declarando de joelhos que (o golpe) seria uma vontade de Deus. Com o desenvolvimento da situação, Evo Morales, que não chamou a resistir ao golpe, foi obrigado a sair do país, e os fascistas, se aproveitando do momento, atacaram diversos trabalhadores nas ruas, torturaram militantes e governantes apoiadores de Morales na ocasião.
Todo esse tumulto com as eleições acabou quebrando o silêncio de uma quarentena total em vigor desde 22 de março. Apesar das medidas de precaução, a pandemia já infectou 354 pessoas no país e matou outras 28, com uma taxa de mortalidade de 7,91%.
As projeções das autoridades de saúde, como o vice-ministro da Saúde, Luis Larrea, estabelecem que o pico mais alto do coronavírus iniciou-se na dezena final de abril.