No próximo dia 25, a Universidade Marxista iniciará o seu mais novo curso: Bolchevismo e stalinismo. Ministrado por João Jorge Pimenta, dirigente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), o curso terá duração de dois dias e discutirá a política da Oposição de Esquerda à direção da União Soviética.
Um dos marcos dessa luta é o Manifesto dos 46, também conhecido como Declaração dos 46. Publicado em 15 de outubro de 1923, o manifesto foi assinado por 46 proeminentes membros do Partido Comunista Russo (bolchevique), muitos deles veteranos da Revolução de 1917 e figuras de alta patente no Exército Vermelho e na economia soviética.
A declaração surgiu em um momento de profunda crise econômica e política na União Soviética. A Nova Política Econômica (NEP), introduzida por Lênin em 1921, havia trazido um alívio temporário, mas no final de 1923, o país enfrentava uma crise econômica aguda, caracterizada pela crise da tesoura, onde os preços dos produtos agrícolas caíam, enquanto os preços dos bens industriais subiam, prejudicando os camponeses e gerando insatisfação.
No entanto, o cerne do manifesto era a crítica à política interna do partido. Os signatários denunciaram a “ditadura fracionária” e a crescente influência da “hierarquia secretarial” liderada por José Stálin, então secretário-geral. Eles argumentavam que a liberdade de discussão interna havia sido sufocada, transformando o partido de um “coletivo vivo” em um “aparato burocrático selecionado”.
O manifesto foi um apelo direto ao birô político, exigindo a restauração da democracia interna no partido e uma discussão franca e aberta sobre os rumos econômicos e políticos. O documento era uma clara contestação ao poder em ascensão de Stálin, que controlava cada vez mais os órgãos de nomeação e organização do partido. A publicação do manifesto simbolizou a primeira grande rachadura na liderança bolchevique após a morte de Lênin e marcou o início da luta pelo poder que definiria o futuro da União Soviética.
O documento inicia com um tom alarmante, afirmando que “a extrema seriedade da situação nos força… a dizer-lhes abertamente que a continuação da política da maioria do Politburo ameaça todo o partido com grave infortúnio”.
Do ponto de vista da economia, os autores argumentam que, apesar de “sucessos indubitavelmente grandes no domínio da indústria, agricultura, finanças e transporte”, o sucesso foi “espontâneo, não graças a, mas apesar da liderança inadequada”. O texto aponta para a crise de crédito, a paralisação da venda de bens industriais devido aos altos preços e a interrupção no pagamento de salários. Eles concluem que a “ausência de qualquer liderança” planejada e organizada está levando a uma “crise severa da economia como um todo”.
Do ponto de vista da política, os autores afirmam que, sob a aparência de unidade, há uma “seleção unilateral de pessoal, que pode se adaptar às opiniões e simpatias de um círculo restrito”. Eles criticam a “divisão em uma hierarquia de secretariado e em ‘leigos’”, o que leva ao desaparecimento da “discussão livre dentro do partido”.
O documento sugere a convocação de uma conferência de membros do Comitê Central com “os quadros partidários mais proeminentes e ativos”, incluindo aqueles com visões divergentes, para encontrar “a solução mais rápida e indolor das contradições que estão dilacerando o partido”.
Embora o corpo principal do texto seja assinado por três membros, E. Preobrazhensky, S. V. Breslav e L. Serebriakov, ele é endossado por dezenas de outros membros de alto escalão, o que evidencia a amplitude da insatisfação. Muitos dos signatários, como A. Beloborodov, G. Piatakov e A. Voronsky, assinam com ressalvas, mas concordam com a parte prática das propostas.





