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Victor Assis

Editor e colunista do Diário Causa Operária. Membro da Direção Nacional do PCO. Integra o Coletivo de Negros João Cândido e a coordenação dos comitês de luta no estado de Pernambuco.

Coluna

Resposta às intrigas do PSTU veiculadas em nota da APAP

A tentativa de indispor os apoiadores da causa palestina e o conjunto da esquerda contra o PCO e contra as organizações que não baixam a cabeça para os sionistas não irá funcionar

Na noite desta sexta-feira (24), tomamos conhecimento de uma nota escrita pela Associação Pernambucana de Anistiados Políticos (APAP). O texto foi lido em uma plenária aberta do Comitê de Solidariedade Palestina-Pernambuco e veiculado, horas depois, no grupo de mensagens do mesmo comitê.

Intitulado Fatos do ato de 15 de maio, o texto, curiosamente, contém tudo, menos fatos. Trata-se, na verdade, de um conjunto de acusações infundadas e caluniosas sobre a atuação do Partido da Causa Operária (PCO) no ato público que aconteceu no Recife na referida data.

Assim a APAP inicia sua nota:

“Diante de fatos específicos lamentáveis ocorridos no último dia 15 de maio (…), precisamente o comportamento desrespeitoso levado a efeito por militantes do Partido da Causa Operária (PCO) dirigido ao Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), a Associação Pernambucana de Anistiados Políticos vem manifestar seu posicionamento.”

Mais genérico, impossível. O que seria um “comportamento desrespeitoso”? Que militantes teriam sido esses? Quantos foram?

Sem responder as principais perguntas que surgem desse tipo de acusação, a APAP se limita a dizer, no parágrafo seguinte, que o referido “comportamento” se manifestou “em palavras de ordem e ofensas rasteiras puxadas por integrantes do PCO, buscando apoio coletivo para um coro de ataque ao PSTU, no momento em que militante deste partido buscava dialogar, durante sua fala ao microfone, com policiais militares que integravam a operação de bloqueio do ato, de modo a impedir que chegássemos ao Consulado Estadunidense“.

Novamente, a APAP falha em descrever o que de fato aconteceu. Os militantes do PCO chamaram palavras de ordem? Sim, claro, assim como praticamente todos os manifestantes de qualquer ato público no planeta. Qual teria sido a palavra de ordem que mereceu uma nota de repúdio da APAP? Teriam os militantes do PCO defendido o Estado de “Israel”? Teriam os militantes do PCO saudado a ditadura militar?

Lendo a nota, não é possível saber. Também não é possível entender que “ofensas rasteiras” seriam essas, tampouco quem teria as proferido e por qual motivo. Os militantes do PCO estavam xingando a mãe dos militantes do PSTU gratuitamente? Alguém do PSTU pisou no pé de alguém do PCO e esta pessoa reagiu com um xingamento?

Embora não explique nada sobre o suposto “comportamento desrespeitoso”, esse trecho traz, pela primeira vez, um fato. Um “militante do PSTU” estava realmente “dialogando” com as forças policiais enviadas para reprimir a manifestação.

Aqui, cabem algumas explicações.

A barreira policial à qual a APAP se refere foi o bloqueio ilegal realizado pela Polícia Militar do estado de Pernambuco na Rua Gonçalves Maia, com o objetivo de impedir que a passeata chegasse próximo ao Consulado dos Estados Unidos. O bloqueio, que atenta contra o direito de locomoção e o direito de manifestação, previstos na Constituição Federal, se manteve até a dispersão do ato. Chama a atenção, no entanto, que esse acontecimento em si não tenha motivado uma nota de repúdio da APAP, mas que o “comportamento desrespeitoso de militantes do PCO”, sim. A APAP chega a afirmar que “tal comportamento [dos militantes do PCO] deixa uma nódoa desnecessária em nosso ato“, mas é incapaz de criticar a “nódoa” deixada pelo aparato de repressão do Estado.

O tal “militante do PSTU” não era qualquer militante, mas Bruno Otoni, homem que representa publicamente o PSTU quando a agremiação participa de alguma atividade relacionada à causa palestina. O tal “diálogo”, por sua vez, era, na verdade, uma pregação para os agentes da repressão ali presentes. Otoni chamou os policiais de “companheiros policiais” e chegou a dizer que eram “oprimidos”.

Se o PSTU, em sua fala, optou por se dirigir aos agentes de uma organização que é um esquadrão da morte institucionalizado, responsável pela morte de seis mil pessoas por ano no Brasil, está em seu direito de fazê-lo. No entanto, há outros fatos relacionados à fala de Bruno Otoni que a APAP esqueceu de mencionar.

Em primeiro lugar, Otoni ocupava não apenas a função de orador do PSTU no ato, mas a de moderador do carro de som. De sorte que os momentos em que pregou para a Polícia Militar não ficaram restritos apenas à sua fala em nome do PSTU, mas também nos momentos em que estava chamando a lista de inscritos. Otoni se valeu, portanto, da função que o comitê lhe confiou para fazer propaganda de uma política oposta à defendida pela esmagadora maioria dos manifestantes.

A posição defendida por Otoni também vai de encontro ao que é constantemente defendido pelo comitê em suas atividades, que entoam o grito de guerra “chega de chacina, PM na favela, ‘Israel’ na Palestina”. Ora, se a PM corresponde a “Israel” no Brasil, então teríamos que concluir que a posição do PSTU não seria a de combater “Israel”, mas sim de contemporizar com a entidade responsável pelo assassinato de 15 mil crianças. Não é essa a linha política geral do comitê.

A APAP também esqueceu de mencionar o fato de que Otoni, na condição de mediador, tentou impedir que outras organizações tivessem voz na manifestação, anunciando o fim das falas, mesmo com pessoas inscritas.

Estabelecidos os fatos, entender a que se referem as acusações da APAP se torna uma tarefa fácil. Os militantes do PCO puxaram apenas três palavras de ordem em relação à polícia. Duas delas em conjunto com os outros manifestantes, que são comuns em todo ato público: “chega de chacina, PM na favela, ‘Israel’ na Palestina” e “não acabou, tem que acabar, eu quero o fim da Polícia Militar”.

A terceira palavra de ordem, contudo, não estava sendo chamada na manifestação. Ela foi chamada do carro de som por mim, representando o PCO, que gritei: “deixa de caô, policial não é trabalhador”. Meu grito foi repetido pela maioria da manifestação. Se isso é um “coro de ataque ao PSTU”, que seja então.

É um “coro de ataque” à PM, inimiga dos oprimidos. Se o PSTU defende a PM, já não temos nada a ver com isso.

Esclarecida a questão da palavra de ordem, ainda resta esclarecer as ofensas. Em outra parte do texto, a APAP dá mais uma dica de que ofensas seriam essas:

“Não acreditamos que qualquer diálogo franco e sério possa se estabelecer a partir de palavrões e comportamento tão reprovável.”

Se as ofensas forem “palavrões”, a APAP então certamente se refere ao criativo e bem humorado grito de guerra “PSTU, vai tomar no c*”. Uma reação, como é óbvio, dos manifestantes à atitude de Bruno Otoni diante da barreira policial.

Ainda que a reação seja legítima, cabe aqui mais um esclarecimento. Quem puxou o grito de guerra não foram os militantes do PCO. Eles sequer gritaram tal palavra de ordem. Foram dezenas de manifestantes, a maioria dos quais integrantes do bloco de estudantes grevistas.

Associar o PCO a tais ofensas, portanto, já não é mera manipulação. É pura mentira.

A única questão que fica em aberto é: por que a APAP decidiu escrever uma nota tão caluniosa? Só podemos pensar em duas conclusões. Ou seus integrantes decidiram propositalmente falsificar os acontecimentos para defender interesses inconfessáveis, ou simplesmente escreveram uma nota com base em relatos externos. Preferimos acreditar que tenha sido o segundo caso.

Ainda que a APAP não tenha sido a autora das falsificações, fato é que se espera de qualquer movimento social que apure os fatos antes de emitir uma nota pública. Os integrantes da APAP têm o meu contato, sabem que sou do PCO. Foram, inclusive, convidados pessoalmente por mim para comporem a organização do ato desde o primeiro momento. Poderiam muito bem ter entrado em contato e perguntado se alguma das acusações procedia.

Lamento que tenham optado por outro caminho e aproveito a oportunidade para pedir publicamente uma reunião com a Diretoria Executiva da APAP, que assina a nota, a fim de esclarecer a que se deve a campanha caluniosa contra o PCO.

Por fim, destaco que, se a APAP de fato apenas agiu de maneira precipitada, com base em informações erradas difundidas maliciosamente, não há dúvidas de qual é a fonte. Trata-se do grande interessado em caluniar o PCO nessa história toda, visto que é quem saiu mais desmoralizado por sua política reacionária: o PSTU.

Afinal, a quem interessa esconder que, diante do bloqueio policial, o PSTU se acovardou e passou a chamar os brucutus de “companheiros”? A quem interessa caluniar o Partido que se colocou frontalmente contra essa política vergonhosa? Ora, o próprio PSTU.

A nota da APAP, portanto, se não é – e preferimos crer que não seja – ela própria um provocação contra o partido mais ativo na defesa do povo palestino, é uma correia de transmissão das intrigas difundidas pelo PSTU. Intrigas essas que os próprios integrantes do PSTU, incluindo Bruno Otoni, reproduziram publicamente na referida plenária.

Para não admitir que atuou como um colaborador do sionismo, do governo reacionário de Raquel Lyra (PSDB), da Polícia Militar fascista de Pernambuco e do imperialismo norte-americano, os integrantes do PSTU estão por aí acusando até de “homofobia” quem se revoltou contra o que Otoni falou no carro de som. Uma política, inclusive, que muito se assemelha à do sionismo, que classifica como “antissemita” toda oposição legítima aos seus crimes. Da mesma forma, os integrantes do PSTU têm acusado os militantes do PCO e os estudantes grevistas de “desrespeitosos” e “arrogantes”, o que muito se assemelha à campanha do imperialismo contra os combatentes islâmicos, que seriam “bárbaros” e “selvagens”. Afinal, para a burguesia, “civilizado” é ser morto calado. Para o PSTU, “respeitoso” é aplaudir os “trabalhadores” da Polícia Militar.

Chama também a atenção que o PSTU vem espalhando intrigas no exato momento em que o PCO é alvo de uma campanha intensa de provocações por parte dos representantes do imperialismo e do sionismo no Brasil. O jovem dirigente João Pimenta se tornou alvo de uma queixa-crime protocolada por 27 deputados bolsonaristas após ter pedido uma salva de palmas para o Hamas. Uma dirigente que publicou uma foto homenageando a Operação Dilúvio de al-Aqsa foi suspensa da rede social X. O canal do Partido e seus canais parceiros no YouTube foram todos “desmonetizados”. O número do Diário Causa Operária no aplicativo de mensagens WhatsApp foi banido. O sítio da Loja do PCO foi derrubado. Jornais como O Antagonista e O Globo publicam, sistematicamente, artigos caluniando o PCO. Por fim, nesta semana, um dos mais importantes portais da cúpula das Forças Armadas publicou uma notícia em que expressa sua preocupação com a atuação do PCO no Brasil e a defesa que faz do Eixo da Resistência.

As intrigas do PSTU, sejam elas para tentar abafar a crítica à sua política de colaboração com os inimigos do povo brasileiro, sejam elas por qualquer outro motivo, servem apenas para aumentar o cerco contra o partido que é perseguido pelo regime político não por seu “comportamento desrespeitoso”, mas pela defesa incondicional e incontestável que faz da resistência palestina.

A tentativa de indispor os apoiadores da causa palestina e o conjunto da esquerda contra o PCO e contra as organizações que não baixam a cabeça para os sionistas não irá funcionar. Afinal, os cães ladram e a caravana passa.

Seguiremos inabaláveis no apoio incondicional à resistência palestina e na luta contra os inimigos do povo brasileiro.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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