Está marcado para hoje, 8 de janeiro, um ato em Brasília, que tem o chamado “Democracia Inabalada”, com a presença de golpistas e golpeados, o ato tem um objetivo não declarado: trazer à vida a direita científica, a direita tradicional, autoproclamada democrática e que perdeu peso eleitoral, especialmente após a polarização do país entre Lula e Bolsonaro.
Em recente evento que antecedeu este ato, Lula afirmou, “estou convidando todos os governadores, porque dia 8 de janeiro vamos fazer um ato aqui em Brasília para lembrar o povo que tentou-se dar um golpe no dia 8 de janeiro e que ele foi debelado pela democracia desse país”. Um dos presentes neste evento foi Tarcísio de Freitas (Republicanos), atual governador de São Paulo.
Na realidade, o ato tem um caráter abertamente institucional, a ser realizado no Congresso Nacional e no Supremo Tribunal Federal (STF), ele mesmo responsável pelo golpe de 2016 e agora aparece com a chamada, em seu site, com a campanha “Democracia Inabalada”. Segundo a corte, “o livro, o documentário, demais vídeos e materiais de divulgação, como cards para redes sociais, estão disponíveis para compartilhamento por entidades, outros tribunais, órgãos públicos e quaisquer interessados em aderir à defesa da democracia”.
A página do Senado Federal, que sediará o ato, apresenta o mesmo com sendo convocado por Lula, pelo Presidente da Mesa do Congresso Nacional, Senador Rodrigo Pacheco (PSD), e do Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Luís Roberto Barroso. Ainda diz que o evento é restrito para pessoas convidadas.
Quer dizer, outro moribundo a ser recuperado do golpe de 2016 é o próprio STF, que apoiou todos os golpes que o Brasil sofreu, especialmente o de 2016, e agora aparece com uma campanha cínica de defesa da democracia.
Convidado curioso para o ato de segunda-feira é o senhor Ibaneis Rocha (MDB), governador do Distrito Federal e um dos mais intrigantes personagens dos fatos de janeiro do ano passado. Inclusive foi afastado à época. Ibaneis não irá participar da festa, por estar de férias em Miami, Estados Unidos.
Diante disso, a esquerda brasiliense já ficou triste. “A tentativa de golpe foi algo tão grave que resultou no afastamento de Ibaneis Rocha do cargo, sem falar em todos os danos gerados ao país. A presença do governador no ato em defesa da Democracia seria um gesto importante”, apontou o deputado distrital Fábio Félix (PSOL).
O PT também lamentou a ausência de Ibaneis, o qual é um golpista para toda hora. “A ausência é um símbolo do pouco apreço do governador com esse processo de reconstrução do Brasil, de fortalecimento das instituições democráticas, ainda mais nesse dia simbólico que o mundo todo estará voltado para Brasília para entender as respostas que o país deu diante da tentativa de golpe de Estado”. Disse Gabriel Magno (PT), líder da Minoria na Câmara Legislativa do DF.
Além de militares, cuja presença em um ato pela democracia é no mínimo sinistra, entre os golpistas que participarão do ato de defesa da democracia está o senhor governador Eduardo Leite (Rio Grande do Sul) e Raquel Lyra (Pernambuco), ambos do PSDB. O bom e velho tucanato nacional, por que não? Destruidor do Brasil, o PSDB passa incólume de qualquer investigação, historicamente, e ainda será uma presença marcante na democracia inabalada.
Na verdade, por muito tempo essa é a melhor oportunidade para todos os que tiveram sua trajetória política abalada por envolvimento no golpe de 2016. Verdadeira hora de “virar a página do golpe”, esquecer tudo e defender a democracia inabalada.
O Partido dos Trabalhadores erra com a política genérica da defesa da democracia. Erra ainda mais quando chama golpistas e golpeados para um ato em que obviamente quem irá se beneficiar são os golpistas de outrora, agora tidos como exemplos de democratas.
Na realidade, um ato com essas características dão a nítida impressão de que o governo é fraco e está buscando ajuda até mesmo de gente que ajudou a manter Lula ilegalmente preso por mais de 500 dias.
Outra questão é que é realmente escandaloso chamar, convidar, participar de um ato supostamente em defesa da democracia com militares. Por fim, e não menos intrigante, é que tudo faz alusão aos acontecimentos de janeiro do ano passado, mas o golpe que realmente foi dado, em 2016, foi esquecido. Seus autores, diretos e indiretos, apoiadores, enfim, tudo são águas passadas.
O perigo agora está nas pessoas desarmadas que foram fazer uma manifestação na Praça dos Três Poderes, em Brasília, sem qualquer objetivo político claro, tendo quebrado umas coisas e só.
Na realidade, o único resultado desse ato é a reciclagem e a volta de vários mortos-vivos do golpe, especialmente em ano eleitoral. Para depois, conforme a vontade da burguesia, aparecerem com outra justificativa para derrubar o PT, de novo. E se, para um novo golpe de Estado, Bolsonaro pode ser impedido de ser seu mentor, a direita tradicional já está a postos e começou bem: defendendo a democracia.