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Coluna

Um ensaio, um tanto atrasado, sobre o filme Oppenheimer

Uma defesa escancarada da bomba atômica na atual conjuntura de guerra internacional, o desespero do imperialismo é assustador, e, ao mesmo tempo, promissor 

Finalmente assisti ao filme Oppenheimer, de Christopher Nolan. Na época que foi lançado, o PCO cantou a bola de que era uma grande propaganda da bomba atômica. Meses depois, ele se tornou um dos filmes mais premiados da história do Oscar, foi indicado em 13 categorias e venceu sete. Um leigo poderia até acreditar que é uma obra-prima, mas a verdade é que os Oscars são uma mera ferramenta de propaganda do imperialismo. Aqui não pretendo analisar nada do filme além de seu roteiro, que é tenebrosamente pró-imperialista.

Qual a história do filme, a criação da bomba atômica? Sim, mas este não é o foco. O protagonista, Robert Oppenheimer, está sendo perseguido pelo governo norte-americano por meio de um julgamento farsa anos após o lançamento da bomba. O filme dá a entender que o motivo seria que ele se tornou um militante anti-bombas atômicas e uma pessoa com muito prestígio, pois era considerado o pai da bomba. E por isso deveria ser neutralizado.

A principal propagando do filme é: Oppenheimer é um ser-humano, com alguns defeitos, mas de forma geral, com um bom coração. Essa boa pessoa lutou para construir a bomba atômica antes dos nazistas para poder impedir que Hitler dominasse o mundo. Quando Hitler foi derrotado, sem a bomba atômica, Oppenheimer mesmo assim lutou para que a guerra acabasse logo no Japão e, assim, mortes fossem evitadas. Moral da história: pessoas boas podem defender o bombardeio atômico de cidades de civis. Essa é a grande propaganda.

E como isso é feito? Primeiro, Oppenheimer é um esquerdista, ele circula no meio dos comunistas, quase se filiou ao partido, é um importante articulador do sindicato dos professores universitários. Esse ponto é crucial, pois a propaganda é voltada justamente para esse setor, mais ligado à esquerda. Outra figura usada para limpar a imagem dele é o próprio Einstein, no início do filme ele está enfurecido com Oppenheimer, mas no final ele o perdoa.

O próprio filme se denuncia em um momento de reviravolta. Um personagem, responsável pela perseguição jurídica a Oppenheimer, afirma com todas as letras que seu julgamento deve ser feito às escuras para que ele não tenho o efeito reverso e lhe dê popularidade. Bom, o filme divulgou esse julgamento para centenas de milhões no mundo inteiro, o julgamento no filme é mais importante que a própria invenção da bomba atômica. O roteiro, em um ato falho, admite qual é o seu objetivo: limpar a barra de um dos maiores criminosos do século XX.

É preciso entender então um pouco da história, algo que não fica nem um pouco claro no filme. Em 1942, quando o imperialismo dos EUA não estava abertamente na guerra, eles começam o projeto de criação da bomba atômica. Seu objetivo é ter tecnologia mais avançada que a do imperialismo alemão. Oppenheimer – e isso fica claro até no filme – não é um cientista importante, mas sim um burocrata. Ele é escolhido, pois é considerado um homem de confiança para o imperialismo. O filme o coloca como um esquerdista, mas a verdade é que ele foi escolhido por ser um físico capaz de servir aos interesses do Pentágono, fazendo a mediação com os demais físicos, que eram mais cientistas e menos políticos.

Um momento crucial é justamente na virada política que foi a derrota do nazismo. Toda a justificativa para fazer uma arma tão perigosa era de que o inimigo era muito perigoso. Quando esse inimigo foi derrotado, pela União Soviética, muitos cientistas não queriam terminar o projeto. Não havia motivo real. Oppenheimer se mostrou uma escolha certa do governo dos EUA e levou o projeto até o fim. Esse momento de enorme importância é uma cena muito curta no filme.

Os cientistas estão confusos se continuam ou não o projeto. Eis que chega Oppenheimer e os convence com o argumento mais fraco do mundo, a bomba salvaria vidas. É o argumento que é usado até os dias de hoje. A bomba faria o Japão se render mais rápido. Do ponto de vista militar isso é absurdo. O bombardeio de Tóquio com bombas incendiarias causou tanta destruição como Hiroshima, a diferença é que muitos aviões foram utilizados. Ou seja, do ponto de vista prático, naquele momento, a bomba não seria muito diferente do que os EUA já faziam. Ela obviamente já era pensada como uma arma que seria usada em possíveis guerras futuras e não no Japão, que já estava derrotado.

Isso não é algo que se descobriu depois, na época já era óbvio. Mesmo assim, Oppenheimer serviu ao imperialismo e levou a pesquisa até o fim. O filme o coloca como herói, como um dos homens que garantiu a vitória no Japão, supostamente usando menos violência.

No fim, é tudo uma grande propaganda do imperialismo sobre a bomba atômica. Oppenheimer é o cidadão comum, uma pessoa com imperfeições, mas bem-intencionado, é até esquerdista, ao mesmo tempo, também amigo dos direitistas. Esse cidadão comum usa a bomba atômica para o bem e depois é injustiçado. Pobre Oppenheimer.

O imperialismo, portanto, prepara o terreno para uma possível guerra atômica. Já começou sua campanha de propaganda para ter algum embasamento social. É positivo, pois demonstra sua fraqueza militar. O Irã demonstrou isso, superou todas as defesas do sionismo e dos EUA com seus mísseis hipersônicos. Ao mesmo tempo, a guerra em Gaza já aponta que o imperialismo precisara de muita propaganda para usar a bomba atômica. Afinal, uma campanha com bombas comuns deixou o governo Biden na corda bamba.  Apesar do otimismo, é preciso ficar apreensivo, o caso de “Israel” mostra que o imperialismo acuado pode fazer literalmente qualquer coisa.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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