No dia 14 de março, funcionários da Avibrás, uma das maiores empresas da indústria de defesa do Brasil, fizeram uma manifestação em frente a seu local de trabalho, localizado em São José dos Campos, no Vale do Paraíba, em São Paulo. O protesto reuniu cerca de 100 funcionários e, segundo o sindicato, visa reivindicar o pagamento de salários atrasados, com muitos sem receber há pelo menos 11 meses.
A Avibrás é uma empresa privada de engenharia bélica de veículos, mísseis e foguetes em atividade há mais de 50 anos no Brasil. Situada em São José dos Campos (SP) e com instalações em Jacareí e Lorena, cidades do Vale do Paraíba, a empresa é reconhecida internacionalmente por sua tecnologia e possui o certificado de Empresa Estratégica de Defesa (EED), emitido pelo Ministério da Defesa do Brasil. Porém, todo o conhecimento altamente especializado da empresa e o reconhecimento mundial do seu trabalho não são extensivos aos seus trabalhadores, que há meses lutam para serem pagos pelo trabalho que realizam.
Devendo quase R$ 400 milhões, dos quais R$14,5 milhões referem-se a dívidas trabalhistas, há cerca de dois anos, os donos da Avibrás protocolaram um pedido de recuperação judicial, isto é, uma espécie de licença para atropelar os direitos trabalhistas, sob a alegação de falência iminente. No histórico da empresa em relação aos trabalhadores, consta de pedidos de recuperação judicial que demitiram centenas de operários, reintegrados por uma ação movida pelo Sindicado dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região.
Segundo o sindicato da categoria, ao todo, cerca de 800 trabalhadores estão em greve e outros 400 funcionários estão em layoff, que é uma suspensão temporária dos contratos de trabalho, acordada junto à empresa, para evitar mais demissões. Para esses funcionários afastados, contudo, o prazo para encerrar a sua estabilidade encerra no mês atual. Isto é, de acordo com o acordo firmado, eles poderão ser demitidos em poucas semanas. Desde então, os trabalhadores foram migrados para o regime de layoff, estratégia comumente utilizada por empresas em situação de crise e sob recuperação.
A “gota d´água” foi o cancelamento, no último dia 14, da reunião que aconteceria entre a Avibrás e o Sindicado dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região. Nesse mesmo dia, a empresa fechou os portões para impedir a realização de uma assembleia da categoria.
Acertadamente, os trabalhadores ocuparam o pátio da empresa e permanecem reunidos desde o dia 14 de março no local. Dentre as denúncias, os trabalhadores apontam que muitos estão recorrendo ao mercado informal para conseguir manter suas famílias. Nas reivindicações, está o pagamento de salários devidos pela empresa.
A Avibrás responde aos trabalhadores com informações sobre a entrada de um possível investidor na empresa que normalizará a situação. Como de costume, condenou a “invasão” do pátio da empresa e alegou nunca ter deixado os trabalhadores sem informações sobre a situação.
Aqui temos dois pontos importantes: a fragilidade de um plano de recuperação ancorado na entrada de um investidor. Esse investidor assumirá a dívida com os trabalhadores? Provavelmente, não. E, se o fizer, a empresa certamente dividirá em parcelas a perder de vista. Outro ponto é a transformação do movimento de greve em atos de vandalismo e truculência, na tentativa de criminalizar os trabalhadores, que são as vítimas da situação. Prestar informações sobre a situação é obrigação, não benefício. O que a empresa não apresentou foi solução para o problema, o que levou os trabalhadores ao limite e até ao desespero, como dizem nos depoimentos.
Da situação é possível extrair a importância dos trabalhadores se manterem organizados e acionar os respectivos sindicatos. Além disso, visualizamos na prática a comprovação recorrente de que os trabalhadores não são e nunca serão prioridades no modo de produção capitalista.
A situação dos operários da Avibrás é, por sua vez, um complemento da situação falimentar da empresa de armamentos pesados. O estado deplorável em que se encontra a empresa é resultado da destruição sistemática da indústria brasileira, incluindo a indústria de defesa. Em um processo liderado pelos EUA, cujo objetivo é esmagar a concorrência dos países atrasados. O caso de maior destaque no Brasil é, sem dúvidas, o do tanque Osório, sabotado de todas as formas pelo imperialismo norte-americano até falir a empresa que o construiu.
A esquerda deve apoiar a greve dos trabalhadores da Avibrás e denunciar o fato como mais uma investida da burguesia, e do imperialismo, contra a classe trabalhadora. É preciso ainda estatizar a empresa, entregando-a ao controle operário para as dificuldades serem superadas. A situação demanda ainda a urgência de um novo plano de industrialização do país, que reaqueça a economia do País.