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Ascânio Rubi

Ascânio Rubi é um trabalhador autodidata, que gosta de ler e de pensar. Os amigos me dizem que sou fisicamente parecido com certo “velho barbudo” de quem tomo emprestada a foto ao lado.

Coluna

Qual é a língua da Amazônia?

Campanha de desmoralização da cultura brasileira, que teria sido erguida sobre o genocídio de índios e negros, cria desapego da identidade nacional

A Embaixada dos Estados Unidos, por meio de seu Escritório Regional de Ensino de Língua Inglesa, vem patrocinando cursos de inglês destinados especificamente às populações indígena, ribeirinha, quilombola ou de comunidades extrativistas, extensivos aos ativistas acadêmicos da região da Amazônia Legal. A ONG Mais Unidos, que põe em prática o projeto Access, como não poderia deixar de ser, recebe o apoio de várias entidades – Usaid, Bank of America, Alcoa, Citi, Exxon Mobil, General Eletric, Gerdau, Hilton, Microsoft e BNP Paribas, entre outras. O curso, anunciado nas redes sociais, inclusive por índios, apresenta-se como um investimento na carreira dessas pessoas.

Se a agenda ambientalista precisa defender a manutenção dessas populações no seu território, como “guardiães da floresta” – e, para tanto, investe no discurso de idealização da vida saudável dessas pessoas, que permaneceriam em contato com a natureza e teriam “saberes ancestrais” que as fariam prescindir das conquistas da civilização –, como se explica que esses mesmos indivíduos precisem saber inglês para ter oportunidades de trabalho etc.? O motivo de estudarem a língua do Tio Sam, claramente, não é esse.

Existe um processo de seleção, em que são escolhidas pessoas-chave, que possam servir de “embaixadores” da política imperialista, manifesta na agenda decolonial-ambentalista-identitária. No próprio site da ONG Mais Unidos, explica-se que “o curso tem uma metodologia exclusiva focada na aprendizagem da língua por meio de temáticas voltadas ao meio ambiente, sustentabilidade e liderança, além de discussões sobre identidade e representação midiática”.

Não é difícil imaginar que, sob o atrativo manto de um curso de inglês gratuito oferecido pela Embaixada dos Estados Unidos, seja feito um trabalho de doutrinação. Uma das exigências do curso é que os participantes (de 20 a 40 anos de idade) não tenham conhecimento algum de inglês ou tenham, no máximo, noções básicas do idioma.

Na região oeste do estado do Pará, um grupo de “voluntários” da mineradora Rio do Norte também vem oferecendo aulas de inglês para crianças quilombolas a título de filantropia. Convém lembrar que a Vale, que detinha 40% da Rio do Norte, vendeu, no ano passado, todas as suas ações para a suíça Glencore, que também adquiriu os 5% de participação da norueguesa Hydro Norsk na empresa, afinal produtora de bauxita de menor carbono, minério considerado importante para a transição energética.

Esses cursos de inglês doados para populações humildes da região amazônica parecem fazer parte de um projeto maior. De alguns anos para cá, até os nomes das etnias indígenas, antes adaptados à língua portuguesa, mudaram de grafia (vejam-se os sites das ONGs e a imprensa burguesa), de modo que “caiová” ou “caiouá”, por exemplo, passou a Kayowáa, forma mais próxima do alfabeto fonético internacional. Até o RG brasileiro agora vai ser impresso em inglês.

Esses pequenos movimentos, somados a uma campanha de desmoralização da cultura brasileira, que teria sido erguida sobre o genocídio de índios e negros, vai criando certo desapego da identidade nacional, muito útil para preparar a população para a internacionalização da Amazônia, território em que, por óbvio, se falaria o inglês. Daí o esforço da embaixada em ensinar os rudimentos da língua para índios, ribeirinhos e quilombolas…

Se depender da moderna intelectualidade pequeno-burguesa, de viés identitário-decolonial, hoje instalada nas universidades públicas, o projeto imperialista avança sem obstáculos.

 

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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