Uma obra-prima de 1928 e uma excelente referência contra o imperialismo, Tempestade sobre a Ásia é um filme russo, dos tempos do cinema mudo, dirigido pelo cineasta Vsevolod Pudovkin (1893-1953).
Recentemente, escrevi um texto sobre a luta da classe operária argelina contra os colonizadores franceses representada no filme A Batalha de Argel. Agora, com esse de Pudovkin podemos adicionar mais um grande filme que tem como tema a luta antiimperialista.
O enredo se passa nos anos da Revolução Russa. Cenas de guerrilheiros e milícias revolucionárias são essenciais para o desenrolar da trama. O cenário é a Mongólia, que o cineasta retrata quase que de maneira documental.
Na história, a vida dura dos habitantes nômades que vivem nas áreas desertas e isoladas do país. Eles vivem da caça de animais e da venda de peles em um mercado explorado por europeus, provavelmente ingleses, que pagam uma miséria pelo trabalho.
O heroi é um jovem mongol que decide vender no mercado uma linda e rara pele de raposa, caçada por seu pai doente. Lá é roubado pelos estrangeiros, que lhe oferecem quase nada pelo precioso objeto.
A partir desse episódio, acompanhamos a história do jovem durante muitos anos. Desde sua fuga, após ferir um atravessador, até se tornar consciente de sua luta contra os colonizadores, que o tratam como animal.
O enredo é perfeito, os atores são ótimos e todas as artimanhas imperialistas estão ali representadas.
Em um dado momento, por exemplo, há uma tentativa explícita de manipular a opinião pública pela criação artificial de um governante que é vendido como um descendente direto do heroi e conquistador Gengis Khan.
No fim, os agentes estrangeiros são apresentados pelo que verdadeiramente são: um bando de ladrões mentirosos e violentos.
Obviamente, fica impossível não ver semelhanças entre a luta antiimperialista dos dias de hoje e aquela representada no filme.
A pergunta que fica é: como um filme de quase 100 anos consegue ser tão atual? O que temos em comum é o capitalismo que, naquele momento era apenas um sistema parasita, feito por e para parasitas.
Em 1928, o mundo já havia passado pela I Guerra Mundial e estava a caminho da próxima.
Então, não é difícil perceber que, apesar de contextos históricos e geográficos tão distintos, as lutas pareçam ser as mesmas.
Ainda repetimos muito as mesmas desgraças. A tristeza é saber que a lucidez do filme de 1928 não chegou a 2024.
Sobra muito identitarismo nos filmes atuais. Falta pensamento materialista e histórico sobre a realidade. Falta vanguarda.