Nessa semana, o Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu aumentar a pena do presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), Adilson Sousa Santiago, por ter chamado o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, de “DeHitler” nas redes sociais. A condenação passou de quatro meses de detenção para um ano, convertido em multa de R$7.590,00 a ser paga ao próprio secretário.
Curiosamente, enquanto o sistema de Justiça se mobiliza para proteger a “honra” de uma autoridade pública, as mortes provocadas pela Polícia Militar seguem tratadas como dano colateral.
Em 2023, policiais militares de São Paulo mataram 392 pessoas, segundo dados da SSP-SP. Nos últimos 10 anos, o estado acumulou mais de 11 mil mortes causadas pela polícia, maior índice do país. Em comparação, o número de policiais mortos em serviço no mesmo período foi de cerca de 300 — ou seja, para cada PM morto, mais de 36 civis foram mortos pela corporação.
Em algumas operações recentes, como no Guarujá (2023), 28 pessoas foram mortas em apenas uma semana. Nenhuma autoridade foi responsabilizada criminalmente.
Enquanto isso, uma metáfora em rede social contra o secretário-geral da segurança pública mobiliza recursos, advogados e desembargadores. Derrite, que chegou a dizer que “é vergonhoso para um policial não ter pelo menos três mortes no currículo” (frase pela qual pediu desculpas), agora sai indenizado e protegido pela toga.
O Condepe, órgão cuja função é justamente fiscalizar abusos do Estado, tem seu presidente perseguido. Já o Estado, responsável por milhares de mortes, segue blindado.





