Nessa quinta-feira (3), o presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, concedeu uma entrevista ao jornalista Breno Altman, editor do Opera Mundi, discutindo desde a vitória do Irã contra “Israel” até a crise em que se encontra o governo Lula.
Para Pimenta, o recente ataque de “Israel” ao Irã deve ser compreendido como parte de uma “estratégia de longo prazo do imperialismo”. Ele ressaltou que “o imperialismo está preparando uma retomada do controle da situação política que ele vem perdendo com várias crises”, e que o Irã, junto com a China e a Rússia, faz parte de um bloco de países que se aglutinam contra essa hegemonia. O alvo principal dessa ofensiva imperialista, segundo o presidente do PCO, é a China.
O líder do PCO classificou o ataque ao Irã como “o início de um ataque generalizado”, que felizmente fracassou, mas que não deve ser visto como um evento isolado. Ele argumenta que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), controlada pelo imperialismo, forjou um pretexto para o ataque. “Isso daí mostrou que na realidade eles forjaram um pretexto para um ataque duro contra o Irã”, afirmou.
Ao analisar o desfecho da guerra dos 12 dias entre Irã e “Israel”, Rui Pimenta defendeu que o Irã “se sobrepôs ao sionismo”, demonstrando uma “superioridade esmagadora”. Apesar das perdas iranianas, Pimenta acredita que “Israel” sofreu danos mais significativos em sua infraestrutura.
Ele declarou que o conflito marca o “começo do fim do Estado sionista”:
“Israel acaba de perder a sua função no Oriente Médio. Eu acho que não tem como você manter o estado de ‘Israel’ nas condições em que a coisa está colocada nesse momento”, enfatizou.
Pimenta explicou que o colonialismo se baseia em uma desproporção de forças, e que o Irã agora é militarmente superior a “Israel”, tornando a manutenção do Estado sionista insustentável. Essa mudança de cenário, para ele, pode ter “implicações a favor da causa palestina”.
Sobre a política externa dos Estados Unidos sob Donald Trump, Pimenta avalia que há diferenças essenciais em relação à de seu antecessor, Joe Biden. Segundo ele, Trump enfrenta uma “dificuldade imensa de levar adiante a política do imperialismo” devido à pressão de sua base, que “não quer saber de guerra”. Pimenta classificou o ataque norte-americano ao Irã como uma “encenação” que “não valeu nada”, reforçando a tese de que a base de Trump atua como um entrave para as ações imperialistas.
Ao caracterizar a República Islâmica do Irã, Rui Pimenta fez questão de destacar a peculiaridade do xiismo dentro do islamismo. Ele argumentou que “os marxistas nunca fizeram caso da ideologia dos movimentos de libertação nacional”, citando o apoio a movimentos como o dos Boxers na China, que eram “muito doidos”, mas lutavam contra a opressão.
Pimenta descreveu o xiismo como um “movimento dissidente e revolucionário”, que historicamente se opôs à ditadura do Xá no Irã. Embora reconheça características conservadoras, inerentes a uma religião, ele considera que a propaganda imperialista exagera na questão dos direitos das mulheres.
“O Irã tem uma população muito grande de mulheres universitárias. O Irã não é o Afeganistão. O Khamenei não é o Talibã. É muito diferente.”
Sobre a relação entre os clérigos xiitas e o Partido Comunista do Irã (Tudeh) durante a Revolução de 1979, Rui Pimenta avalia que a repressão ao Tudeh não foi de natureza ideológica, mas sim um “conflito de interesse político” que eclodiu durante a guerra Irã-Iraque em 1981, quando o Tudeh se opôs à política do governo em circunstâncias de ameaça à revolução. Ele ressaltou que, no início, o Tudeh chegou a participar do governo xiita, indicando que a divergência não era originalmente de cunho ideológico.
O dirigente trotskista explicou que o marxismo defende que a religião será superada pelo desenvolvimento social, e não por repressão. Ele defendeu a importância de evitar qualquer tipo de perseguição religiosa e que, muitas vezes, o conflito com a hierarquia religiosa é de natureza política, como na Revolução Espanhola, onde padres atuavam como “vanguarda do fascismo”.
Questionado sobre a estratégia nuclear do Irã após a ruptura com a AIEA, Pimenta defendeu que a medida é um “gesto de independência”. Ele enfatizou que o Irã tem o direito de desenvolver sua tecnologia nuclear da forma que considerar melhor, sem a interferência de países que já possuem armas atômicas.
Rui Pimenta defendeu que o critério fundamental para a esquerda se posicionar em conflitos como os da Ucrânia, Palestina, Irã e África Ocidental é a “luta contra o imperialismo”.
Em sua análise da política externa do governo Lula, Rui Pimenta classificou-a como um “jogo de equilibrismo” que busca manter uma “neutralidade tradicional”. Contudo, ele considera que essa política “caducou” diante da atual situação mundial. “Hoje ela está completamente esgotada”, disse, citando o caso de Gaza, onde Lula, apesar de sua simpatia pela causa palestina, “não consegue fazer nada”.
Sobre o suposto “giro à esquerda” do governo Lula após a rejeição do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) pelo Congresso, Pimenta foi cauteloso. Ele indicou que a estratégia de Lula ainda é buscar o STF contra o Congresso, o que, para ele, seria “uma guinada à direita”. No entanto, Pimenta observou o “fracasso da política levada pelo PT”, com a “frente ampla desaparecendo”. Ele acredita que, se o STF não auxiliar Lula, o presidente “vai ter que em alguma medida dar uma guinada à esquerda”, o que afetaria toda a política do governo.
Em relação às eleições de 2026, Rui Pimenta confirmou que o PCO considera “lançar um candidato no primeiro turno” para fazer uma “demarcação política” e “apontar um caminho diante dos impasses que a situação política apresenta”.
No final do programa, Rui Pimenta recomendou o livro Do Fundo da Noite, de Jan Valtin, descrevendo-o como um “livro extraordinário” sobre as memórias de um ex-militante do Partido Comunista Alemão e agente na Marinha Mercante. Ele destacou as histórias sobre o partido e os primeiros anos do nazismo, considerando a leitura “extremamente agradável e interessante”.
Como indicação de filme, Pimenta sugeriu o faroeste High Noon (traduzido como Matar ou Morrer no Brasil), estrelado por Gary Cooper. Ele classificou o filme como “um dos melhores filmes do gênero” e ressaltou sua importância como uma “crítica muito dura do Macartismo” na época de seu lançamento.
Assista à entrevista completa de Rui Pimenta a Breno Altman no canal do Opera Mundi: