A Rússia reconheceu oficialmente o governo do Talibã no Afeganistão, tornando-se o primeiro país a estabelecer laços diplomáticos formais com o novo governo afegão.
Em abril, a Suprema Corte russa removeu o Talibã da lista de organizações terroristas, legalizando suas atividades pela primeira vez desde que o grupo havia sido classificado como tal, em 2003. O grupo islâmico retornou ao poder em agosto de 2021, após a expulsão das forças dos Estados Unidos e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), e rebatizou o país como Emirado Islâmico do Afeganistão.
Na quinta-feira (3), o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Andrey Rudenko, aceitou formalmente as credenciais do novo embaixador afegão em Moscou, Ghulam Hassan — passo que sinaliza o estabelecimento de relações diplomáticas.
Questionado pela agência RIA Novosti se o reconhecimento havia sido concedido, o enviado presidencial russo para o Afeganistão, Zamir Kabulov, respondeu afirmativamente.
Segundo reportagens da imprensa, a bandeira preta e branca do Talibã foi hasteada na embaixada do Afeganistão em Moscou — a primeira desde 2021. Após retomar o poder, o Talibã baniu a antiga bandeira tricolor (preta, vermelha e verde) do país.
O embaixador russo em Cabul, Dmitry Zhirnov, afirmou ao canal Rossiya 1 que a decisão de reconhecer o Emirado Islâmico do Afeganistão foi tomada pelo presidente Vladimir Putin, sob recomendação do chanceler Sergei Lavrov.
Zhirnov lembrou ainda que a Rússia foi o primeiro país a reconhecer a independência do Afeganistão, há mais de um século, e que os gestos atuais demonstram “um desejo genuíno de construir uma parceria plena com o Afeganistão”, refletindo uma postura amistosa em relação ao povo afegão.
Embora o governo do Talibã ainda não seja reconhecido pela maior parte da comunidade internacional, diversos países da Ásia Central têm restabelecido vínculos com Cabul. O Cazaquistão retirou o grupo de sua lista de organizações terroristas em junho de 2024, seguido pelo Quirguistão em setembro. O Turcomenistão retomou a cooperação por meio do projeto do gasoduto TAPI, e o Uzbequistão assinou diversos acordos conjuntos com o governo afegão em agosto de 2024.
O embaixador do Afeganistão no Catar, Suhail Shaheen, afirmou à RIA Novosti que a decisão da Rússia “cria oportunidades de trabalho conjunto” e apelou para que outros países sigam o exemplo de Moscou.