Neste sábado (23), todas as capitais do Sudeste e do Nordeste, bem como as cidades de Porto Alegre e Curitiba, Brasília, Campo Grande e Goiânia, e Belém, Boa Vista, Macapá, Manaus e Palmas, além de diversas cidades interioranas, terão manifestações convocadas pela esquerda. No Sul, a exceção é Florianópolis, cuja atividade ficou marcada para o dia 22. Em pauta, um País sabotado, ainda sofrendo os reveses do golpe de Estado de 2016 e em busca de uma saída progressista para a crise política que se arrasta desde a década passada.
Para cumprir esse objetivo, o Partido da Causa Operária (PCO) e os comitês de luta participarão das manifestações, defendendo a soberania nacional, ameaçada – entre outros – pela direção do golpista Roberto Campos no Banco Central (BC) e a Petrobrás privatizada. Indicado por Jair Bolsonaro (PL) à presidência do BC, Roberto Campos tem se destacado na campanha de sabotagens contra o Brasil pela via da asfixia econômica. À frente da autoridade monetária brasileira, o bolsonarista vem mantendo a taxa básica de juros (SELIC) nas alturas, minando a capacidade da economia brasileira crescer e gerar empregos.
A ex-estatal, por sua vez, foi posta no centro dos debates políticos por uma razão extremamente modesta: o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, decidiu não pagar agora dividendos extraordinários aos parasitas que, do estrangeiro, drenam a empresa brasileira. A crise aberta pela decisão de Lula recolocou a questão da soberania nacional no centro da luta política no País.
Um dos principais órgãos de propaganda do bolsonarismo, a Revista Oeste repercutiu no último dia 13 uma matéria do principal órgão de propaganda da direita tradicional, o jornal Estado de S. Paulo, para atacar “Lula por declarações sobre a Petrobras que colocam ideologia na frente de interesses da estatal” (“Estadão: Lula quer pôr a Petrobras a serviço da ideologia, como fez a ditadura da Venezuela”). Mais do que simples veículos de comunicação unidos, são setores antagônicos da burguesia que se uniram para centrar fogo contra o governo eleito pela mobilização dos trabalhadores.
A união, como se vê, não decorre de outro fenômeno, mas da preservação dos interesses imperialistas, contra os do País e do povo. Mais demagogo, o bolsonarismo atribui a si a defesa da nação, mas revela em episódios como o da Petrobrás serem verdadeiros capachos dos EUA. A direita tradicional, por sua vez, sequer disfarça.
“A queda no valor das ações da Petrobrás (…) é a resposta da opinião pública”, escreveu o colunista de O Globo, Merval Pereira (“Interferência indevida”, 12/3/2024), acrescentando:
“Dizer que a estatal deveria pensar antes no povo do que nos acionistas é o tipo de frase que define bem o que pensa do capitalismo nosso presidente, capaz de afirmar que tem o compromisso de reduzir o preço da gasolina e do diesel para o consumidor, mesmo à custa do prejuízo da Petrobras. Lula não vê motivos para manter o preço alinhado ao mercado internacional, embora seja esse o mercado que a estatal disputa, tendo até acionistas estrangeiros.”
Para Pereira e também para O Globo, para a Revista Oeste e principalmente, para os patrões da direita, o imperialismo, os banqueiros norte-americanos e europeus majoritariamente, primeiro eles próprios, os vampiros aqui apresentados como “acionistas”. Interesses do povo como a satisfação das necessidades básicas e desenvolvimento para melhorar as condições de vida sequer são cogitados e se isso acontecer, toda a artilharia golpista da imprensa burguesa contra Lula.
O fenômeno foi também observado pelo presidente nacional do PCO, Rui Costa Pimenta. Em seu programa semanal no canal de esquerda TV 247, Pimenta destacou o “movimento organizado” existente:
“Há um movimento organizado de desgaste do Lula. Se o governo estivesse avançando, mesmo que tivesse esse movimento, o efeito dele seria menor. O ouvido da pessoa é mais receptivo a apreciações negativas quando a situação não favorece. Se o País estivesse andando para frente, houvesse mobilização, etc., a opinião da população não seria tão negativa, mesmo com a campanha. Quer dizer, tem a campanha e tem a realidade. Se isso tudo for correto, Datafolha é tipo o Estado de ‘Israel’, não se sabe se estão falando verdade.”
Finalmente, o coordenador da Corrente Sindical Causa Operária e dirigente do PCO, Antônio Carlos, destaca a importância do ato como meio de luta contra o “cerco ao governo Lula”:
“O ato foi convocado em uma reunião nacional das frentes, no momento em que havia uma preocupação muito clara diante da manifestação realizada pelo bolsonarismo. Nesse momento, contudo, não é só o bolsonarismo que infelizmente pressiona o governo. O bolsonarismo também é pressionado, vítima de um processo claro de perseguição política. O governo Lula sofre uma enorme pressão política da parte da burguesia golpista, dos mesmos setores inclusive que pressionam, procuram estabelecer um cerco contra o Bolsonaro e o objetivo desse cerco ao governo Lula, principalmente, é fazer o governo retroceder nos mínimos avanços que o governo fez para conter a política de entrega da economia nacional. O caso mais claro é o caso da Petrobrás.”
Carlos continua:
“Mesmo tendo pago R$98 bilhões de dividendos aos acionistas e especuladores no ano passado, ao reter uma pequena parte dos lucros extras da empresa, coisa de R$45 bilhões, Lula está sendo alvo de uma intensa campanha. Por isso, defendemos que a manifestação do Dia Nacional de Luta fosse chamada em cima de reivindicações de interesses bem concretos do povo brasileiro, a reestatização da Petrobrás, a nacionalização do petróleo, do fim da roubalheira que é a entrega da riqueza do petróleo e da economia nacional dos abutres, dos especuladores que tomaram conta das ações da empresa. É preciso parar essa sangria e mobilizar com a defesa do povo palestino, uma questão concreta, imediata e urgente do país. A defesa de questões como centrais, como o fim da roubalheira na Petrobrás, é uma questão central que o PCO levanta, não só para o ato desse dia 23, mas como parte da luta em toda a situação nacional.”
É justamente para impulsionar essa mobilização que a esquerda precisa ir às ruas neste sábado. Para afirmar os interesses populares como mais empregos, salários condizentes com os custos de vida da nação e moradias, é preciso lutar contra os banqueiros internacionais e pela soberania do País.
Em São Paulo, a principal cidade operária do País, a manifestação acontecerá no Largo São Francisco, perto da estação Anhangabaú do Metrô. Venha e traga seus amigos.