Neste sábado (14), ocorreu, no Centro Cultural Benjamin Péret (CCBP), em São Paulo, o lançamento do livro A luta por um partido revolucionário. Trazendo 400 páginas com artigos e documentos escritos no calor dos acontecimentos, a obra narra a trajetória do Partido da Causa Operária (PCO) desde as articulações para a formação do Partido dos Trabalhadores (PT), ainda em 1979, até a exclusão do núcleo que dará origem ao partido trotskista, em 1990.
Presidente nacional do PCO e testemunha dos fatos narrados, Rui Costa Pimenta fez uma fala sobre a importância do livro, a conjuntura política e como esse período da história recente do País deixa marcas ainda hoje. “O PT das origens”, destacou Pimenta, “nunca foi revolucionário”, desmontando uma versão dos fatos defendida tanto por setores da esquerda pequeno-burguesa quanto da direita sobre uma suposta guinada do partido de esquerda à direita com o tempo. Para o dirigente, o que se vê hoje, com alianças amplas e políticas de conciliação, é apenas a intensificação do oportunismo que já marcava o PT em sua fundação.
Segundo Pimenta, a base da obra é uma coletânea publicada em 1988, quando a degeneração do PT à direita já era evidente. Um dos marcos desse processo foi o Congresso da CUT do mesmo ano, que alterou profundamente os estatutos da central sindical. As mudanças foram orientadas para restringir a influência das Oposições Sindicais (OS), organizações responsáveis por impulsionar a fundação da CUT e que, àquela altura, representavam um contraponto à linha conciliadora da direção majoritária liderada por Luiz Inácio Lula da Silva.
A partir de então, o livro documenta como essa corrente majoritária do PT irá consolidar o afastamento do partido das reivindicações operárias mais combativas e caminhar em direção a alianças com setores burgueses. O lançamento da candidatura de Lula à Presidência da República em 1989, com o ex-juiz e político conservador Bisol como vice, é apresentado como uma das inflexões mais evidentes desse curso.
A escolha de uma figura de conciliação simbolizava a intenção da direção petista em estabelecer pontes com setores da burguesia. Essa política se repetiria em 2002, quando Lula venceu as eleições com um vice da extrema direita empresarial, José Alencar, e se aprofundaria na eleição de Fernando Haddad em São Paulo em 2012, com o apoio declarado de Paulo Maluf — político ligado diretamente à ditadura militar. Rui Pimenta destaca que essas alianças, ao contrário do que muitos acreditam, não marcam uma ruptura com o “PT das origens”, mas sim a continuidade de uma política de colaboração de classes.
A obra percorre os 11 anos entre 1979 e 1990, abordando em detalhe cada um dos grandes debates internos que marcaram o surgimento, ascensão e derrocada política do PT como ferramenta de organização da classe trabalhadora. Segundo o dirigente do PCO, trata-se de uma análise coerente e sistemática que jamais foi realizada por outras correntes da esquerda brasileira.
A maioria das organizações trotskistas, explica, sempre rejeitou a entrada no PT, considerando-o um partido manipulado pela ditadura. A corrente que mais tarde formaria o PCO, no entanto, defendeu a participação ativa e o esforço por transformar o PT em um verdadeiro partido revolucionário.
Desde sua entrada, a política do grupo dentro do PT foi marcada pela defesa de um programa socialista e pela luta por enraizar o partido no movimento sindical. No entanto, essa posição encontrou resistência da direção lulista, que atuava no sentido de afastar o PT da influência direta dos sindicatos e da base operária organizada.
Um exemplo apontado por Pimenta foi a luta contra a centralização do financiamento de campanhas, uma medida imposta pela direção que impedia que candidatos com base própria pudessem disputar de igual para igual. No plano organizativo, o PT se estruturava como uma colcha de retalhos onde prevalecia o pragmatismo, mas que, na prática, reprimia qualquer organização com linha própria revolucionária. “No PCO, se alguém defende ‘Israel’, sai até tiro. No PT, os senadores podem apoiar o enclave sionista”, criticou.
O dirigente também relatou os mecanismos usados para excluir sua corrente do partido. Embora o grupo tenha aceitado as cláusulas draconianas impostas para a atuação das tendências internas, a direção petista simplesmente alegou que os militantes não iriam cumpri-las e, com isso, efetuou a expulsão.
Segundo ele, o caso do PCO foi um “estupro”, diferente do que ocorreu com o PSTU, que foi convidado a se retirar com mais diplomacia após as eleições. As razões para isso, afirmou, estavam ligadas ao porte organizativo e à coerência programática de cada grupo: enquanto o PSTU fazia oposição controlada, o PCO se tornava um problema real para a direção majoritária.
Um dos pontos centrais da fala de Pimenta foi a desmistificação do chamado “PT das origens”. Ele afirma que o partido nunca foi revolucionário, nem mesmo em sua fundação. Lula, inclusive, jamais se apresentou como tal.
O programa do PT, desde o início, limitava-se à defesa da democracia e da participação institucional dos trabalhadores. Não havia uma proposta socialista, nem uma perspectiva de ruptura com o sistema capitalista. “O PT das origens é igual ao de hoje”, resumiu. “O que Lula defende hoje? A democracia. O que ele defendia naquela época? A mesma coisa”.
O livro também resgata o papel central do movimento operário na sobrevivência do PT durante os anos 1980. Depois do fraco desempenho nas eleições de 1982, que quase levou à liquidação do partido, foi a ascensão das greves e a fundação da CUT, em 1983, que revigoraram a legenda.
Pimenta relembra que houve um momento em que a central sindical conquistava até mil sindicatos por ano, com mobilizações explodindo em várias categorias. A CUT abrigava milhões de trabalhadores e servia como o principal sustentáculo do PT. No entanto, essa base foi sendo progressivamente descartada em favor de alianças eleitorais com a burguesia, o que, para ele, representa uma traição histórica.
Hoje, afirma o dirigente, o PT não passa de uma plataforma eleitoral. “Se fosse para eleger trabalhadores, ainda poderíamos considerar, mas é para eleger advogados, professores”. O resultado, afirma, é que o PT se tornou um “balaio de gatos” onde reina a confusão ideológica e a manipulação política.
O livro lançado no sábado é, assim, não apenas um balanço da trajetória do PT e da fundação do PCO, mas também uma contribuição teórica e histórica importante para a elevação política da classe trabalhadora. Trata-se de uma ferramenta para entender as origens da situação atual e o papel decisivo da política revolucionária na superação luta de classes.