Com 45 anos recém-completados, o Partido dos Trabalhadores enfrenta uma crise que se aprofunda e expõe o esgotamento de sua estratégia de conciliação. A recente queda na popularidade de Lula, registrada pelo Datafolha, com a aprovação caindo mais de 11 pontos percentuais em apenas dois meses, não é um fenômeno passageiro, mas um reflexo da frustração de sua base eleitoral. A promessa de um governo voltado para os trabalhadores se transformou em um modelo de administração voltado para agradar banqueiros e empresários, com cortes no orçamento social e a manutenção de um ajuste econômico que sacrifica os mais pobres.
No Nordeste, tradicional reduto do partido, o apoio ao governo sofre erosão constante. Entre os trabalhadores informais e de baixa renda, a percepção é clara: os programas sociais não compensam a corrosão do poder de compra causada pela alta dos preços dos alimentos e a estagnação dos salários.
Ao longo dos anos, o PT consolidou-se como uma legenda reformista dotada de uma política muito limitada, sem capacidade de mobilização. A desindustrialização e a crise do movimento operário aprofundaram as tendências pequeno-burguesas do partido, presentes já na sua fundação, em fevereiro de 1980, levando-o a uma adaptação ao neoliberalismo. O partido escolhera o caminho da acomodação, apostando na manutenção do regime político e na parceria com setores que jamais aceitaram a base operária do partido.
Esse erro estratégico é evidente na condução da política econômica. O ministro Fernando Haddad segue uma cartilha neoliberal de austeridade fiscal que pune os trabalhadores e beneficia o capital financeiro. A obsessão em garantir superávit e conter gastos públicos enfraquece ainda mais a economia popular e empurra milhões para o endividamento.
Em vez de ampliar investimentos em setores essenciais e garantir aumento real do poder de compra da população, o governo restringe o orçamento e tenta vender estabilidade econômica como solução mágica. A falência desse modelo não deveria surpreender ninguém. O PSDB passou décadas implementando políticas semelhantes e foi varrido do mapa político justamente por isso.
A população e especialmente o setor mais pobre não perdoam quem corta benefícios e reduz a capacidade de consumo das famílias. O PT parece ignorar essa lição e insiste em governar para agradar o mercado financeiro, confiando que a suposta “democracia” imposta pelo imperialismo vai protegê-lo de uma nova ofensiva do bolsonarismo.
Além disso, a fragmentação da esquerda coloca o PT diante de um impasse. A estratégia de federações e alianças artificiais pode garantir alguma sobrevida institucional, mas não substitui a necessidade de uma base militante ativa. Sem mobilização, sem um enfrentamento real contra o imperialismo e sem um programa que fale diretamente às massas exploradas, o partido seguirá seu processo de decomposição.
A única saída viável para Lula e para o PT é romper com essa política de conciliação suicida. Isso significa abandonar a ilusão de que o apoio de setores “democráticos”, isto é, o imperialismo pode salvá-lo. O governo precisa se voltar para a base popular, demitir Haddad e toda a equipe econômica, promovendo um giro na economia em favor dos trabalhadores e recuperar sua capacidade de mobilização. Em vez de tirar dinheiro dos pobres para agradar banqueiros, deve ampliar os investimentos sociais e garantir condições dignas de vida para quem realmente o elegeu.
O tempo está passando e a paciência do povo também. Se o PT continuar insistindo no caminho da acomodação e da submissão à frente ampla pela defesa de políticas impopulares como o ajuste fiscal, corre o risco de sofrer um revés político irreversível. O desgaste não será resolvido com mudanças cosméticas na comunicação ou com ajustes ministeriais superficiais. É preciso romper com a política neoliberal, enfrentar o grande capital e reconquistar a confiança da classe trabalhadora. Caso contrário, a direita continuará ocupando o espaço deixado pela covardia da esquerda oficial.