Nascida em 16 de abril de 1925 na cidade de al-Salt, atual Jordânia, Salma Khadra Jayyusi foi uma das principais intelectuais do mundo árabe no século XX. Era filha de Subhi Sa‘id al-Khadra, advogado palestino oriundo de Safad, e de Anisa Yusuf Salim, libanesa da região de Jiba‘ al-Shuf.
Desde cedo, foi marcada por uma formação intelectual sólida. Sua mãe, mulher culta, transmitiu-lhe não apenas histórias familiares, mas também o gosto pela literatura universal — como as leituras de romances feitas pelo avô, o médico Yusuf Salim, nas noites de inverno. Esse ambiente doméstico formou as bases do interesse de Jayyusi pela literatura e pela cultura.
Frequentou escolas em Jerusalém e Acre, concluindo o ensino médio no Colégio Schmidt para meninas, em Jerusalém. No entanto, foi sua casa o principal centro de sua educação. Prosseguiu os estudos na Universidade Americana de Beirute, onde se formou em literaturas árabe e inglesa. De volta à Palestina, lecionou no Colégio de Professoras de Jerusalém.
Em 1946, casou-se com Burhan Jayyusi, palestino radicado na Jordânia, também egresso da Universidade Americana de Beirute. A carreira diplomática do marido levou o casal a viver em diversas cidades, como Roma, Madri, Bagdá e Londres.
Nos anos 1950, Jayyusi envolveu-se ativamente na cena literária de Bagdá, considerada, à época, a capital da poesia árabe. Em 1960, publicou sua primeira coletânea de poemas, Retorno da Fonte Onírica.
Ainda naquela década, participou de intenso debate literário entre dois polos culturais representados pelas revistas Al-Adab e Shi‘r. A primeira buscava renovar a poesia sem romper com os fundamentos do nacionalismo e da tradição árabe; a segunda promovia uma ruptura com os valores herdados e defendia o modernismo literário. Jayyusi contribuiu com ambas, embora rejeitasse o exclusivismo modernista. Escreveu, sobre o poema em prosa, que “essa forma um dia será considerada velha, pois tudo está em constante mudança”, refletindo sua postura crítica diante da tendência de enclausurar a arte em fórmulas.
Com uma produção crítica já consolidada, Jayyusi elaborou sua tese de doutorado — Tendências e Movimentos na Poesia Árabe Moderna — defendida na Universidade de Londres em 1970. Depois disso, lecionou em países árabes como Sudão e Argélia, e também nos Estados Unidos.
Em 1973, foi convidada pela Associação de Estudos do Oriente Médio da América do Norte para uma série de conferências em universidades dos Estados Unidos e Canadá. A turnê, que incluiu vinte e duas instituições, demonstrou a profunda ignorância do meio acadêmico ocidental sobre a cultura árabe e islâmica. Essa constatação foi determinante para uma nova etapa de sua militância cultural.
A partir de 1980, Jayyusi fundou o Project of Translation from Arabic (PROTA), iniciativa sem sede fixa, mas com colaboradores em dezenas de universidades árabes e ocidentais. Jayyusi escolhia pessoalmente as obras a serem traduzidas, buscando apresentar a riqueza literária da cultura árabe a um público que, até então, pouco conhecia suas expressões.
Publicou traduções de poesia, contos, romances e peças teatrais. A primeira grande antologia organizada por ela, Modern Arabic Poetry: An Anthology (1987), reuniu obras de mais de noventa poetas.
Paralelamente, fundou outro projeto, o East-West Nexus, cujo objetivo era apresentar, em inglês, a cultura árabe clássica e moderna por meio de conferências acadêmicas e estudos aprofundados, combatendo os estereótipos promovidos pelo imperialismo. O primeiro fruto desse esforço foi a publicação de O Legado da Espanha Muçulmana (1992), obra de referência que resgata a contribuição árabe à civilização ibérica. Em 2009, publicou Direitos Humanos no Pensamento Árabe, desmistificando a noção de que os conceitos de direitos humanos são uma invenção ocidental.
Entre PROTA e East-West Nexus, foram mais de cinquenta volumes publicados, onze dos quais com caráter enciclopédico. Jayyusi trabalhou com dezenas de tradutores e editores, gerindo seus projetos a partir de onde estivesse: Boston, Londres, Amã ou até mesmo hotéis em suas viagens.
Suas atividades renderam convites para conferências e homenagens em diversas capitais europeias, norte-americanas e árabes. Em 1985, por exemplo, foi convidada pela Academia Nobel, após uma conferência na Suécia, para apresentar um estudo sobre a literatura árabe. Três anos depois, assistiu à cerimônia do Prêmio Nobel concedido a Naguib Mahfouz, em reconhecimento de seu papel na divulgação da literatura árabe.
Pelo conjunto de sua obra, recebeu homenagens de instituições como a Organização para a Libertação da Palestina (1991), o Ministério da Cultura do Kuwait (2002), o Conselho Superior de Cultura do Egito (2006), o Ministério da Cultura da Argélia (2007) e a Universidade Ahliyya de Amã (2009), entre outros. O arabista alemão Stefan Sperl, da Universidade de Londres, declarou que sua sensibilidade era “a marca de todas as suas contribuições originais, tornando-a uma das grandes humanistas do nosso tempo”.
Faleceu em Amã, em 20 de abril de 2023, aos noventa e oito anos.