Como desdobramento da Operação Tempus Veritatis, que levou à prisão do presidente do Partido Liberal, Valdemar Costa Neto, e à apreensão do passaporte do ex-presidente Jair Bolsonaro, foi divulgado nessa sexta-feira (9) a gravação de uma reunião ministerial em que Bolsonaro cobra uma ação de seus aliados frente ao cerco montado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) contra ele. A reunião ocorreu em julho de 2022.
Ao contrário do que vem sendo alardeado pela imprensa, o vídeo não prova que houve uma “tentativa de golpe”. Mostra apenas uma preocupação de Bolsonaro com uma perseguição que viria das instituições do Estado. Perseguição essa, diga-se de passagem, que foi comprovada, por exemplo, quando Bolsonaro foi tornado inelegível sem que fosse comprovada qualquer irregularidade eleitoral.
No vídeo, Bolsonaro afirma que:
“Nós sabemos que, se a gente reagir depois das eleições, vai ter um caos no Brasil. Vai virar uma grande guerrilha, uma fogueira, o Brasil. Agora, alguém tem dúvida de que a esquerda, como está indo, vai ganhar as eleições? Não adianta eu ter 80% dos votos. Eles vão ganhar as eleições.”
Em outro momento, Bolsonaro também afirma que:
“Alguém tem dúvida do que vai acontecer no dia 2 de outubro? Qual resultado que vai estar às 22h na televisão? Alguém tem dúvida disso? Aí a gente vai ter que entrar com um recurso no Supremo Tribunal Federal. Vai pra p…. Ninguém quer virar a mesa, ninguém quer dar o golpe. Ninguém quer botar a tropa na rua, fechar isso, fechar aquilo. Mas nós estamos vendo o que está acontecendo. Vamos esperar o quê?”.
O que a gravação efetivamente demonstra é que, no dia 8 de janeiro, não havia nenhum plano de golpe de Estado de fato. Afinal, o próprio Bolsonaro teria dito, na reunião, que a ação deveria acontecer antes da posse de Lula, e não depois. Se não houve a tal tentativa de golpe antes das eleições, quando as circunstâncias seriam mais favoráveis, por que ocorreria depois?
Sobre isso, o presidente nacional do Partido da Causa Operária, Rui Costa Pimenta, acrescentou, durante participação em programa da TV 247:
“Bolsonaro teria procurado os generais, teria discutido formalmente a realização de um golpe de Estado, e os generais teriam se negado e o plano teria fracassado. Essa é a versão. Não estou dizendo que é o que eu acho que aconteceu, nem nada. Essa é a versão. Bom, a gente então teria que demonstrar que, de julho para janeiro, os generais mudaram de opinião […] Antes da eleição, eles teriam tentado criar um consenso nas Forças Armadas. Eu acho que fazer uma reunião dos três generais para dar um golpe é um negócio meio idiota, mas enfim, vamos supor. Os generais falaram que não e não mudaram de opinião, então eles já sabiam que o negócio não ia dar certo e eles não deram o golpe. Não tentaram dar o golpe porque eles não tinham apoio dos generais.”
Embora não haja nada provado sobre o envolvimento de Bolsonaro em uma tentativa real de golpe de Estado, ao que tudo indica, o ex-presidente será preso. Há, evidentemente, uma ofensiva da Polícia Federal contra aliados de Bolsonaro e contra ele próprio, que já vinha sendo levada adiante durante as investigações do escândalo de espionagem da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
Diante da provável prisão de Bolsonaro, setores de esquerda iniciaram uma contagem regressiva para ver o ex-presidente atrás das grades. Para tais setores, a prisão de Bolsonaro seria o fim do bolsonarismo e, portanto, a superação de um problema político de grande envergadura no País.
Acontece que caracterizar Bolsonaro como o maior inimigo do povo brasileiro já é, em si, uma fraude. Apesar de o bolsonarismo ser algo profundamente negativo, o que há de pior no País é a ação do imperialismo e de seus representantes, que foram responsáveis pelo golpe de 2016, que prenderam o presidente Lula e que também apoiaram a vitória de Bolsonaro em 2018.
Ainda que Bolsonaro seja um adversário secundário, sua prisão também não seria nenhuma grande vitória.
Antes de qualquer consideração sobre o assunto, Rui Pimenta, no mesmo programa, destacou a necessidade de manter os direitos democráticos:
“Queria lembrar a todos a declaração do Lula que eu faço minha que é o seguinte: ‘espero que Bolsonaro tenha o mais amplo direito de defesa que eu não tive no meu processo e que se for provado que crimes foram cometidos, que ele seja condenado. Eu tenho a mesmíssima posição do Lula, só que diferentemente do Lula, eu não acho que mesmo que o Bolsonaro seja condenado, o problema vai embora.”
Rui Pimenta, então, utilizou o caso da perseguição ao próprio presidente Lula para demonstrar como a prisão de Bolsonaro não eliminaria o problema:
“O Lula foi preso, mas o Lula é liderança de um partido político. Quer dizer, então teve uma carta, o presidente Lula indica Fernando Haddad como seu candidato e tal… Assim pode ter uma cartinha do Bolsonaro trazida pelos filhos dizendo: ‘olha, estou aqui, nessa masmorra, como um perseguido político, e minha candidata é a Michele’ […] Vai acontecer, vai acontecer, vai ter um movimento pelo cancelamento da pena de prisão dele, a luta vai continuar, vai se recrudescer.”
