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Fábio Picchi

Militante do Partido da Causa Operária (PCO). Membro do Blog Internacionalismo e do Coletivo de Tecnologia do Partido da Causa Operária. Programador.

Coluna

Problema não é controle, mas quem controla

Congresso dos EUA aprova “banimento” do Tiktok em escalada de censura contra a população norte-americana

Na última semana houve um acontecimento raro no Congresso norte-americano: um projeto de lei foi aprovado sem resistência, com apoio da ampla maioria dos deputados. O atrito nas aprovações é recorrente porque a câmara é composta por um número praticamente igual de congressistas democratas e republicanos, com pequena vantagem dos últimos. O tema deixa claro o porquê da unanimidade: o TikTok, rede social de propriedade da empresa chinesa ByteDance.

Já há algum tempo o Congresso norte-americano discute o banimento do aplicativo que é uma febre entre os jovens não apenas naquele país. Só nos Estados Unidos já são mais de 150 milhões de usuários. Inicialmente, funcionários do governo norte-americano foram proibidos de ter o aplicativo em seus celulares, mas ainda havia muita discussão sobre a influência do “Partido Comunista da China” – segundo os próprios políticos norte-americanos, ao melhor estilo macarthista – sobre os jovens norte-americanos.

Não é segredo para ninguém que o governo chinês controla muito bem o que trafega a rede de computadores dentro de suas fronteiras. Sempre há como burlar esses bloqueios, mas o usuário comum, sem muito conhecimento técnico, enxerga a Internet autorizada pelo governo. Isso acontece em todo o mundo, mas só tomamos consciência da amplitude e profundidade da vigilância online do lado de cá do mundo após as denúncias de Edward Snowden, ex-funcionário dos serviços de inteligência dos Estados Unidos.

As redes sociais norte-americanas são completamente empasteladas. Basta ver o Facebook, cada dia menos utilizado dado o controle do debate público. O bilionário Elon Musk comprou o Twitter, hoje X, sob a premissa de garantir a liberdade de expressão na rede, promessa que se não cumpriu em sua totalidade, cumpriu até o ponto que garante a manutenção do interesse das pessoas em utilizar a plataforma. Antes da transação, o Twitter foi o centro de uma das campanhas de perseguição mais absurdas deste século, o esforço do establishment norte-americano para censurar o ex-presidente republicano Donald Trump. Sua conta no Twitter, com mais de 80 milhões de seguidores, foi simplesmente derrubada e sua tentativa de criar uma rede social alternativa – esforço possível para um bilionário como ele – foi sabotada pelos grandes monopólios de hospedagem de computação em nuvem, nomeadamente Amazon, Microsoft e Google. Google e Apple também cumpriram sua parte no banimento do aplicativo da rede, o Parler, de suas lojas digitais.

Fica claro que o controle da internet, a defesa da democracia, não é o centro da discussão. O problema é quem está no controle, quem filtra as informações. No caso do TikTok, quem faz o controle não são as agências de inteligência norte-americanas, ao menos não de forma predominante. Basta ver como a circulação de material em defesa da Palestina nesse rede é muito mais fácil, ao ponto de um representante do lobby sionista AIPAC declarar abertamente que o TikTok “era um problema” para a campanha em defesa de Israel, isto é, a campanha de difamação dos grupos de resistência palestinos, em particular o Hamas.

Não há nada de propagada do Partido Comunista Chinês. Inclusive, sob pressão do governo norte-americano, a ByteDance já empregou mais de US$1,5 bilhão para mover o armazenamento e processamento de dados dos usuários dos EUA para solo norte-americano. O algoritmo de sugestão do TikTok, as joias da coroa para um empreendimento como esse, é o problema porque finalmente não está sob controle do imperialismo. Vale lembrar que alguns meses atrás a carta de Osama Bin Laden viralizou na rede social, no que jovens norte-americanos até mostraram certa empatia pelas colocações do antigo líder da Al Qaeda sobre a opressão imposta pelo imperialismo sobre os povos do Oriente Médio.

A lei foi aprovada no Congresso e deve passar facilmente pelo Senado e pelo presidente Joe Biden, que antecipadamente anunciou sua aprovação. A ByteDance tem seis meses para vender toda a operação do TikTok nos Estados Unidos para uma empresa norte-americana ou Apple e Google entraram em cena para bloquear atualizações do aplicativo, algo que forçaria a empresa a manter um serviço nos EUA, desatualizado, e outro no resto do mundo. Não há nada no texto sobre forçar a desinstalação do aplicativo dos celulares dos usuários, mas é possível que a ByteDance sofra um embargo como o do Parler e não possa mais hospedar seus serviços, tornando inútil o aplicativo.

Pode parecer uma demonstração de força, mas a caça aos concorrentes chineses por motivos políticos – ainda que em segundo plano por motivos econômicos – mostra a debilidade do imperialismo. Afetar dessa forma mais de 150 milhões de norte-americanos, muitos dentre eles que ganham a vida fazendo vídeos e comercializando produtos no TikTok, terá um custo alto. O imperialismo gostaria de uma saída mais amena para o problema, mas essas vias se fecharam há muito tempo e quanto mais força tentarem demonstrar, mais serão atropelados pela enxurrada de alternativas que devem aparecer para contornar o controle da Internet. 

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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