Coluna

Pousando no Amor e o poder das novelas asiáticas

"Doramas seguem envoltos em admiração e preconceito. Diferentemente do k-pop e do j-rock, ou dos animes, as novelas asiáticas ainda são tidas como histórias para mulheres"

Por que amamos doramas?

Por dorama, claro, refiro-me às novelas orientais, das quais, justiça seja feita, as coreanas são as de mais sucesso. Portanto, k-dramas, já que dorama é uma palavra derivada de “drama” em katakana, o alfabeto japonês para palavras estrangeiras, em que “dr” vira “dora” porque japoneses têm dificuldade em reproduzir encontros consonantais, introduzindo vogais na pronúncia.

Existem muitos motivos para tal, mas entre eles está a linguagem, menos arrastada que as tradicionais novelas latino-americanas, a qualidade das produções e, eu diria sobretudo, a ingenuidade das histórias de amor. Porque, venhamos, 90% dos doramas são ancorados em histórias de amor, quando não as têm por tema único. Em meio a séries ocidentais tão sexualizadas, o romance oriental é uma forma de acompanhar e shippar um casal simplesmente para ver um beijo no clímax da novela.

O exemplo que eu sempre uso é o de “Pousando no amor” (2019), dirigida por Lee Jeong-hyo e estrelada pela linda Son Ye-jin, interessantíssima por fugir ao estereótipo “novinha” que está presente no universo pop coreano, interpretando, em seus últimos trabalhos, sempre mulheres maduras com boa pegada cômica, a qual ela sabe interpretar muito bem.

Em “Pousando no amor” a personagem Yoon Se-ri (Son Ye-jin), uma riquíssima empresária sul-coreana, sofre um acidente num voo de parapente e cai na Coreia do Norte. Lá, conhece de cara o soldado Ri Jeong-hyuk, que é alto comandante das forças de Kim Jong-il (o pai do atual Kim Jong-un) e, portanto, inimigo da Coreia do Sul. Se-ri e levada para uma vila no sul da Coreia do Norte e lá tem de viver, sob os cuidados de Jeong-hyuk, até que possa retornar ao seu país.

Na verdade, essa é uma generosidade ímpar do soldado comunista, já que ele deveria encaminhá-la para o Governo e, possivelmente, para a morte, mas desde o princípio ele desenvolve sentimentos por Se-ri, e aí a história acontece. Encontros e desencontros, revelações sobre um Jeong-hyuk jovem que sonhou ser pianista, mas terminou soldado pelas imposições do Governo, tentativas malsucedidas de retornar a mulher para a terra natal e, em meio a essas inocentes aventuras, os momentos de timidez e beijos contritos.

É bobo, mas é bom

Muito diferente do que se passa no Brasil e, mais ainda, nas séries norte-americanas. Isso além das relações humanas que são tecidas entre Se-ri e os norte-coreanos, também interessantemente retratadas, com o bom humor de cenas como a protagonista se ver defrontada com os produtos cosméticos de sua própria empresa, contrabandeados para a Coreia do Norte. Ou uma família que mantém uma bicicleta suspensa para alguém pedalar e gerar energia, já que o país não oferece energia à noite.

Evidentemente, muito daquilo é discurso sul-coreano sobre a Coreia do Norte, da qual pouquíssimo sabemos. Entretanto, arte e realidade se tocam, sem precisar corresponder em sua totalidade, e concordar ou não com o subtexto político da história não impede que ela seja apreciada.

Doramas seguem envoltos em admiração e preconceito. Diferentemente do k-pop e do j-rock, ou dos animes, que se impuseram como parte importante do mercado internacional da cultura, as novelas asiáticas ainda são tidas como histórias para mulheres, histórias fúteis ou o que o valha. Gostos à parte, a redução de uma série de comédia, com uma interessante visão sul-coreana sobre o vizinho e inimigo político do norte, a um romance cor-de-rosa é prejudicial ao entendimento da cultura contemporânea. Sobretudo num segmento que ainda se preocupa em contar histórias, não se limitando ao ativismo cultural da TV Globo e dos conglomerados hollywoodianos.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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