Daniel Defoe nasceu em Londres, em 1660. Filho de uma família dissidente da igreja Anglicana, Defoe, com cerca de 20 anos, passou a integrar o grupo chamado de dissenter (dissidentes), formado por protestantes não anglicanos que eram contra a igreja.
Em sua atividade política, passou a publicar panfletos que lhe renderam várias idas à prisão. As suas opiniões feriam o poderio da Igreja Anglicana, que respondia com pregações contra os “dissidentes”, colocando-os como infiéis e maléficos à “sagrada” religião e igreja Anglicana. Uma das publicações de Defoe gerou um forte contra-ataque dos poderosos. Defoe foi processado pela Corte dos Comuns devido à publicação do panfleto Shortest Way with Dissenters (Caminho mais curto para os dissidentes, em tradução livre), em 1702. O texto satirizava o alto escalão da igreja anglicana e levou Defoe à prisão, interrogatórios e, por fim, ao Pelourinho, local situado em Charing Cross, centro de Londres, onde convergiam três grandes ruas, impossível de não ser visto pela população que circulava em Londres. No pelourinho, sofreu execração pública.
No entanto, diferente de todos que chegavam ao Pelourinho, aos quais eram atiradas pedras e frutas podres, Defoe saiu aclamado. Ele escreveu um texto intitulado Hino ao Pelourinho (1703) que, durante três dias, era vendido pelos seus amigos enquanto ele estava lá, exposto. Isso fez com que a população o apoiasse, tornando-o um herói da verdade. Recebia flores jogadas diariamente pelos transeuntes e as pessoas passaram a brindar sua saúde. O tiro da censura e punição saiu pela culatra.
Após sair da prisão, Daniel Defoe fundou o que muitos dizem ser o primeiro jornal moderno da Inglaterra. O ativista, agora jornalista, continuou publicando seus panfletos e colocando à vista suas opiniões. Mas foi em 1719 que se tornou celebridade internacional com a publicação do romance Robinson Crusoé, que conta a história de um náufrago que ficou 28 anos perdido em uma ilha tropical, onde encontrou canibais e revoltosos antes do seu resgate. Uma espécie de autobiografia fictícia do autor.
A história de Daniel Defoe nos mostra um homem obstinado com suas ideias e com a importância de propagá-las em Londres e, depois, no mundo. Sua inteligência, perspicácia e coragem de se posicionar frente ao poder da Igreja Anglicana lhe rendeu problemas, punições e humilhações, que, na mão de um prisioneiro incomum como ele, foram transformadas em força.
A censura é uma força antiga, que evolui e se apresenta conforme seu tempo. Não existe mais o Pelourinho físico. Existe, agora, uma rede rápida, longa e obstinada em destruir qualquer um que levante ideias contrárias à burguesia. Com Defoe, as estratégias foram julgamento rápido e injusto, prisão e humilhação física pública. Hoje, são as mesmas estratégias, aprimoradas para julgamentos sem cortes, execração pública, isolamento comunicacional e difamação por programas, matérias e até reportagens manipuladas para criar mentiras. Por fim, se nada surtir o efeito desejado, sobra a prisão.
O Partido da Causa Operária (PCO) é uma vítima recorrente deste sistema de censura, com suas redes sociais bloqueadas, desmonetizadas e seus dirigentes perseguidos politicamente por meio, por exemplo, de acusações de “racismo” e de “machismo” e, até mesmo, por meio de agressões físicas.