Os trabalhadores acordaram nesta segunda-feira (23/08) com a notícia na imprensa que Bolsonaro havia editado Medida Provisória (MP) que, entre outras, prevê a suspensão de contratos de trabalho por até 4 meses. Quer dizer, os trabalhadores ficariam durante esse período sem receber salários e, em contrapartida, negociaria diretamente com os patrões a manutenção de um ou outro benefício, como plano de saúde, desde que acordado entre as partes. Mesmo com a “panela vazia”, sem recursos para minimamente enfrentar o caos do Covid-19, os trabalhadores teriam direito a realizar nos quatro meses, cursos de reciclagem.
A tentativa calhorda de impor esse ataque contra uma população que já está absolutamente refém da incapacidade do governo em combater a pandemia mundial que chegou no Brasil com toda a força, não foi bem aceita pelos golpistas que sustentam o seu governo, particularmente o Centrão, que vê nas imposições de Bolsonaro (a forma e não o conteúdo) o acirramento da revolta popular contra o regime político de conjunto. Tal indisposição da base que garante o seu governo fez com que Bolsonaro recuasse, quanto a implementação da proposta de suspensão do contrato de trabalho, o principal item da MP.
A derrota momentânea do governo fascista não significa que essa condição não se coloque em um outro momento, até porque essa é uma reivindicação da própria burguesia.
Aliás, o serviçal ministro da Economia, já anunciou uma possível edição de uma nova MP para corrigir o que havia sido “mal redigido”. Não se trataria de uma suspensão de contrato de trabalho sem remuneração – tanto os patrões como o governo, na MP revista, se responsabilizariam por parte do salário dos empregados, principalmente naqueles setores mais afetados, com uma variação que poderia ser de 25 a 33% para o governo e 25 a 50% para os empresários.
Tudo não passa de pura empulhação. Existe, ainda, uma terceira Medida Provisória em gestação, que autoriza as empresas a reduzirem a jornada e os salários dos trabalhadores em até 50%. Quer dizer, o governo pretende aproveitar a epidemia de coronavírus, para impor a continuação da reforma trabalhista. O executivo não está sozinho nessa empreitada contra os trabalhadores. O presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia, admitiu que está em preparação um item a ser anexado à Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 438/18, que prevê cortes de até 25% no salário e na jornada dos servidores públicos de todos os poderes.
A política do governo, da burguesia, dos golpistas é jogar nas costas dos trabalhadores o ônus da sua crise, agora potencializada ao extremo com o coronavírus, como se vê diante dos repasses bilionários para os bancos e as migalhas destinadas à infraestrutura elementar para enfrentar a epidemia. Para ficar apenas em um exemplo, de muitos, o governo acaba de destinar 31 bilhões de dólares ou R$ 161 bilhões para socorrer o sistema financeiro do País e, na outra ponta, R$ 15 bilhões, para atender milhões de trabalhadores desempregados e/ou sem assistência social, com um valor médio de R$ 191, 00, durante 3 meses. Isso por si, explica o caos nacional.
Os trabalhadores são duplamente vítimas do flagelo: o desemprego, a redução salarial e ainda, as péssimas condições em que se encontram diante da grave epidemia.
É obvio que a população explorada do País está absolutamente entregue a sua própria sorte. O que será do povo brasilero daqui a seis meses, período previsto para durar a epidemia? É certo que que estaremos diante de uma hecatombe.
Uma questão central que de tão urgente e nada é feito e que, portanto, agrava ainda mais a situação de conjunto do povo pobre é a absoluta passividade com que a esquerda está tratando a situação do País, a começar por dar carta branca às instituições brasileiras o combate à grave crise econômica e social em que o País está metido.
É fundamental que as organizações dos trabalhadores, a CUT, os movimentos sociais rompam com essa política e que se coloquem à frente dos explorados, a começar por impulsionar a sua mobilização, para abrir verdadeiramente uma via independente para as amplas massas e para o País diante do caos social que se avizinha.