Nesta sexta-feira (9), o jornal israelense Haaretz, um dos principais órgãos de comunicação dos sionistas, noticiou que Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, estaria pressionando o primeiro-ministro de “Israel”, Benjamin Netaniahu, a aceitar um acordo com o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) antes da visita de Trump ao Oriente Médio.
Citando fonte não identificada, o Haaretz informa que “o governo Trump comunicou a Jerusalém que se Israel não avançar junto com os Estados Unidos em direção a um acordo com o Hamas, ficará abandonado à própria sorte”, e que a atual presidência dos EUA estaria “pressionando fortemente” por um acordo.
Nesse mesmo sentido, o jornal israelense informou também sobre a recente visita de Steve Witkoff a “Israel”. Ele é o enviado especial dos Estados Unidos para o Oriente Médio, e, segundo o Haaretz, se reuniu com famílias dos prisioneiros israelenses. Witkoff teria dito às famílias que “pressão militar coloca em perigo os prisioneiros”.
A emissora israelense Canal 12 noticiou o mesmo, dando mais detalhes, informando que o enviado de Trump teria dito que “se até agora os reféns pagaram o preço pelo fim da guerra, hoje o preço será muito mais alto para Israel, e não apenas para os reféns”, e teria acrescentando que “o presidente Trump está determinado a avançar em direção a um acordo significativo com a Arábia Saudita, mesmo sem o envolvimento de Israel.“
Ainda, mostrando as crescentes contradições entre “Israel” e o governo Trump, o Haaretz informou que o próprio Witkoff teria pedido à fonte que divulgasse sua posição à imprensa israelense.
O enviado de Trump ainda teria se manifestado sobre o recente acordo de cessar-fogo com o Iêmen, em que os EUA capitularam perante as forças iemenitas. Witkoff teria declado que “o acordo de cessar-fogo com os Hutis é apenas um prelúdio e, se Israel não cair em si, até mesmo o ‘Acordo do Milênio’ [um acordo com a Arábia Saudita] será feito sem ele. Esperamos que Israel apreenda o trem histórico que já partiu da estação, mas os EUA não esperarão na plataforma“.
Reforçando o que fora noticiado pelo Haaretz e pelo Canal 12, o jornal israelense Israel Hayom noticiou, nesta quinta-feira (08), citando fontes próximas a Donald Trump, que o presidente norte-americano “está decepcionado com Netaniahu e decidiu avançar com ações no Oriente Médio sem ele”. Dando detalhes, o jornal acrescenta que Trump está interessado em tomar decisões que ele acredita que farão os Estados Unidos progredirem, particularmente em relação à Arábia Saudita e aos países do Golfo, sem esperar pelas decisões de Netaniahu.
Não bastando, outra notícia indica uma crise ainda mais intensa entre “Israel” e o governo Trump: a de que o governo Trump teria cortado contato com Netaniahu. As informações foram fornecidas por Yanir Cozin, diplomata correspondente da Rádio do Exército Israelense. Citando como fonte uma alta autoridade israelense, não identificada, ele informa que Ron Dermer, o ministro de Assuntos Estratégicos de “Israel”, aliado de Netaniahu, teria tentando dar ordens a altos funcionários do governo Trump, sobre o que o presidente dos EUA “deve fazer” na região do Oriente Médio. Isto teria sido feito “com sua arrogância habitual”.
Contudo, a tentativa de pressão por parte do ministro israelense teria produzido o efeito mais próximo a Trump teria lhe dito que “Netaniahu está manipulando o presidente americano“, uma caracterização que não agradou Trump, pois este “odeia nada mais do que parecer manipulado”.
A visita de Trump ao Oriente Médio está prevista para se iniciar dia 13 de maio. Dentre os países que serão visitados pelo presidente norte-americano, estão Arábia Saudita, o Catar e os Emirados Árabes Unidos.
No que se refere à visita à Arábia Saudita, deverão ocorrer conversas sobre o programa nuclear civil do país. A respeito disto, a agência britânica de notícias Reuters noticiou que os EUA não exigirão a normalização das relações da monarquia saudita com “Israel”, como condição nas negociações em torno do programa nuclear.
Concomitantemente a essa situação, o governo Trump também estaria tentando fortalecer sua posição na Síria pós-golpe, em acordo com os Estados Árabes do Golfo. Conforme anunciado pelo Ministério das Finanças da Síria nesta quinta-feira (8), o Catar fornecerá US$29 milhões por mês durante três meses, com possibilidade de extensão, para ajudar a cobrir aproximadamente um quinto dos salários do setor público.
Segundo informa a Reuters, os Estados Unidos teria dado luz verde ao Qatar para financiar salários do setor público na Síria, e que o “Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros do Departamento do Tesouro dos EUA deveria fornecer em breve uma carta confirmando que a iniciativa estava isenta de sanções dos EUA”.
Nesse sentido, o portal de notícias The Cradle informou que “no final do mês passado, a Arábia Saudita e o Catar anunciaram que pagariam a dívida de US$ 15 milhões da Síria ao Banco Mundial, permitindo que o credor internacional retomasse suas atividades no país após mais de 14 anos de interrupção”.
As notícias de intensificação da crise entre “Israel” e o governo Trump, bem como aquelas sobre a aproximação de Trump às monarquias árabes, ocorrem na mesma semana em que o governo norte-americano capitulou perante o Ansar Alá (partido revolucionário que lidera o Iêmen) e as ações das Forças Armadas do Iêmen contra o imperialismo.
Foi no início da semana que Trump anunciou um cessar-fogo com o Iêmen. Os EUA havia retomado os bombardeios contra o país em meados de março, em razão do apoio do Iêmen à Palestina. Apesar de o imperialismo norte-americano ter assassinado centenas de civis iemenitas, através de bombardeios quase que diários, as Forças Armadas do Iêmen e o Ansar Alá não recuaram, e intensificaram suas ações militares contra as embarcações de guerra norte-americanas, bem como contra “Israel”. No caso das ações contra os territórios ocupados pela entidade sionista, as forças iemenitas anunciaram que passariam a estender ao espaço aéreo israelense o bloqueio que já exercem contra as embarcações israelenses no Mar Vermelho. Fizeram isto realizando novos ataques precisos contra proximidades de importantes aeroportos israelenses, produzindo efeito imediato com a suspensão de voos.
Expondo o fracasso dos EUA em contar a ação revolucionária do Iêmen contra “Israel”, a emissora norte-americana NBC News noticiou que as ações militares norte-americanas contra o país árabe custaram mais de US$1 bilhão de dólares. Apesar disto, não só a operação falhou em desmantelar a capacidade militar das Forças Armadas do Iêmen, como os EUA perderam dois caças F-18 no Mar Vermelho.
Falando sobre o cessar-fogo, o Ansar Alá declarou que ele não se estende a “Israel”. No mesmo sentido foi a declaração de Dana Stroul, ex-funcionária do Pentágono durante o governo Biden: “o movimento Ansar Alá deixará de atirar em navios americanos por algum tempo. Mas eles não deixarão de disparar mísseis contra ‘Israel’, a navegação comercial não será retomada e a guerra civil no Iêmen permanece inalterada”.
O embaixador dos Estados Unidos em “Israel”, Mike Huckabee, também se pronunciou sobre o cessar-fogo, em declaração que é outra amostra da crise entre EUA e “Israel”: “os Estados Unidos não são obrigados a obter permissão de Israel para fazer algum tipo de acordo que impeça os Hutis de atirar em nossos navios“, disse Huckabee.
Diante da capitulação dos EUA, o povo do Iêmen saiu às ruas às centenas de milhares comemorando a vitória, e reiterando seu apoio irredutível à Palestina. Manifestações massivas ocorreram nesta sexta-feira (8), sob a palavra “em apoio a Gaza… Pelo poder de Alá, derrotamos a América e derrotaremos Israel“.
Em discurso televisionado, Saied Abdul-Malik al-Houthi, líder do Iêmen (e do Ansar Alá), declarou que o fracasso dos Estados Unidos em afetar as operações militares do Iêmen em apoio à Resistência Palestina em Gaza obrigou Washington a optar por interromper sua agressão ao país.
Afirmou também que “a prioridade declarada e clara do Iêmen é apoiar o povo palestino contra a ocupação”, permanecendo “totalmente firme quando se trata de apoio, seja por meio de ataques nas profundezas da Palestina ocupada ou por meio do bloqueio de embarcações israelenses”.
Já em Gaza, a Resistência Palestina, liderada pelo Hamas, deu início a uma série de operações militares contra os invasores israelenses, especialmente em Rafá, fronteira com o Egito. Já nos primeiros dias do conjunto de operações chamado de “Portões do Inferno”, os combatentes das Brigadas al-Qassam realizaram inúmeros ataques e emboscadas contra dezenas de sionistas, eliminado pelo menos dois, ferindo vários outros.
À luz das ações do Hamas, que aparentam se intensificar e ficar cada vez mais eficientes, o jornal israelense Haartez publicou editorial em que condenou a operação “Carruagens de Gideão” em andamento em Gaza, chamando-a de uma campanha militar fadada ao fracasso e equivocada, sem legitimidade nacional e internacional, e acrescentando que qualquer caminho realista para a libertação dos prisioneiros israelenses exigiria negociações diretas com o Hamas, uma rota que a atual campanha militar não apenas evita, mas sabota ativamente.
Segundo o Haaretz, a guerra de “Israel” em Gaza está sendo travada sem restrições morais ou legais e não está alcançando objetivos militares críveis, instando tanto o governo quanto os militares a encerrarem a campanha imediatamente e buscarem negociações.
No mesmo sentido foi a publicação do The Economist, jornal britânico que é um dos porta-vozes da burguesia imperialista. Em matéria publicada nesta quinta-feira (08), com o título “a guerra em Gaza precisa acabar”, o jornal afirma que os EUA deveriam pressionar Netaniahu aceitar um cessar-fogo. Embora afirme que pressão também tem que ser exercida para o Hamas se desarmar, The Economist avalia que “não há nenhuma razão para acreditar” que o plano militar de “Israel” de “destruir o que resta do Hamas” poderá dar certo.